São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008
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ROSELY SAYÃO

Conversas com mães

Conversei com um grupo de mães muito interessadas em educar bem seus filhos menores de cinco anos. O tema da conversa girou em torno de uma questão crucial para elas: o que dá para ensinar e o que não dá para esperar que aprendam nesse período da vida.
Primeiro ponto interessante, que interfere decisivamente na relação das mães com seus filhos: elas trabalham e colocaram seus filhos na escola de educação infantil, mas todas sentem culpa por passar pouco tempo com eles. Esse sentimento, aliás, parece nascer nas mulheres quando elas dão à luz pela primeira vez, não é?
Que invenção é essa do nosso tempo? Afinal, deve sentir culpa quem assume que provocou, intencionalmente ou não, algum mal a alguém, e isso nada tem a ver com o fato de as mães se ausentarem para o trabalho.
Desconfio que essa emoção tão dolorosa seja uma das grandes responsáveis por muitas confusões na educação dos filhos. Por isso, convido à reflexão todas as mães que se sentem culpadas.
Lidar com os filhos já dá muito trabalho e conviver com essa emoção inútil só atrapalha.
Outro ponto da conversa com essas mulheres é que, com estilos de vida muito parecidos, elas tinham mais discordâncias do que consensos quando comentavam o que queriam ensinar aos filhos. Isso significa que não compartilhamos de um conceito de infância -outro fator importante da confusão reinante na relação dos adultos com as crianças pequenas. Tomarei aqui alguns exemplos citados por essas mães para apontar os equívocos que temos cometido em nome de uma boa educação.
Ensinar ao filho que seja generoso e saiba compartilhar brinquedos com colegas ou irmãos é um anseio de muitas famílias que não querem criar um filho egoísta. Mas emprestar exige que a criança tenha posse sobre os objetos, e isso leva tempo para ser aprendido.
Na verdade, para os menores tudo o que está em volta deles ou com eles é só deles, tanto objetos quanto pessoas.
Vamos lembrar que a criança é autocentrada e regida pela busca do prazer e que só aos poucos a realidade passará a fazer parte de sua vida. Por isso, para ensinar uma criança a ceder algo, primeiro é preciso esperar que ela saiba o que, de fato, é seu.
Para tanto, ela não pode ser obrigada a emprestar seus brinquedos e precisa ser levada a deixar o que não é seu quando necessário.
Muitos adultos esperam, também, que a criança aprenda logo que deve cuidar tanto de seus pertences quanto dos da casa. Algumas mães contaram que os filhos, por mais que elas ensinem, quebram os brinquedos, mexem em enfeites delicados e destroem vasos com plantas. Ocorre que, para a criança pequena, viver significa investigar e explorar e é desse modo que elas conhecem o mundo.
Não adianta esperar que aprendam a respeitar as coisas quando estão na função de conhecê-las. Por isso, o melhor é deixar que disponham de seus brinquedos -afinal, são delas ou não?- como queiram e tirar do alcance aquilo com que ainda não sabem lidar. Só depois dessa fase fica possível começar a ensinar a respeitar e a cuidar.
Uma coisa as crianças podem aprender desde pequenas: a obedecer aos pais. Para isso, é preciso que eles mandem com atos e não só com palavras, ou seja, impeçam que a criança faça o que não deve e levem a criança a fazer o que precisa.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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