São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 2006
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Entrevista

Especialista americana explica como os pais podem ajudar seus filhos a superar esse transtorno

Ansiedade adolescente

Ayrton Vignola/Folha Imagem
Adolescentes durante aula de cursinho em SP; vestibular é causa freqüente de ansiedade


RACHEL CAMPELLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Fobias. Tensão para se separar dos pais. Ataques de pânico. Compulsões. Esses comportamentos, que fazem parte do transtorno da ansiedade, atingem cada vez mais crianças e adolescentes. Os números são altos: uma em cada oito pessoas desenvolve o quadro antes da vida adulta. O diagnóstico nessa fase é mais difícil. Muitas vezes, pais e professores não dão a devida importância ao problema ou acreditam estar diante de apenas uma fase mais complicada da infância. A psicóloga norte-americana Jerilyn Ross, presidente da Associação Americana para Transtornos da Ansiedade e autora de diversos livros sobre o tema, afirma que o problema em crianças e adolescentes merece todos os cuidados possíveis para evitar complicações na vida adulta. "A boa notícia é que esses transtornos, embora sérios, são totalmente tratáveis", diz ela. Em entrevista à Folha, Ross explica como a ansiedade atinge crianças e como os pais podem ajudá-las.

 

Folha - O que causa a ansiedade em crianças e adolescentes? Jerilyn Ross - Situações estressantes, como trocar de escola, mudar de cidade ou perder uma pessoa querida, podem dar início ao problema. Isso não significa que um evento dessa natureza seja necessário para desencadear o quadro.
Folha - A ansiedade é genética? Ross - Não. Filhos de pessoas que têm distúrbios de ansiedade, porém, são mais suscetíveis a desenvolvê-los também.
Folha - Quais são os primeiros sinais de ansiedade em uma criança? Ross - Se ela está quieta, com medo ou preocupada constantemente, ou se não consegue se concentrar na escola, tem poucos amigos e aparente dificuldade para participar de atividades rotineiras, os pais devem ficar atentos.
Folha - Há outros sintomas? Ross - Sim. Normalmente, há uma mudança drástica em vários setores. O apetite, o humor e o padrão de sono se alteram. O comportamento, assim como o aprendizado, também tende a piorar. Muitas vezes, a criança age de forma mais imatura e agressiva.
Folha - Como os pais podem ter certeza de que essa mudança não é apenas uma fase difícil e sim um transtorno de ansiedade? Ross - Aconselho os pais a observar três pontos importantes. O primeiro é a duração dos sintomas. Quando é só uma fase, o comportamento inadequado dura apenas algumas horas. Diante do problema verdadeiro, as mudanças são persistentes e ocupam o dia todo. O segundo é o que a criança diz. Preste atenção às reclamações que ela verbaliza ou sinaliza de outra forma. E, por último, observe de perto se os sintomas afetam a vida dela. Quando eles a impedem de fazer tarefas que antes eram feitas com naturalidade, há um problema.
Folha - Quando os pais devem ficar preocupados? Ross - Muitas mudanças físicas e emocionais podem sinalizar para problemas mentais, como a ansiedade. Portanto, se a criança apresenta comportamentos e atitudes muito diferentes das pessoas da sua idade, o quadro merece ser avaliado por um especialista.
Folha - O que ocorre se o problema não for tratado adequadamente? Ross - Pesquisas na área comprovam que sem tratamento essas crianças têm pior desempenho escolar, desenvolvem menos traquejo social e são mais vulneráveis ao abuso de álcool, drogas e cigarro. Além disso, a ansiedade pode levar à depressão.
Folha - Quais são os tratamentos mais eficientes? Ross - Vários estudos afirmam que a terapia consegue alcançar efeitos mais duradouros e ainda previne episódios da ansiedade no futuro. Com sessões regulares, a criança aprende técnicas para conviver com o problema. E tem uma vantagem: não há efeitos colaterais. O ponto negativo é que os resultados só aparecem após meses de tratamento. Já os medicamentos produzem respostas mais rapidamente, embora possam trazer algumas reações adversas. Atualmente, há antidepressivos utilizados para tratamentos pediátricos. Muitos médicos costumam combinar remédios e terapia.
Folha - O que os pais podem fazer pelos seus filhos nessa situação? Ross - O mais importante é ajudá-los a lidar com o problema de forma produtiva. Considero também fundamental descobrir o que causa angústia e medo na criança. Os professores podem ter um papel muito importante nesse período.


Texto Anterior: Cérebro alimentado
Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.