São Paulo, quinta-feira, 12 de março de 2009
Próximo Texto | Índice

OUTRAS IDEIAS

Wilson Jacob Filho

Mais um ponto a favor delas


[...] TENHO VISTO MAIS MULHERES DESABROCHAREM NA FASE MAIS AVANÇADA DA VIDA

Nesse período próximo ao Dia da Mulher, os veículos de comunicação enfatizaram as peculiaridades femininas que explicam e justificam todas as suas conquistas.
Desnecessário enumerá-las, pois são conhecidas por todos. Alguns exemplos, porém, podem ser ilustrativos: "sabe ser enérgica com carinho", "esforça-se para entender os problemas das mulheres", "é aguerrida e não desiste nunca".
Sem querer polemizar, ressalto que essas virtudes poderiam ser mal interpretadas se atribuídas a um homem. Temos, em geral, severas restrições quando eles tentam agir desse modo. Em síntese, ninguém faz melhor do que uma mulher o que ela melhor faz.
Mais importante, porém, é constatar que as falsas diferenças estão desaparecendo e as verdadeiras, cada vez mais evidenciadas. Dentre elas, uma pouco valorizada: cada gênero vivencia um processo de envelhecimento diferente em todos os aspectos determinantes de sua evolução. Para começar, a confirmação de que a mulher vive mais que o homem e que a diferença está aumentando.
Além disso, a longevidade funcional feminina é, geralmente, mais longa, o que pode ser verificado quando comparamos a capacidade de fazer coisas agradáveis e produtivas entre maridos e mulheres de mesma idade.
Um olhar mais cuidadoso, porém, revela que, em geral, ambos são aptos a fazer as mesmas coisas, mas, principalmente no meio urbano, as condições são mais favoráveis a elas -além de terem mais oportunidades de participação familiar e comunitária, aproveitam melhor as possibilidades oferecidas a ambos os gêneros.
Tenho visto mais mulheres desabrocharem na fase mais avançada da vida, enquanto os homens padecem do término da sua identidade profissional.
Elas têm sido bem mais eficientes em virar a página e iniciar novas empreitadas.
Não quero, com isso, dizer que inexistem homens que desfrutam do envelhecer, mas, infelizmente, ainda são minoria.
Isso pode ser explicado pelo menor número de homens em cada faixa etária mas também pela menor capacidade de se renovar nas expectativas e estratégias de adaptação às novas condições dessa fase da vida.
Nesse mister, cabe citar um bom exemplo: uma das mulheres mais plenas que conheço atende pelo apelido de Juju.
Sua beleza vai muito além da pele delicada, da postura ereta, do olhar vivaz ou da elegância sóbria, mas inclui também todas as aquisições decorrentes das experiências adquiridas nos últimos 96 anos. De modo sensato, Juju se baseia no aprendizado da vida pregressa para poder desfrutar melhor da vida presente, sempre movida por alguma expectativa futura.
A cada visita, além de desafiar minha inteligência com questões intrigantes, deixa-me com a certeza de que tenho muito a aprender com quem representa, em toda a magnitude, a incomparável sabedoria feminina de envelhecer bem.
Espero que todos os homens pensem seriamente nisso.


WILSON JACOB FILHO , professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de "Atividade Física e Envelhecimento Saudável" (ed. Atheneu)

wiljac@usp.br

Leia na próxima semana a coluna de Michael Kepp


Próximo Texto: Pergunte aqui
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.