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ROSELY SAYÃO
Castigo e impunidade
Que consideramos a
impunidade um
grande mal é fato;
que creditamos a ela
uma boa parte dos problemas
de violência, também. Pensando nisso, como os pais ensinam
aos filhos que seus atos produzem conseqüências?
Uma educadora me contou
um fato interessante: um aluno
cometeu uma transgressão e
recebeu uma penalidade. No
dia seguinte, o pai foi solicitar
uma conversa com a orientadora. Quando isso ocorre, os educadores sabem o que esperar
porque muitos pais não aceitam que o filho arque com as
conseqüências de seus atos no
espaço escolar ou não concordam com a sanção, que costumam achar severa demais.
Pois, para o espanto dessa
educadora, o que o pai queria
era manifestar apoio à atitude
da escola para que o filho tivesse a oportunidade de aprender
que os atos têm conseqüências.
Vale dizer que o pai estava bastante sensibilizado com o tema
por causa das notícias sobre
comportamentos violentos
praticados por jovens. Este é,
portanto, um bom momento
para refletir sobre o castigo.
De largada, vamos pensar a
respeito do castigo corporal,
amplamente usado por pais de
todas as classes sociais. Ele costuma parecer eficaz porque
produz efeitos imediatos, ou
seja, o filho deixa de fazer o que
não deve ou faz o que deve rapidamente. Mas tal efeito é efêmero, como os próprios pais
podem constatar. Além disso, o
castigo físico tem mais a ver
com o humor dos pais ou com
seu descontrole do que com o
comportamento do filho. De
qualquer forma, um castigo
corporal é uma violência física
contra os mais novos e, portanto, não pode ser educativo.
As punições exageradas e as
que são aplicadas e não
honradas pelos pais também
ocorrem com muita freqüência. Um garoto que não fez a lição de casa antes de a mãe voltar do trabalho não pode assistir a seu programa de TV favorito por três dias. Muita coisa,
não? Uma adolescente que não
cumpriu o horário de retorno
de uma festa foi proibida de ir à
próxima, mas tanto reclamou e
fez cara feia que ganhou dos
pais a permissão.
Afinal, o castigo deve ser usado na educação e funciona? A
resposta é sim para as duas perguntas. O castigo consistente
pode ser uma boa estratégia para fazer frente às transgressões
cometidas pelos filhos e para
responsabilizá-los pelo que fazem. Para isso, é preciso que os
pais, antes de aplicar uma punição, tenham uma atitude educativa firme e coerente.
Castigo em criança pequena
não faz muito sentido. A contenção -que já é uma sanção-
usada para que o filho deixe de
fazer algo que não deve e a tutela constante para que faça o que
deve já são atitudes suficientes.
Colocar a criança pequena para
"pensar" não se sustenta, já que
ela nem sequer tem autonomia
para tanto. Os pais de filhos
nessa idade devem ter muita
paciência e disponibilidade:
não podem ficar bravos sempre
que eles não se comportam de
acordo com as normas nem podem achar graça nisso.
Para os maiores de seis anos,
o castigo é educativo desde que
precedido de regras claras e
justificadas. A repetição das
orientações, independentemente de elas serem ou não seguidas, não revela autoridade.
E é bom lembrar que o castigo aponta sempre o que não deve ser feito. Por isso, é insuficiente como estratégia educativa, já que queremos que os mais
novos aprendam o que deve ser
feito, o que é bom, o que é certo.
Tanto as atitudes educativas
quanto a aplicação de castigos
exigem que os pais usem bem a
autoridade e as palavras dirigidas aos filhos, conversem praticando o olho-no-olho, escutem
os filhos de maneira interessada e sejam coerentes.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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