São Paulo, quinta-feira, 12 de setembro de 2002
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S.O.S. família

rosely sayão

Pais ajudam filhos a se conhecerem

É normal um garoto de 11 anos preferir ficar em casa em vez de querer sair com os amigos? E uma garota de 13? Ela deve gostar necessariamente de estar com garotos e, se preferir estar só com as amigas, é sinal de que não está aceitando bem a adolescência? Vai tudo bem com uma menina de nove que não quer mais saber de sair com os pais porque só quer estar com a turma de meninos e meninas que conheceu na escola? E um garoto de 16 que é tímido com as garotas, mas passa horas e mais horas em frente ao micro conversando com elas em salas de bate-papo, é normal?
Muitos pais buscam parâmetros para avaliar o comportamento e o desenvolvimento dos filhos à procura de um sinal que indique qual providência devem tomar para ajudá-los e/ou se há motivos para preocupação. O problema é que, muitas vezes, eles esquecem que os próprios filhos é que devem dar as referências sobre si mesmos. E esse esquecimento é o suficiente para provocar muitas confusões. Quer ver?
Hoje, por exemplo, o relacionamento da criançada -entenda-se por isso convites dos amigos para viagens e festas, mil telefonemas ao dia etc.- é considerado ponto muito importante para avaliar o grau de sucesso social de crianças e adolescentes. Mas, se essa for a única condição a ser usada na observação dos filhos, como ficam os mais introvertidos, os mais seletivos, os caseiros, os que preferem um bom livro a uma boa festa?
É preciso ter espaço para todo tipo de gente, para a individualidade, para a diferença, e as crianças e os adolescentes estão incluídos nessa história. Não se pode querer uniformizar e universalizar estilos, comportamentos, características e anseios. É preciso evitar a tentação de acreditar que determinada maneira de viver é a melhor para todos. É o caso do sucesso social, da popularidade. Muitos adolescentes vivem muito bem com um ou dois amigos e com pouca proximidade com os colegas. Outros se distraem horas com algum jogo de interação e que exige raciocínio, como o xadrez, por exemplo, e se sentem tão bem quanto um colega de mesma idade que passa o mesmo tempo conversando com amigos.
Cada criança tem o seu potencial a ser desenvolvido, estimulado. Esse potencial precisa de oportunidades para crescer e se realizar. Quando conseguem, na interação com o filho, identificar a direção de seu potencial, os pais podem, então, prepará-lo para fazer escolhas coerentes com esse potencial, estabelecendo, assim, um compromisso consigo mesmos. Para tanto, o filho precisa aprender isso com seus pais. Quanto maior o compromisso dos pais na observação do filho, na interação com ele, no conhecimento mais atento dele, maior será a aprendizagem do filho sobre si mesmo e, portanto, maior a chance de ele procurar situações na vida que o beneficiem.
Os pais que se relacionam desse modo com os filhos ficam mais seguros quanto às atitudes que eles tomam. Claro que trocar experiências com outros pais com filhos de mesma faixa de idade pode ajudar. Claro também que não é preciso ignorar totalmente as referências externas que possam facilitar a compreensão do jeito do filho para, assim, ajudá-lo melhor.
O que os pais precisam é evitar considerar apenas esse tipo de referência, não nortear-se apenas por ela ao olhar para o filho. E, mesmo quando a informação que os pais têm sobre os comportamentos típicos da idade corresponde às atitudes do filho, não é obrigatório aceitá-las. Sempre é bom lembrar que é possível remar contra a maré, quando acreditamos assim ser melhor, mais sensato, mais ético.
Quando quase todos os adolescentes querem namorar e um prefere estudar, por que se preocupar com isso se, para ele, isso é o melhor? Se seu filho destoar do grupo, não se preocupe. Ele pode ter encontrado o caminho de se reconhecer e aceitar as diferenças. Aliás, esse é o tipo de escolha de grande mérito nesse mundo tão massificante em que vivemos.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br


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