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S.O.S. família
Rosely Sayão
As escolhas das crianças
Hoje é comemorado o
Dia da Criança.
Quase todos os pais
não resistiram à
tentação: compraram brinquedos e outros presentes e agendaram programas diferentes
para fazer com os filhos.
A reação das crianças não será surpresa para os pais. Muitas
delas, inclusive, já haviam feito
seus pedidos com a devida antecedência. E é justamente para provocar essa reação esperada que os pais sucumbem aos
apelos do comércio. Afinal,
quem não quer ver seu filho feliz, agradecido e entretido com
o novo brinquedo ou a programação familiar especial?
Tudo isso ocorrerá hoje, mas
os pais também já sabem que
essas emoções da criança terão
vida curta. Em algumas horas
ou dias, o filho estará novamente como estava antes de ganhar
os mimos de hoje. Por isso, vamos além neste dia: vamos reservar alguns minutos do nosso
tempo para refletir a respeito
da infância nos tempos de hoje.
Não é fácil ser criança no
mundo atual. O mundo adulto
pressiona o infantil de todos os
lados. As peças publicitárias
tratam as crianças como se elas
fossem gente grande -esperam que saibam e que possam
decidir o melhor para si. E o
melhor, nesse caso, é consumir
o que eles oferecem. Mais do
que consumir determinado
produto, trata-se de consumir
um estilo de viver. Assim, logo
elas aprendem a gostar das músicas que devem gostar, a se
comportarem de um determinado jeito, a vestir certo estilo
de roupa etc. As crianças são
tão suscetíveis que, além de se
encantar com quase tudo o que
se destina a elas, também ficam
atraídas por aquilo que é ofertado ao adulto e chegam a convencer os pais a consumir itens
ou marcas.
Por causa da oferta de consumo, a criança é pressionada a
ser de um determinado modo.
E, para ela, isso tem um sentido
muito maior do que apenas ter
algo. Defender-se desses apelos
é coisa para adulto -as crianças estão totalmente submetidas a essas exigências e não
conseguem, sozinhas, escapar.
Mas não é apenas o consumo
que empurra as crianças para o
mundo adulto. As notícias, as
explicações, as análises, o erotismo, o tipo de humor, a aparência do corpo, o modo de se
relacionar com os outros, a
agressividade, a competição,
tudo o que tem relação com os
adultos atinge também as
crianças e as influencia.
Não é possível mudar o mundo, pelo menos não em um curto espaço de tempo. Isso quer
dizer que é neste mundo mesmo que as crianças viverão a infância. Mas talvez seja possível
protegê-las da parte mais pesada dessa avalanche.
O mais difícil para os pais é
diferenciar o que chegará às
crianças inevitavelmente daquilo que elas ainda podem ser
poupadas. Há boas razões para
essa dificuldade, e talvez a principal seja justamente a idéia de
infância que temos hoje.
Qualquer educador -pais,
principalmente, mas professores também- acredita que deve incentivar as crianças a fazer
escolhas.
Ocorre que, ao fazer uma escolha, a criança só pensa naquilo que quer de imediato. Ela
ainda não consegue avaliar situações, fazer previsões e considerar conseqüências.
E mais: a criança não é livre
para escolher. Ela está submetida a alguma força, interna ou
externa, que a faz caminhar em
determinada direção, e seu
campo de visão é restrito.
Por isso, quando ela "escolhe" algo, na verdade apenas se
submete a essas forças, e, quando essa "escolha" é validada pelo adulto, seu aprisionamento é
reafirmado.
Criança só deveria ser livre
para brincar e pensar a seu modo. Garantir essa liberdade de
ser criança ainda é possível,
mesmo neste mundo.
[...] Ao fazer uma escolha, a criança só pensa naquilo que quer de imediato; ela ainda não consegue avaliar situações e considerar conseqüências
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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