São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006
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S.O.S. Família

Rosely Sayão

Papel dos pais e da escola

Os assuntos trazidos pelos leitores nas correspondências são diversos. Mães e pais falam de seus problemas cotidianos, contam como é o relacionamento com os filhos e comentam as dificuldades e os êxitos. Também questionam suas próprias decisões e pedem ajuda nessa tarefa tão árdua quanto solitária de educar. Mas há um tema campeão de ocorrência: a vida escolar.
Os pais estão bastante ocupados com os estudos. Eles perdem a tranqüilidade quando os filhos não rendem o que poderiam, querem saber como motivá-los para as atividades escolares e para as extracurriculares, acompanham as lições de casa, estudam com os filhos, pesquisam e até fazem trabalhos com e, às vezes, para eles. Uma preocupação constante é com a decisão que tomaram ao escolher a instituição escolar. Essa escolha, aliás, é permanentemente posta em dúvida. Cada vez que eles discordam de um passo da escola, acham que devem reavaliar a decisão. Essa postura provoca insegurança em todos os envolvidos: pais e filhos.
Em tempos de crise nas escolas particulares, elas também ficam inseguras com suas atitudes, porque temem descontentar os pais e, desse modo, perder alunos. Prova disso são os artifícios que algumas escolas encontram para garantir boas notas no boletim quando, na verdade, os resultados das avaliações nem sempre são bons. A questão que devemos pensar é: por que tanta pressão sobre a vida escolar dos filhos?
Por que tanto empenho na tentativa de que os filhos apresentem bom rendimento escolar?
Certamente muitos pais têm resposta pronta a essas perguntas. Eles dizem que se preocupam com o êxito escolar do filho porque querem que ele tenha as melhores condições para enfrentar o futuro. Mas será que a busca do bom rendimento constrói essa possibilidade? Enfrentar a escola com todas as obrigações é uma tarefa difícil para crianças e adolescentes.
Além de aprenderem a se concentrar e a acompanhar as explicações dos professores, os mais novos nem sempre são compreendidos, não raramente sofrem pequenas injustiças, enfrentam dissabores e, quase inevitavelmente, defrontam-se com fracassos. Será que a melhor lição a aprender nessa fase não seria justamente enfrentar essas batalhas sozinhos, sem a companhia constante dos pais?
Mas os pais, pressionados pelas escolas, têm exigido o máximo dos filhos. Quando as crianças não rendem o esperado, em vez de serem encorajadas pelos pais a uma maior dedicação, recebem como resposta a manifestação do descontentamento, e isso provoca um afastamento em relação aos pais. Quando isso ocorre, os pais se julgam na obrigação de acompanhar mais de perto ainda a vida escolar e passam a dedicar a isso quase todo o tempo que têm.
O fato é que essa importância exagerada que os pais têm dado aos estudos dos filhos tem provocado um efeito desastroso. As crianças não têm aprendido mais, não têm criado gosto pelo conhecimento, não têm se esforçado para vencer seus desafios escolares. E ainda fica uma questão: como os pais se dedicam tanto ao rendimento dos estudos dos filhos, outras áreas da formação das crianças e dos jovens ficam descobertas. Alguns exemplos são: o ensino de algumas virtudes, a educação moral e ética, a conquista da autonomia possível e o ensino ao amor à vida, em todos os sentidos que isso implica.
A escola reclama que os pais delegam a ela muitas coisas que não dizem respeito a seu trabalho. É verdade. Mas, se ela responsabilizar menos os pais pelo comportamento do filho no espaço escolar, talvez eles possam se dedicar mais intensamente àquilo que mais lhes diz respeito na educação dos filhos.

[?] A questão que devemos pensar é: por que tanta pressão sobre a vida escolar dos filhos?


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br


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