São Paulo, terça-feira, 13 de julho de 2010 |
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FALTA DE TREINO
ANNA VERONICA MAUTNER
TRISTE. Fiquei com a boca amarga como quase todos quando o Brasil perdeu. O fato me levou a questionar uma certa ideologia educacional. Será que ela tem a ver ou não com a derrota -ou melhor, com a dificuldade de reagir positivamente ao primeiro gol contra nós? Dizem locutores, técnicos e sabichões que causas emocionais nos levaram à desorganização ocorrida no resto do jogo, depois do tal primeiro gol dos outros. Resumindo o que escutei, concluí que nós nos atribuímos uma falta de treino para atuar em condições de adversidade: a frustração nos impediria de realizar ação ordenada com vistas ao objetivo. Onde erramos pois, nós, educadores, pais e mestres, na educação dos nossos jovens compatriotas? Em casa, cada um de nós é educado de acordo com a família. Em uma sociedade livre, não se pode intervir na complacência ou na excessiva tolerância. Fica por conta da escola apoiar, treinar e não apenas afagar para habilitar a continuidade do esforço e eficiência, mesmo em condições desagradáveis. A escola pode e deve impor limites de nota mínima e máxima; pode advertir, aprovar e reprovar. Se um aluno tem dificuldade num campo qualquer de conhecimento, ele deve esforçar-se mais nessa matéria, pedindo ajuda. Mesmo sabendo que pode não brilhar, não vir a ser o melhor, tem que desempenhar um certo tanto. A ideia de promoção automática nos indica que a escola está abdicando da função de treinar para vencer as dificuldades impostas pela vida, incentivando a ultrapassar os obstáculos próprios ao cotidiano de todos nós. A vida de ninguém é um mar de rosas. Caberia à família e com certeza à escola treinar o jovem para suportar acasos e tropeções e, apesar deles, terminar as tarefas. Ao final do jogo da Copa, rostos desolados aceitavam como inevitável desanimar diante do primeiro gol do outro time. O jogo é apenas um modelo do que venho percebendo ao meu redor. Talvez passe por essa dificuldade de superar os tropeções o que aconteceu lá na África do Sul, em 2 de julho de 2010, segundo os experts. O primeiro gol do outro time acontece. E temos que continuar batalhando. Dificuldade em matemática acontece. E cabe ao aluno estudar mais e não desistir. A ideologia que está por trás da promoção automática é que frustração não deve existir, reprovação não pode existir. Se assim for, não chegaremos ao hexa. ROSELY SAYÃO A colunista está em férias Texto Anterior: Empório: Nutrição, receitas, escolhas saudáveis Índice |
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