São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2011 |
Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros
ROSELY SAYÃO SER POPULAR É MELHOR QUE ESTUDAR?
UMA MÃE estranhou a queda no rendimento escolar do seu filho, um jovem de 15 anos que começou a cursar o ensino médio neste ano. Até aqui, ele sempre havia levado a escola muito bem: faltava pouco, suas notas eram suficientes para não ficar retido e também dava conta das tarefas que precisava fazer em casa. Neste ano, a coisa ficou feia: o garoto perde a hora regularmente, suas notas estão bem baixas, apontando risco de repetição, e, ainda por cima, a mãe passou a receber recados da escola de que o filho não tem feito as lições dadas e tem arrumado encrencas com os professores. Ela decidiu conversar com o jovem, porque nunca exigiu que ele fosse um aluno nota 10, mas também não deseja que ele abandone os estudos, pelo menos até terminar a escolaridade básica. Você pode imaginar que essa conversa não foi nada fácil, não é? Mas a mãe ficou espantada mesmo com o argumento principal usado pelo filho para justificar suas atitudes em relação à escola. "Não quero ser um nerd, mãe!", foi o que ele repetiu com veemência. Nossa leitora quis saber o motivo do receio do filho de ser assim identificado e recebeu a resposta de que nenhum "nerd" era popular na escola. Ao contrário, esses alunos costumavam ser alvo de gracinhas dos colegas. Essa mãe argumentou de todos os modos com o filho: deu exemplos de intelectuais reconhecidos mundialmente, falou de pessoas talentosas que são célebres por terem expressado seu talento etc. Não adiantou nada. O filho ficou irredutível e até aceitou se esforçar para pelo menos passar de ano, mas garantiu que tirar notas boas não queria de modo algum, tampouco agir de modo a ser considerado um aluno "bonzinho". Nessa idade, eles querem ser populares e admirados pelos seus pares. Na chamada sociedade do espetáculo, precisam ter grande visibilidade no grupo que frequentam, o equivalente a ser considerado um famoso em nossa sociedade. Vale a pena, então, refletirmos a respeito de como esses jovens querem alcançar isso. E, para tanto, vou citar dois exemplos. O primeiro, descobri por indicação de um conhecido: o "Man versus Food", programa em um canal a cabo mostrando sempre um homem que tenta comer uma refeição enorme inteira. Vi dois episódios e considerei o suficiente. Assistir a um jovem enfrentando quilos de comida, em geral gordurosa e apimentada, passando mal e colocando a saúde em risco para ganhar notoriedade provoca no espectador enjoo e mal-estar. Mas é assim que o protagonista do programa ganha notoriedade na vida. O segundo exemplo é de conhecimento de muitos: uma peça publicitária que, para enaltecer as qualidades de um carro, compara dois atores, um considerado um grande ator e o outro, um ator grande. Nesse comercial, é um brasileiro que se presta a ocupar o lugar de ator grande (com atuação considerada muito ruim em sua profissão). Foi dessa maneira que ele saiu do ostracismo e voltou a ser "famoso". Muitos jovens enalteceram a coragem do moço, sua beleza e o dinheiro que ele ganhou para fazer parte dessa campanha. E então? Temos passado essas lições aos jovens: ser corajoso é ser brigão, ser capaz de colocar a saúde e a vida em risco; o que importa é fazer, acontecer e aparecer a qualquer custo; ter êxito na vida é ganhar muito dinheiro, não importa como. Essas lições convivem com os mais novos diariamente, e os convencem. As famílias e as escolas que valorizam virtudes como a ética, o respeito pela vida, o trabalho que beneficia a sociedade e a justiça, entre tantas outras questões importantes, parecem estar em grande desvantagem. Não estão. As pessoas que os jovens mais admiram são seus pais e professores. Por isso, não podemos desistir desse trabalho de formiguinha, mesmo que isso signifique remar contra a maré. ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha) Texto Anterior: Casa antialérgica Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |