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SAÚDE
Estica e puxa
Ultrapassar os limites fisiológicos de contração e extensão dosmúsculos é a causa dos dois problemasmais comuns durante a prática de exercícios
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Contrair, esticar, carregar. A atividade física
vai, necessariamente,
forçar os músculos e
causar algum tipo de dor, já
que, para ter efeito, o trabalho
físico provoca microlesões nos
músculos. Se o exercício é realizado da forma adequada, esse
processo é considerado benéfico e desejável: a cicatrização
das fibras provoca adaptações
do tecido, que vai aos poucos
ganhando mais força e volume.
Porém, se o músculo é submetido a carga ou estiramento
maiores do que pode suportar,
o tamanho e a quantidade de lesões geram um processo inflamatório mais agudo, causando
dor local e, dependendo do grau
da lesão, inchaço, hematoma e
prejuízo ou perda da função
normal do músculo.
A lesão muscular mais comum entre os praticantes de
atividades físicas, profissionais
ou amadores, é o estiramento
muscular. Popularmente chamado de distensão, é a lesão das
fibras musculares, que ocorre
quando elas são alongadas além
de seus limites normais.
Segundo Alceu Nascimento
Miranda Jr., professor de fisioterapia da Universidade
Anhembi Morumbi, há três
graus de estiramento muscular. No grau 1, a lesão atinge menos do que 5% das fibras musculares. A sensação dolorosa
pode durar alguns dias, mas a
perda da função muscular é mínima. A recuperação é rápida,
normalmente não exigindo
mais do que repouso e compressas de gelo.
Para Vera Aparecida Madruga Forti, professora do Laboratório de Fisiologia do Exercício
da Faculdade de Educação Física da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas), esse
grau corresponde ao sistema de
alerta do organismo. "Ele avisa
que a pessoa ultrapassou os
seus limites e que, se não parar,
pode chegar a um grau [de lesão] de difícil recuperação ou
que não tem volta."
O grau 2 ocorre quando entre
5% e 50% das fibras sofrem lesões. O processo inflamatório
cria inchaço no local. A pressão
do edema e das fibras rompidas
sobre os vasos e nervos causa
dor e hematomas. Há prejuízo
da função muscular, dificultando movimentos que envolvem
o músculo atingido.
No estiramento mais grave,
de grau 3, a lesão atinge mais de
50% das fibras, causando ruptura completa ou de grande
parte do tecido muscular atingido. Além da dor, o inchaço local é maior. "A hemorragia nos
vasos locais pode causar hematomas visíveis e o músculo perde a sua funcionalidade -a capacidade de se contrair e se
alongar para mover as articulações", diz Miranda Jr.
Uma precaução importante
para evitar distensões, segundo
Valéria Bondanha, do Laboratório de Fisiologia da Unicamp,
é sempre fazer um aquecimento antes de se exercitar. "O que
não considero interessante é
fazer um alongamento muito
intenso após um trabalho de
força, como a musculação.
O ideal é fazer um alongamento
suave, mais para relaxar os
músculos do que para forçar a
sua extensão", diz Bondanha.
Embora o alongamento seja
uma boa maneira de aumentar
a elasticidade muscular e a flexibilidade articular, Bondanha
acredita que ele deva ser feito
isolado da sessão de musculação -em dias alternados, por
exemplo.
"A maior dificuldade para
evitar a lesão é que o limite entre o esforço muscular benéfico, que estimula o fortalecimento ou o alongamento do
músculo, e o que causa problemas é muito tênue. Por isso é
fundamental que a atividade física seja introduzida de forma
gradativa e bem orientada", diz
Gil Lúcio Almeida, presidente
do Crefito (Conselho Regional
de Fisioterapia e Terapia Ocupacional), regional São Paulo.
"Fisgada"
O segundo problema muscular mais comum, depois da distensão, é a contratura muscular. Não se trata propriamente
de uma lesão, já que não há
rompimento das fibras, mas
uma disfunção do músculo.
"Na contração, as fibras se entrelaçam e, depois, voltam à
forma normal. Quando um grupo de fibras se contrai de forma
descontrolada, elas não voltam
ao seu comprimento normal",
afirma Miranda Jr.
Quando isso acontece, normalmente a pessoa sente uma
"fisgada" no local, e o músculo
atingido fica endurecido. "A
tensão [muscular] intensa gera
a diminuição do fluxo sanguíneo para os músculos. Isso faz
com que substâncias produzidas pelo corpo durante o esforço físico, como o ácido lático,
por exemplo, não sejam removidas normalmente e se acumulem nos músculos, estimulando terminações nervosas
responsáveis pela sensação de
dor", diz a fisioterapeuta Claudia Maria Peres, da Unicamp.
A contratura pode ser causada por falta de alongamento
muscular, por um esforço excessivo durante a realização de
determinado movimento ou
por fadiga muscular. Esta faz
com que o músculo não consiga
gerar energia para realizar as
suas funções de contração e
descontração das fibras.
A melhor maneira de evitar o
problema, segundo Almeida, é
trabalhar os músculos para que
eles possam gerar força em
condições fisiológicas ótimas:
"Isto é, exercitando tanto a capacidade de contração quanto a
de alongamento, para que essas
duas forças opostas trabalhem
em simetria", diz ele.
Os cuidados são os mesmos
que devem ser tomados para
evitar as distensões: prestar
atenção aos limites do corpo e
alternar exercícios de força
com sessões de alongamento.
"Também é importante alternar exercícios estáticos, como os que mantêm a contração
ou a extensão de um grupo
muscular por um período de
tempo, com exercícios dinâmicos, quando o alongamento ou
a força são realizados com o
corpo em movimento", acrescenta Miranda Jr.
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