São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2000
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s.o.s. família

Como ser autoridade sem ser autoritário

Rosely Sayão

Muitos leitores, pais e mães de filhos com mais ou menos 6 anos, enviaram correspondência depois de ler a coluna em que falei que a educação exige, da parte dos adultos, atitudes práticas que interditam alguns comportamentos impulsivos dos filhos (edição do dia 31/8). E é justamente a prática no dia-a-dia a dúvida dos pais. Uma leitora, mãe de um garoto de 5 anos, pede exemplos de como reprimir quando é preciso, em situações da vida cotidiana, pois diz que o filho quase sempre "ganha" dela nessas situações. Bem, precisamos, então, conversar um pouco sobre o que significa o pai ou a mãe ser uma autoridade para o filho. Pelo jeito, o grande dilema é como ser autoridade sem ser autoritário! Um filho pequeno sempre quer algo: o amor dos pais, a presença deles, um doce, assistir desenho na televisão, um determinado brinquedo ou objeto, ir para algum lugar ou ficar em algum lugar, colocar uma roupa ou tirar, enfim, ele quer, ele quer e ele quer. Portanto, o querer dele é que é autoritário. Acontece que nem sempre o querer dele é possível naquele momento ou é o que ele precisa, e aí é que entra a intervenção dos pais. Não, não é preciso ser sempre um "linha dura" para conter esse querer. É possível, sim, fazer essa contenção, na hora em que o querer se manifesta, de modo tranquilo, leve, desde que firme. E isso requer autoridade.

Enrolando os pais Vamos a um exemplo, mas sem esquecer que cada pai e cada mãe precisam conhecer seu filho para saber como agir. Não há receita para a educação, pois não há um modo certo de educar. A hora de dormir. Ah, como as crianças enrolam bem os pais nessa hora. Por quê? Simples: porque dormir supõe interromper algo; pode ser o simples fato de estar acordado, de estar ao lado dos pais, brincando, jogando video game, vendo TV ou outra coisa qualquer. A criança não sabe que é preciso descansar: para isso, ela precisa dos pais. Se os pais permitem, a criança vai ficar acordada até a exaustão. E isso não é bom, pois ela não aprende a se cuidar se não é cuidada. Além disso, os pais precisam de um tempo para eles. É necessário, então, que os pais determinem o horário em que a criança vai se recolher. E nessa hora é preciso que eles façam o que é preciso para levar a criança para seu canto todas as noites. Isso exige firmeza, carinho e a ação dos pais. Não basta lembrar ao filho que chegou a hora de dormir, não basta mandar que ele vá se deitar. Aliás, agir desse modo e esperar obediência é que é ser autoritário. É preciso pegar a criança pelas mãos, ou no colo, ou inventar um jogo ou uma brincadeira que ajude a criança a cumprir seu ritual. Claro que o filho vai reclamar, choramingar, gritar, enfim, resistir de todos os modos. Pelo menos enquanto a rotina não estiver estabelecida, pelo menos enquanto perceber que há chance de resistir. Ele tem o direito de manifestar seu desagrado, afinal. Aos pais, cabe a difícil tarefa de manter a firmeza nessa hora e, para o bem do filho, fazer com que ele atenda. Se, nesse momento, os pais não mostram convicção de que estão agindo corretamente, o filho vai perceber e vai reagir mais. Aí é que está a questão da autoridade. É principalmente a postura dos pais que permite, ou não, que o filho atenda suas decisões. Afinal, os pais sabem a respeito da vida muito mais do que o filho. E é essa a autoridade que eles devem ter quando educam.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br



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