São Paulo, terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
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CORRIDA

RODOLFO LUCENA rodolfo.lucena@grupofolha.com.br

Que tipo de corredor você é?


Somos todos apaixonados pela corrida, seja ela do tipo que for, na direção que der

SE VOCÊ FOSSE UM ANIMAL, que bicho seria? E se fosse uma flor, onde estaria no jardim? E um personagem do último "BBB"? Responda a um breve questionário, marque cruzinhas lá e cá e... voilà!, o resultado destrincha sua personalidade e revela qualidades e defeitos, vocação profissional, cor, números para jogar na Sena.
Nas revistas e nos jornais, no e-mail e nas redes sociais, os testes tentam nos enquadrar, etiquetar, catalogar; e a gente responde, querendo descobrir o âmago de si mesmo ou apenas saber que está integrado a um grupo.
Também é assim no mundo corrido. Sua musculatura tem mais fibras rápidas, portanto você tem de ser velocista. Se lentas, há que virar ultramaratonista. Se tiver pé chato, é pronador, obrigado ao uso de tênis de controle de movimento.
Corre quantas vezes por semana, participa de corridas, vai para o pódio? Tudo para definir que tipo de corredor você é, se eventual, não participativo, competitivo, amador engajado ou candidato a profissional, elite ou pangaré.
Pois lhe digo, imitando o refrão carnavalesco: todos eles estão errados, a corrida é dos namorados. Somos todos apaixonados pela corrida e por colocar o corpo a correr, seja do jeito que for, na direção que der. Somos todos diferentes entre nós e, mais importante ainda, somos diferentes de nós mesmos.
Para desespero de técnicos, professores e cientistas, o corredor pode tomar emprestado a definição de Pessoa: "Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas".
Há dias em que saímos para correr como o vento, outros em que arrastamos o corpo no asfalto; na mesma corrida, entramos em êxtase com uma disparada e descemos à sarjeta. Há quem goste de provas aos montes, há quem corra pelo simples prazer do gesto. Planejamos eventos com anos de antecedência e, na hora, mudamos de ideia; ou o contrário.
A essência do corredor não cabe nas pinceladas exatas de Rembrandt; é, antes, revelada no torvelinho cubista de Picasso: nariz torto, orelha no queixo, boca desfocada, olhos em toda a parte.
É melhor, então, não procurar moldura nem prateleira. Em vez disso, seguir consigo mesmo nas próprias passadas, ouvindo o conselho que o tal anjo torto um dia deu ao poeta Drummond: vai, corredor, ser gauche na vida.

RODOLFO LUCENA , 54, é editor de Tec e do blog +Corrida (maiscorrida.folha.com.br), ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (Record) e de "+Corrida" (Publifolha)


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