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ROSELY SAYÃO
Sexo para consumo
Nos últimos dias, toda
a imprensa noticiou
e comentou casos de
violência sexual que
envolveram adolescentes e jovens e estavam ligados às chamadas "pulseirinhas do sexo".
São pulseiras de plásticos de todas as cores, bem baratas, que
passaram a funcionar como um
código ligado à vida sexual.
Cada cor tem o objetivo de
enviar um tipo de mensagem
erótica a quem tem a chave para decifrar o segredo. Assim,
quem usa a pulseira amarela
pede ou está disposta a um beijo, quem usa a roxa já avisa que
o beijo é de língua e assim sucessivamente.
Entretanto, nem todos os
que usam as pulseiras fazem
parte do grupo que conhece e
usa o código. Crianças dos dois
sexos foram seduzidas pelo enfeite acessível e elas estão nos
braços de um número enorme
de crianças e adolescentes só
para sinalizar que eles estão
atentos à moda.
Muitos adultos já conheciam
esse código e passaram a vetar o
uso das pulseiras aos seus filhos
ou alunos. Agora, depois dos incidentes violentos noticiados,
já há até políticos com propostas para tornar lei a proibição
do comércio das tais pulseiras.
Mas será que isso resolve o problema, ou melhor, será que as
pulseiras é que são o problema?
Para pensar a respeito, vamos considerar uma reportagem publicada no Folhateen
com o título "Faturando com
sensualidade". Num suplemento dirigido ao jovem, a reportagem informa que mulheres de 19 a 26 anos usam o sexo para ganhar dinheiro.
Bem, então a questão não são
as pulseiras nem a internet,
usada como veículo por várias
dessas mulheres. Precisamos
pensar é nos conceitos que envolvem a sexualidade que temos passado aos mais novos.
Não temos tido cuidado algum
quando se trata de educação ou
orientação sexual aos mais novos. A própria reportagem citada pode ser lida por adolescentes como uma boa dica para ganhar dinheiro.
Desde que o tema sexo deixou de ser tabu, parece que deixou de ser tarefa dos pais e da
escola a formação educativa
dos mais novos em relação ao
tema. Mas o que não nos lembramos é que essa formação
ocorre de qualquer maneira e,
na ausência de uma prática
educativa responsável e crítica,
os jovens se formam com o que
está disponível a eles: material
na internet, peças publicitárias, exploração do tema em revistas e programas de TV etc.
Muitos pais não querem ser
vistos como "caretas" pelos filhos e, por conta disso, deixam
de moralizar a questão, mesmo
quando pensam que deveriam
fazer isso. Escolas não assumem a responsabilidade, principalmente porque não sabem
como elaborar e colocar em
prática um projeto responsável
de educação sexual.
E por causa de nossa omissão
o sexo passou a ser visto pelos
jovens e por muitas crianças
apenas como mais um item de
consumo na vida. Vejam só:
pais permitem que seus filhos,
considerados "pré-adolescentes", mas que ainda são crianças, namorem, por exemplo.
Vamos proibir o uso de pulseiras ou encarar nossa responsabilidade com a educação
sexual de crianças e jovens?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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