São Paulo, quinta-feira, 15 de junho de 2006
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saúde

De corpo e alma

No Brasil, não há estudos sobre problemas de saúde decorrentes das disputas em campo. Mas não faltam histórias de quem sente no corpo o impacto da torcida -de dores no estômago a isquemias.
O publicitário Dude Campolini, 25, ainda não se esqueceu da sensação de assistir Brasil e Holanda (5 x 3, nos pênaltis) na semifinal de Copa de 1998. "Quando o jogo foi prorrogado, fiquei pálido, comecei a suar e tive taquicardia. Um tio, que é médico, proibiu-me de ver o resto da partida na televisão, tive que ouvir pelo rádio", conta.
O mesmo Brasil x Holanda que Dude teve de ouvir pelo rádio, Sueli Trolesi, 48, acompanhou nervosa diante da TV, em São Paulo. Quando Taffarel agarrou o pênalti que definiu a partida, ela saiu pela rua para comemorar com os vizinhos. Ganhou um machucado digno de jogador de futebol: rompeu o tendão-de-aquiles e levou seis meses para se recuperar.
Moisés Cohen, chefe do centro de traumatologia do esporte da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que a tensão provoca contração muscular. "Se o torcedor passa da contração a movimentos bruscos, como nas comemorações, podem ocorrer lesões, distensões e contraturas."
Para amenizar o risco, o especialista recomenda não ficar sentado durante toda a partida e fazer alongamentos para relaxar a musculatura.

Isquemia
Foi depois de uma disputa entre Corinthians e Universidad Católica, do Chile, pela Taça Libertadores que o analista de sistemas Marcus Vinícius Rodrigues, 25, experimentou a sensação de ter o corpo paralisado. "O Corinthians perdeu por 3 x 2. Deitei no sofá e comecei a sentir taquicardia. A sensação era a de que minha língua havia engrossado e parei de sentir um lado do corpo."
No hospital, o diagnóstico: Marcus tinha sofrido uma isquemia -ou um princípio de infarto, como é conhecido o quadro em que falta oxigênio ao coração por causa da diminuição de calibre dos vasos sangüíneos. Se a isquemia for acentuada e parte do coração morrer, trata-se de infarto.
"Passei seis horas no hospital e tive de ouvir muita piada de amigos dizendo que eu sofria por ser corintiano", lembra.

Sistema digestivo
"É tanta emoção que às vezes preciso correr para o banheiro." A frase do professor de educação física André Ítalo Mauro, 45, resume o impacto da torcida no sistema digestivo. Estômago e intestino também manifestam com freqüência as oscilações emocionais.
"Quando o reflexo vagal é mais forte no estômago, há um aumento na produção de ácido. Quem já tem problemas como gastrite ou úlcera, sente dores agudas. Quando a emoção é mais refletida no intestino, pode gerar diarréia", afirma Almiro Cardoso Ramos.
A Copa também provoca efeitos benéficos no corpo, desencadeados pelas sensações de euforia e de felicidade.
Nicole Witek, consultora de ioga e professora de técnicas de respiração e de combate ao estresse, explica que o riso e a comemoração das vitórias geram benefícios poderosos. "Há elevadas descargas de endorfina, hormônio que produz a sensação de prazer, e de cortisona, que atua como um antiinflamatório poderoso. Além disso, o riso reduz a pressão arterial e ajuda a desintoxicar corpo e mente", elenca. Gol.


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