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Domínio do corpo
Passos de tango exercitam raciocínio e memória
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Tango lembra Carlos Gardel, Astor
Piazzolla, Buenos Aires e baile. E
pode ajudar a lembrar uma série de
outras coisas, dos compromissos
do dia-a-dia a informações importantes. O que talvez nem Gardel nem Piazzolla
(cantor e compositor de tango, respectivamente) sabiam é que a dança derivada desse
ritmo argentino é um bom exercício também
para a memória, capaz de melhorar essa e outras funções cerebrais, como a capacidade de
realizar múltiplas tarefas ao mesmo tempo.
A constatação é de um estudo realizado no
Canadá e apresentado no último encontro da
Sociedade para Neurociências, dos EUA. Conduzido por uma equipe da Universidade
McGill, em Montréal (Canadá), o estudo
acompanhou 30 homens e mulheres de 68 a 91
anos. Metade do grupo se dedicou a aprender
e praticar o tango; a outra metade se restringiu
à prática regular de caminhadas. Após dez semanas de treino, embora os dois grupos tenham melhorado o desempenho nos testes de
memória, o do grupo de tango foi um pouco
superior. No entanto, no teste que media a capacidade de realizar múltiplas tarefas simultaneamente, apenas os "tangueiros" obtiveram
resultados melhores do que os alcançados antes do início dos treinos.
Acredita-se que o aprendizado de novos
movimentos, sua repetição e o esforço para
realizá-los com precisão melhora as funções
cognitivas. Em tese, isso pode ser aplicado a
qualquer tipo de dança. Talvez a escolha do
tango se deva, em parte, ao fato de essa ser
uma das danças de salão mais difundidas
-"hoje deve perder apenas para a salsa, mas a dança caribenha não é para qualquer
um, exige um ótimo condicionamento cardiorrespiratório e muscular", diz o professor
de dança de salão Marco Kina, de São Paulo.
Para quem nunca arriscou um "ocho à frente" (uma das mais populares seqüências de
passos do tango), a primeira impressão é
que o ritmo argentino é a modalidade
mais difícil de dança de salão. Kina também pensava assim até descobrir o tango,
que é hoje sua paixão. "O princípio da dança é muito simples, é andar de forma linear. As
seqüências se tornam cada vez mais complexas, mas têm uma lógica, qualquer um consegue aprender", afirma o professor.
A complexidade do tango está mais na aquisição de um delicado equilíbrio entre os dançarinos, que passam a maior parte da dança
provocando "desequilíbrios" nos movimentos -a perna que sobe, o tronco que se inclina
sobre o parceiro como se fosse levá-lo ao chão.
Isso exige também um refinamento da arte de
conduzir (ou ser conduzido) pelo parceiro.
Outro aspecto bastante trabalhado no tango
é a musicalidade. "O tango não tem uma batida marcada constante. Sai do calmo, dá uma
enlouquecida, pára um pouco, enlouquece de
novo. Isso exige que o dançarino desenvolva
seu senso rítmico interno", acredita Kina.
A música pode ser uma das razões para o
grupo de tango do estudo canadense ter obtido melhor desempenho nos testes cognitivos.
"Há uma hipótese de que a música melhora alguns aspectos da memória", diz o neurologista Paulo Henrique Bertolucci, do departamento de neurologia do comportamento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Outra hipótese é que a memória funciona
por estratégias e, para aprender novos movimentos e memorizar a música e a coreografia,
a mente precisa criar estratégias diferentes daquelas às quais está habituada, exercitando essa capacidade. Portanto, para quem faz palavras cruzadas por obrigação, mas derrete-se
ao ouvir "Mi Buenos Aires Querida", praticar
o tango pode ser uma boa lembrança.
Onde praticar
Centro de Dança Jaime Arôxa - Liberdade (r.
Conselheiro Furtado, 1.003, São Paulo, tel. 0/xx/11/3208-5552)
Companhia de Dança Jaime Arôxa (r. São
Clemente, 155, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/2539-8779)
Academia Golden Fitness (av. Prof. Atílio
Martini, 230, Campinas, SP, tel. 0/xx/19/3249-3090)
Academia Passo Básico (av. Barbacena, 1.062,
Belo Horizonte, tel. 0/xx/31/3337-6388)
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