São Paulo, quinta-feira, 16 de março de 2006
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Domínio do corpo

Passos de tango exercitam raciocínio e memória

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tango lembra Carlos Gardel, Astor Piazzolla, Buenos Aires e baile. E pode ajudar a lembrar uma série de outras coisas, dos compromissos do dia-a-dia a informações importantes. O que talvez nem Gardel nem Piazzolla (cantor e compositor de tango, respectivamente) sabiam é que a dança derivada desse ritmo argentino é um bom exercício também para a memória, capaz de melhorar essa e outras funções cerebrais, como a capacidade de realizar múltiplas tarefas ao mesmo tempo.
A constatação é de um estudo realizado no Canadá e apresentado no último encontro da Sociedade para Neurociências, dos EUA. Conduzido por uma equipe da Universidade McGill, em Montréal (Canadá), o estudo acompanhou 30 homens e mulheres de 68 a 91 anos. Metade do grupo se dedicou a aprender e praticar o tango; a outra metade se restringiu à prática regular de caminhadas. Após dez semanas de treino, embora os dois grupos tenham melhorado o desempenho nos testes de memória, o do grupo de tango foi um pouco superior. No entanto, no teste que media a capacidade de realizar múltiplas tarefas simultaneamente, apenas os "tangueiros" obtiveram resultados melhores do que os alcançados antes do início dos treinos.
Acredita-se que o aprendizado de novos movimentos, sua repetição e o esforço para realizá-los com precisão melhora as funções cognitivas. Em tese, isso pode ser aplicado a qualquer tipo de dança. Talvez a escolha do tango se deva, em parte, ao fato de essa ser uma das danças de salão mais difundidas -"hoje deve perder apenas para a salsa, mas a dança caribenha não é para qualquer um, exige um ótimo condicionamento cardiorrespiratório e muscular", diz o professor de dança de salão Marco Kina, de São Paulo.
Para quem nunca arriscou um "ocho à frente" (uma das mais populares seqüências de passos do tango), a primeira impressão é que o ritmo argentino é a modalidade mais difícil de dança de salão. Kina também pensava assim até descobrir o tango, que é hoje sua paixão. "O princípio da dança é muito simples, é andar de forma linear. As seqüências se tornam cada vez mais complexas, mas têm uma lógica, qualquer um consegue aprender", afirma o professor.
A complexidade do tango está mais na aquisição de um delicado equilíbrio entre os dançarinos, que passam a maior parte da dança provocando "desequilíbrios" nos movimentos -a perna que sobe, o tronco que se inclina sobre o parceiro como se fosse levá-lo ao chão. Isso exige também um refinamento da arte de conduzir (ou ser conduzido) pelo parceiro.
Outro aspecto bastante trabalhado no tango é a musicalidade. "O tango não tem uma batida marcada constante. Sai do calmo, dá uma enlouquecida, pára um pouco, enlouquece de novo. Isso exige que o dançarino desenvolva seu senso rítmico interno", acredita Kina.
A música pode ser uma das razões para o grupo de tango do estudo canadense ter obtido melhor desempenho nos testes cognitivos. "Há uma hipótese de que a música melhora alguns aspectos da memória", diz o neurologista Paulo Henrique Bertolucci, do departamento de neurologia do comportamento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Outra hipótese é que a memória funciona por estratégias e, para aprender novos movimentos e memorizar a música e a coreografia, a mente precisa criar estratégias diferentes daquelas às quais está habituada, exercitando essa capacidade. Portanto, para quem faz palavras cruzadas por obrigação, mas derrete-se ao ouvir "Mi Buenos Aires Querida", praticar o tango pode ser uma boa lembrança.


Onde praticar
Centro de Dança Jaime Arôxa - Liberdade
(r. Conselheiro Furtado, 1.003, São Paulo, tel. 0/xx/11/3208-5552)
Companhia de Dança Jaime Arôxa (r. São Clemente, 155, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/2539-8779)
Academia Golden Fitness (av. Prof. Atílio Martini, 230, Campinas, SP, tel. 0/xx/19/3249-3090)
Academia Passo Básico (av. Barbacena, 1.062, Belo Horizonte, tel. 0/xx/31/3337-6388)


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