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SAÚDE
Questões no ar
Nova pesquisa aponta relação entre o uso de ventiladores no quarto do bebê e a diminuição de casos de morte súbita
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Já se sabe que um ambiente fresco e arejado
ajuda o bebê a dormir
melhor. Mas um relato
divulgado na edição deste mês
da "Archives of Pediatrics &
Adolescent Medicine" vai mais
longe. Pesquisadores da Kaiser
Permanente's Division of Research, na Califórnia, observaram que o uso de ventilador no
quarto reduziria a incidência
da SMSL (síndrome da morte
súbita do lactente) em 72%
-no caso de temperaturas ambientes superiores a 21ºC, a redução com o uso do aparelho
seria de 94%.
Esses dados foram obtidos
por meio de análises de entrevistas realizadas com mães de
185 bebês que morreram por
SMSL e de 312 crianças escolhidas aleatoriamente, mas com
características semelhantes.
Uma das hipóteses é a de que
ambientes pouco ventilados favoreceriam maior concentração de dióxido de carbono perto da boca e do nariz da criança,
aumentando o risco de nova aspiração do gás e de morte. "São
observações novas, mas, na minha opinião, têm fundamentos
insuficientes. Além disso, como
o ventilador lá no teto vai aliviar a concentração do gás?",
pondera Magda Nunes, neurologista infantil e representante
da Sociedade Brasileira de Pediatria para a Comissão Internacional de SMSL. Para ela,
ainda não há motivo para
orientar pais a usarem ventiladores nos quartos.
Ambientes pequenos, excessivamente quentes e pouco
ventilados aumentam o risco
de morte súbita. Mas isso ocorre com mais freqüência em locais onde o inverno é rigoroso,
as janelas permanecem fechadas e o sistema de aquecimento
interno é intenso.
A morte súbita é caracterizada por morte repentina do bebê
sem outra causa identificada.
"É uma situação grave e, apesar
dos inúmeros estudos, nunca
se conseguiu determinar o porquê. A hipótese mais forte é a de
que a criança tenha atraso da
maturação nas estruturas dos
mecanismos do despertar", diz
Nunes. Associada a fatores ambientais, pode levar à morte.
A recomendação é manter o
quarto arejado, em temperatura agradável. O uso de ventiladores ou de ar-condicionado
deve contar com o bom senso
da família. "Não há contra-indicação desde que o vento não fique no rosto da criança", diz
Renata Cocco, pediatra da Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo). O ventilador deve
ficar em um canto, e o quarto
deve ser limpo, com poucos
móveis e bichos de pelúcia.
"Usar o aparelho em ambientes
cheios de objetos que juntam
pó só vai facilitar a disseminação de poeira", alerta a pediatra. O ar-condicionado também
deve ter filtro bem limpo.
Mais freqüente em crianças
com dois ou três meses, a morte
súbita tem como primeiro fator
ambiental de risco a posição do
bebê na hora de dormir. A forma mais indicada é a de costas.
"Mas constatamos em um levantamento que mais de 80%
dos serviços de formação de pediatras no Brasil orientam a
manter o bebê deitado de lado.
Não é uma posição tão ruim
quanto a de bruços, mas pesquisas européias já mostram
que não é tão neutra. Quando o
bebê é um pouquinho maior, já
consegue virar e é mais fácil
chegar à posição de bruços", explica Magda Nunes.
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