São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008
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SAÚDE

Questões no ar

Nova pesquisa aponta relação entre o uso de ventiladores no quarto do bebê e a diminuição de casos de morte súbita

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Já se sabe que um ambiente fresco e arejado ajuda o bebê a dormir melhor. Mas um relato divulgado na edição deste mês da "Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine" vai mais longe. Pesquisadores da Kaiser Permanente's Division of Research, na Califórnia, observaram que o uso de ventilador no quarto reduziria a incidência da SMSL (síndrome da morte súbita do lactente) em 72% -no caso de temperaturas ambientes superiores a 21ºC, a redução com o uso do aparelho seria de 94%.
Esses dados foram obtidos por meio de análises de entrevistas realizadas com mães de 185 bebês que morreram por SMSL e de 312 crianças escolhidas aleatoriamente, mas com características semelhantes.
Uma das hipóteses é a de que ambientes pouco ventilados favoreceriam maior concentração de dióxido de carbono perto da boca e do nariz da criança, aumentando o risco de nova aspiração do gás e de morte. "São observações novas, mas, na minha opinião, têm fundamentos insuficientes. Além disso, como o ventilador lá no teto vai aliviar a concentração do gás?", pondera Magda Nunes, neurologista infantil e representante da Sociedade Brasileira de Pediatria para a Comissão Internacional de SMSL. Para ela, ainda não há motivo para orientar pais a usarem ventiladores nos quartos.
Ambientes pequenos, excessivamente quentes e pouco ventilados aumentam o risco de morte súbita. Mas isso ocorre com mais freqüência em locais onde o inverno é rigoroso, as janelas permanecem fechadas e o sistema de aquecimento interno é intenso.
A morte súbita é caracterizada por morte repentina do bebê sem outra causa identificada. "É uma situação grave e, apesar dos inúmeros estudos, nunca se conseguiu determinar o porquê. A hipótese mais forte é a de que a criança tenha atraso da maturação nas estruturas dos mecanismos do despertar", diz Nunes. Associada a fatores ambientais, pode levar à morte.
A recomendação é manter o quarto arejado, em temperatura agradável. O uso de ventiladores ou de ar-condicionado deve contar com o bom senso da família. "Não há contra-indicação desde que o vento não fique no rosto da criança", diz Renata Cocco, pediatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). O ventilador deve ficar em um canto, e o quarto deve ser limpo, com poucos móveis e bichos de pelúcia. "Usar o aparelho em ambientes cheios de objetos que juntam pó só vai facilitar a disseminação de poeira", alerta a pediatra. O ar-condicionado também deve ter filtro bem limpo.
Mais freqüente em crianças com dois ou três meses, a morte súbita tem como primeiro fator ambiental de risco a posição do bebê na hora de dormir. A forma mais indicada é a de costas. "Mas constatamos em um levantamento que mais de 80% dos serviços de formação de pediatras no Brasil orientam a manter o bebê deitado de lado. Não é uma posição tão ruim quanto a de bruços, mas pesquisas européias já mostram que não é tão neutra. Quando o bebê é um pouquinho maior, já consegue virar e é mais fácil chegar à posição de bruços", explica Magda Nunes.


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