São Paulo, quinta-feira, 16 de outubro de 2008
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ROSELY SAYÃO

Pressa na educação infantil


[...] MUITOS PAIS ENTENDEM QUE A VIDA ESCOLAR SERÁ DECISIVA PARA O ÊXITO DO FILHO; NEM SEMPRE, APONTAM AS PESQUISAS

Nesta época do ano, muitos pais tomam atitudes práticas em relação à matrícula do filho para o próximo ano e, para os que têm filhos na primeira infância, isso pode gerar uma série de dúvidas. Quem tem filho com idade entre quatro e cinco anos pode se atrapalhar: afinal, em qual série a criança deve ser matriculada no formato do ensino fundamental com a duração de nove anos? É bom notar que algumas escolas, com suas orientações, só aumentam a confusão.
Em primeiro lugar, é preciso entender que a educação infantil não é uma preparação para o ensino fundamental. A nomenclatura das escolas (G1, G2 etc.) aponta, em geral, a idade base para a formação do grupo. Assim, G4 diz respeito apenas ao grupo de crianças que iniciam o ano letivo com quatro anos completos ou a completar.
Não há seriação na educação infantil a não ser a de idade. Que, por sinal, poderia não existir. Afinal, por que agrupar crianças de mesma idade? Sabemos que os ritmos delas são muito diferentes na primeira infância. A convivência e o aprendizado conjunto independem da homogeneidade.
Tenho convicção de que o agrupamento por idade empobrece os aprendizados com brincadeiras na primeira infância. Considerado isso, é importante concluir que nenhuma criança "repete" o ano ou fica "retida" em educação infantil.
Uma criança é considerada imatura perante seus pares?
Ora, isso é um julgamento com base em teorias do desenvolvimento que desconsideram a criança em sua individualidade e em seu ritmo pessoal.
O problema é que há uma data de corte para a matrícula no primeiro ano: a criança deve ter seis anos completos ou a completar até o final de junho para iniciar o ensino fundamental.
Essa é uma decisão meramente formal e legal, ressalto.
Assim, pais com filhos que cursaram o G4, mas completaram quatro anos em setembro, por exemplo, são informados pela escola de que o filho irá "repetir" o ano a fim de estar na idade certa na época de iniciar o fundamental. Orientação e informação incorreta, já que, como vimos, não há nem deve haver seriação em educação infantil. A criança com menos de seis anos pode freqüentar a escola por dois, três anos ou até mais que sempre aprenderá coisas novas. Não há criança adiantada ou atrasada na escola nessa idade, está claro?
Agora, é preciso considerar que muitos pais estão ansiosos por apressar a entrada do filho no primeiro ano. Por quê? Essa pressa é fruto, principalmente, do receio de que o filho se "atrase" em relação a outras crianças da mesma idade. Num mundo tão competitivo, muitos pais entendem que a vida escolar será decisiva para o êxito futuro do filho. Nem sempre, apontam as pesquisas.
Conclusão: alguns meses de diferença entre crianças de seis anos podem não significar nada. Um ano a mais ou um ano a menos de vida escolar no ensino básico também podem ter pouco ou nenhum efeito. O mais importante é checar o projeto da escola para a educação infantil e para o primeiro ano do fundamental.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

roselysayao@folhasp.com.br

blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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