São Paulo, terça-feira, 16 de novembro de 2010
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OUTRAS IDEIAS

MIRIAM GOLDENBERG - miriangoldenberg@uol.com.br

Nem marido, nem namorado

Apesar de tantas mudanças, ainda faltam bons nomes para definir os novos formatos de relacionamento amoroso

MUITAS mulheres dizem que não sabem como definir o homem com quem estão tendo uma relação afetiva e sexual.
Algumas moram junto, mas não são casadas legalmente. Outras moram sozinhas, mas têm um compromisso estável. Outras ainda moram no mesmo apartamento, mas cada um tem seu quarto, banheiro, computador, telefone, televisão etc.
Elas dizem que não gostam de chamá-los de "marido", porque indicaria um nível de compromisso que não assumiram. Acham a palavra "namorado" pior ainda, consideram esquisito dizer que estão namorando depois de certa idade. "Namorido" (mistura de namorado e marido) dizem, é ridículo, apesar de o termo estar na moda em alguns meios.
Uma psicóloga de 47 anos diz: "Estou com uma pessoa há mais de dez anos. Eu acho estranho dizer que é meu "marido", porque não moramos juntos. "Namorado" é coisa para adolescente. "Companheiro" parece que sou do Partido Comunista. "Parceiro" parece que ele é meu sócio num negócio. Ele diz para todo mundo: esta é a minha mulher. Adoraria fazer como ele e dizer, apenas, 'este é o meu homem'".
Apesar de décadas de mudanças nas relações de gênero, nas famílias e nos casamentos, não foi inventado um bom nome para definir os homens e as mulheres que vivem novas conjugalidades.
O fato de não existir um nome indica que essas relações não são plenamente reconhecidas socialmente. Daí a necessidade de homens e mulheres usarem velhas definições, talvez como forma de tornar os novos arranjos conjugais mais legítimos, reconhecidos ou seguros.
Trata-se de um problema de classificação. Não conseguimos nomear adequadamente novas formas de compromisso amoroso sem recorrer a categorias anacrônicas, que estão muito longe de serem adequadas.
Uma antropóloga de 50 anos diz que o Facebook está mais antenado com os relacionamentos atuais. "Lá tem como opções: solteira, em um relacionamento sério, em um noivado, casada, em um relacionamento enrolado, amizade colorida, viúva, separada, divorciada. Eu me classifico como tendo um relacionamento sério. Mas na vida real como posso apresentá-lo aos meus amigos? Este é fulano, o meu relacionamento sério?"
Caros leitores e leitoras, alguma sugestão? Enviem suas ideias para o meu e-mail e, quem sabe, conseguimos descobrir uma definição mais satisfatória para as novas formas de conjugalidade. Mas, por favor, nada de namorido!


MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "Intimidade" (Record)


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