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OUTRAS IDEIAS
MIRIAM GOLDENBERG - miriangoldenberg@uol.com.br
Nem marido, nem namorado
Apesar de tantas mudanças, ainda faltam bons nomes para definir os novos formatos de
relacionamento amoroso
MUITAS mulheres dizem que
não sabem como definir o homem com quem estão tendo
uma relação afetiva e sexual.
Algumas moram junto,
mas não são casadas legalmente. Outras moram sozinhas, mas têm um compromisso estável. Outras ainda
moram no mesmo apartamento, mas cada um tem seu
quarto, banheiro, computador, telefone, televisão etc.
Elas dizem que não gostam
de chamá-los de "marido",
porque indicaria um nível de
compromisso que não assumiram. Acham a palavra "namorado" pior ainda, consideram esquisito dizer que estão namorando depois de certa
idade. "Namorido" (mistura
de namorado e marido) dizem, é ridículo, apesar de o
termo estar na moda em alguns meios.
Uma psicóloga de 47 anos
diz: "Estou com uma pessoa
há mais de dez anos. Eu acho
estranho dizer que é meu "marido", porque não moramos
juntos. "Namorado" é coisa
para adolescente. "Companheiro" parece que sou do
Partido Comunista. "Parceiro"
parece que ele é meu sócio
num negócio. Ele diz para todo mundo: esta é a minha
mulher. Adoraria fazer como
ele e dizer, apenas, 'este é o meu homem'".
Apesar de décadas de mudanças nas relações de gênero, nas famílias e nos casamentos, não foi inventado um bom nome para definir os homens e as mulheres que vivem novas conjugalidades.
O fato de não existir um nome indica que essas relações
não são plenamente reconhecidas socialmente. Daí a necessidade de homens e mulheres usarem velhas definições, talvez como forma de
tornar os novos arranjos conjugais mais legítimos, reconhecidos ou seguros.
Trata-se de um problema
de classificação. Não conseguimos nomear adequadamente novas formas de compromisso amoroso sem recorrer a categorias anacrônicas, que estão muito longe de serem adequadas.
Uma antropóloga de 50
anos diz que o Facebook está
mais antenado com os relacionamentos atuais. "Lá tem
como opções: solteira, em um
relacionamento sério, em um
noivado, casada, em um relacionamento enrolado, amizade colorida, viúva, separada,
divorciada. Eu me classifico
como tendo um relacionamento sério. Mas na vida real
como posso apresentá-lo aos
meus amigos? Este é fulano, o meu relacionamento sério?"
Caros leitores e leitoras, alguma sugestão? Enviem suas
ideias para o meu e-mail e,
quem sabe, conseguimos descobrir uma definição mais satisfatória para as novas formas de conjugalidade. Mas, por favor, nada de namorido!
MIRIAN GOLDENBERG, antropóloga e
professora da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, é autora de "Intimidade"
(Record)
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