São Paulo, quinta-feira, 16 de dezembro de 2004
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s.o.s.família

rosely sayão

Não se pode proibir a criança de acreditar em seres imaginários, entre eles o que aparece nessa data

Para entender o Natal e seus símbolos

Pais de crianças pequenas escreveram levantando questões a respeito do Natal. Para uma mãe com dois filhos, com menos de cinco anos cada um, a questão é o Papai Noel: deixar ou não os filhos acreditarem que o personagem existe?
E, em suas reflexões, ela constrói um interessante diálogo consigo mesma em que argumenta a favor e contra a crença das crianças.
Termina, como ela mesma disse, num beco sem saída. Um pai encontra-se mais ou menos na mesma situação de nossa leitora -ou seja, sem saída-, mas por outro motivo ligado ao Natal. A família dele é religiosa praticante, e ele não sabe se deve ou não transmitir o significado religioso da data à filha -que tem quase cinco anos-, já que ele e a mulher decidiram deixar que a filha escolha, quando for a hora, se vai ou não seguir alguma religião, e qual delas. Em se tratando de religião, outra questão interessante surgiu: uma mãe cuja família de origem segue as tradições judaicas não sabe como se portar nessa data com os filhos pequenos.
Por fim, vários pais e várias mães comentam não saber como escapar do caráter consumista do evento. A poucos dias do Natal, essas são boas reflexões, não é mesmo?
O que primeiro salta à vista é a enorme dificuldade dos pais -e não apenas desses que enviaram as correspondências- de fazer escolhas quando a questão é a educação de seus filhos. O que constatamos é que muitos pais não querem se comprometer com suas decisões. Mas é exatamente disso que se constitui a educação familiar!
Além da função básica que os pais têm de ensinar o filho a se cuidar, a falar, a comer, a ir ao banheiro e a conviver, entre outras questões -o chamado processo de socialização primária-, eles devem passar aos filhos a identidade familiar. E isso, só os pais podem fazer. Se eles não o fizerem, os filhos ficarão um pouco órfãos de referências.
Vejamos o caso da religião. Se o casal professa uma, por que não introduzir o filho nessa tradição? Em geral, o argumento que os pais usam para não cobrar do filho a prática religiosa é o da liberdade: eles acreditam que o filho deve ter a opção de escolher por si, de direcionar ele mesmo sua vida. Ora, ocorre que liberdade é sempre liberdade de escolha. E, para escolher, é preciso ter mais de uma possibilidade, mais de uma opção. Se o filho não é introduzido na religião dos pais, fica sem uma das opções.
Além disso, para fazer certas escolhas é preciso maturidade. Uma criança não tem maturidade para escolher se quer ou não ter e praticar uma religião. Assim, ao optar por não passar aos filhos o sentido religioso do Natal, quando a família compartilha essa idéia, em vez de oferecer liberdade ao filho, os pais o deixam excluído da tradição familiar.
Do mesmo modo, quando a família segue outras tradições religiosas -o caso das famílias judaicas, por exemplo-, basta assumir isso com os filhos. Conheço casos de famílias que optaram por entender as festividades natalinas como eventos da cultura do país.
Afinal, o Brasil é um país que se reconhece como cristão. Assim, é possível contar às crianças a história do aniversário de uma figura que é reverenciada e até realizar uma festa em sua homenagem, caso queiram.
Ou então, não fazer nada. Basta a postura comprometida dos pais para que os filhos a respeitem.
E o Papai Noel com seus presentes? O mundo da criança pequena é rico porque tem muito de imaginário. Não se pode proibir a criança de acreditar em seres imaginários, entre eles o que aparece nessa data. E os presentes, e a sede de consumo? Bem, para que os filhos não cultuem o consumismo nessa data, é preciso que os pais não o façam. Eles podem se frustrar ao não receber tantos presentes? Claro que sim. Isso é prejudicial ao desenvolvimento deles? Claro que não!
Um bom Natal e um Ano Novo melhor para todos nós!


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
@>roselys@uol.com.br



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