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foco nele
Autor relaciona quase 500 modos de beijar
GUSTAVO PRUDENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"A mulher ficou em segundo plano. Era ela quem tinha de
doar, de fazer sacrifícios. O homem foi criado para agir, para
ser predatório. Era o homem em primeiro lugar. Isso se
reflete no beijo, que é uma forma íntima de demonstrar
afeto, amor, ódio ou desejo"
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Beijo. Esse é o objeto de estudo do jornalista Pedro Paulo Carneiro, 40. O interesse pelo assunto surgiu cedo, aos 17
anos, quando ele deu seu primeiro beijo
"marcante". Dez anos depois, a pesquisa,
que começou quase por brincadeira, ganhou metodologia. O "beijólogo" elaborou um questionário com 12 perguntas e,
ao longo de 13 anos, entrevistou mais de
16 mil pessoas no Brasil e em vários países, entre eles Reino Unido, França, Indonésia e Estados Unidos.
Além de depoimentos inusitados, Carneiro reuniu informações sobre a história
do beijo e listou 484 formas diferentes de
beijar. O resultado da pesquisa é o livro
"Dossiê do Beijo", que deve ser lançado
pela editora Catedral das Letras no final
deste mês. Leia entrevista abaixo.
Folha - Qual o primeiro registro de beijo
na história?
Carneiro - Nas cavernas de Khajuraho,
na Índia, há a primeira manifestação precisa e cultural do beijo erótico de que se
tem notícia. No meu entender, a Índia é o
país onde mais o beijo se desenvolveu.
Das centenas de formas de beijar que
descobri, quase metade é de lá. O beijo é
cultural, e eles vão muito a fundo na
questão corporal, no ato de se sentir bem.
Afinal, o "Kama Sutra" surgiu na Índia.
Folha - Quais são as diferenças culturais
do beijo?
Carneiro - A liberalidade de nossa sociedade é transmitida para o beijo, que é
realmente mais puxado para o erótico.
Aqui, não existe o pudor do beijo de língua na rua. Mas, na Índia, não se beija na
rua. Na China e no Japão, muito menos. É
algo olhado com espanto, até com desprezo. Na China, antigamente, um casal
pego beijando na rua tomava uma surra
de bastão. Os chineses chegaram até mesmo a desenvolver um "beijo do silêncio",
porque as paredes de suas casas eram
muito finas, e a acústica, grande. Dessa
forma, era possível curtir sem ser escutado. Em Londres, apesar de ser uma cidade liberal, você não vê muita gente se beijando na rua. Já dentro das casas noturnas, onde as pessoas se soltam, o beijo é
liberado e é talvez mais lascivo que o brasileiro. Na Rússia, os homens se beijam
de língua para selar a amizade. O beijo é
também um elemento de ligação social,
um contrato de amizade. Ao beijar alguém, a pessoa está dizendo para o outro
que o aceita em seu grupo.
Folha - O que você descobriu de mais interessante em 13 anos de pesquisa?
Carneiro - O mais interessante são os depoimentos, como o de uma mulher de 87
anos, que teve nove filhos com o mesmo
homem e nunca deu um beijo na boca
dele. A primeira e única vez que ela o beijou foi no caixão -e na testa. Ou seja, fazer sexo podia, beijar na boca, não. Há
também algumas histórias inusitadas,
como a do prefeito de Sorocaba (SP) que,
em 1983, proibiu o beijo na rua.
Folha - Homem e mulher beijam de maneira diferente?
Pedro Paulo Carneiro - Durante muito
tempo, no Brasil e em todo o mundo, a
mulher ficou em segundo plano. Era ela
quem tinha de doar, de fazer sacrifícios.
O homem foi criado para agir, para ser
predatório. Era o homem em primeiro
lugar. Isso se reflete no beijo, que é uma
forma íntima de demonstrar afeto, amor,
ódio ou desejo. O homem, em geral, está
preocupado em deixar uma boa impressão, em enfiar a língua na boca da mulher, fazer um "liquidificador". A mulher,
não. Ela vai para o beijo com instinto romântico, de doação, de dar prazer.
Folha - Quais os tipos de beijo mais comuns?
Carneiro - O "selo" seco, o "selo" molhado e o beijo de língua em cruz, em que as
duas pessoas que estão se beijando inclinam suas cabeças para lados opostos,
formando uma cruz. Infelizmente, porém, o "selinho" é o mais popular. É a
mecânica de repetição, o beijo do casamento e dos namoros longos. Se você
conviver muito tempo com uma pessoa,
vai ver que o beijo de bom-dia e de boa-noite é sempre o mesmo. Em meu livro,
chamo a atenção para que as pessoas se
beijem sempre de formas diferentes.
Folha - E quais os mais inusitados?
Carneiro - Há o beijo indiano que anestesia o céu da boca por alguns segundos.
É uma técnica que inclui pressionar três
vezes a língua na gengiva da outra pessoa. Existe também o "rodutor", um beijo africano no qual um parceiro morde a
língua do outro até sangrar e depois a
beija, chupando a língua e o sangue. Há
outra modalidade indiana em que uma
das pessoas passa pimenta na boca e beija imediatamente a outra. Quando começa a arder, as duas pegam um cubo de gelo e chupam juntas. Experimentei todos
esses tipos. Das mais de 500 variações de
beijo que eu encontrei, 484 eu aprovei.
Folha - Qual o seu beijo preferido?
Carneiro - O beijo mais gostoso é o imprevisível. E o predileto acontece quando
as bocas se casam, quando existe a química, quando as duas pessoas se doam.
Pode ser o "selo" ou o beijo indiano de
anestesiar o céu da boca. Na verdade, um
"selo" pode ser maravilhoso, tudo depende da carga emotiva que você dá. Por
exemplo: chegue perto de uma pessoa,
olhe nos olhos dela, pegue em sua nuca e
faça uma massagem naquela região. Vai
fazer com que o sangue flua melhor e ela
fique relaxada. Chegue perto, encoste o
lábio -sem beijar- e inspire a pessoa.
Só depois de respirar, dê um leve beijo.
Você vai ver que diferente!
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