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ROSELY SAYÃO
A violência mora ao lado
Vivemos na cultura da
violência, e tal fato
afeta profundamente
a formação dos mais
novos. Todos os pais tomam
medidas que miram à segurança dos filhos e transmitem, nas
entrelinhas, lições nem sempre
benéficas sobre a vida em comum. Muitos, por exemplo,
não permitem que os filhos andem ou usem transporte público até a escola. Do mesmo modo, só deixam que eles freqüentem locais que consideram seguros, como clubes, festas em
casa de colegas, shoppings etc.
O que os mais novos aprendem com isso? Que as pessoas
que freqüentam esses locais
são ou ameaçadoras, no caso
dos impedimentos, ou amigáveis, no caso das autorizações.
Pois um acontecimento que
envolveu um grupo de adolescentes de classe média é exemplar para mostrar os equívocos
cometidos com boas intenções
-como quase sempre, é claro.
Um grupo de amigos, todos
por volta dos 14 anos, encontrou-se num shopping de uma
região nobre da cidade. Muitos
pais autorizam que seus filhos
façam tal programa por achar
que lá eles estão seguros. Por
quê? Porque os shoppings têm
um serviço de segurança e porque os freqüentadores costumam ter o mesmo estilo de vida, pois pertencem ao mesmo
grupo social. Grande engano.
Em certo momento, o grupo
foi abordado por outro grupo
composto por jovens um pouco
mais velhos. No confronto público, garotas e garotos foram
humilhados, agredidos moral e
fisicamente e obrigados a fazer
coisas que não queriam.
O confronto tinha o objetivo
de criar uma hierarquia social
pelo uso da violência, ou seja,
identificar quais eram os fortes
e os fracos entre os que compartilhavam o mesmo espaço
público. E atenção para um detalhe sério: muitos adultos estavam no entorno e nenhum
deles tomou uma única atitude.
Que reflexões esse lamentável caso pode provocar? De largada, que a violência está tão
banalizada que nem sempre
percebemos que ela está instalada também no grupo social
que freqüentamos e inclusive
em nosso próprio comportamento. É a isso que chamamos
cultura da violência, e cada um
de nós tem suas responsabilidades em relação a ela.
Precisamos considerar, na
educação familiar e na escolar,
a importância da valorização da
paz. Aliás, educar para a cidadania e para a paz são expressões
muito utilizadas por pais e por
educadores profissionais, mas
carecem de sentido na prática.
Se hoje temos crianças e jovens
que praticam violências cotidianamente é porque temos falhado nesse tipo de educação.
A educação para a cidadania
começa com alguns valores: os
de justiça, solidariedade e respeito; a negociação pacífica de
conflitos também deve ter lugar de realce. A escola do seu filho contempla, na prática cotidiana, essas questões? E na família, como agimos em relação
a elas? Precisamos lembrar que
é participando da vida familiar
e escolar que os mais novos
apreendem os princípios que
norteiam nossa prática de vida.
E é por isso que repetem, a seu
modo, certos comportamentos
aprendidos ou não contidos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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