São Paulo, quinta-feira, 17 de agosto de 2000
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S.O.S. FAMÍLIA
Hoje ele não faz a lição, amanhã compra na net

"Professores estão vendendo, pela Internet, trabalhos escolares sob encomenda para alunos." Essa notícia saiu na Folha de 6 de agosto, e a prática de o aluno comprar trabalhos não é tão recente assim. Temos um bom motivo para conversar sobre um tema dos mais incômodos para a maioria dos pais: a lição de casa. Bem, não é o tema em si que incomoda, mas como o filho enfrenta a responsabilidade de dar conta de seu dever de casa. Aliás, como o filho NÃO enfrenta. A mãe chega em casa cansada, após um longo dia de trabalho, louca para curtir a relação com os filhos, certo? Errado! Ela chega quase que preparada para a briga que vai ter com o filho por saber, de antemão, que ele não fez a lição e que ela vai ter que enfrentar mais uma jornada de trabalho forçado, sentando ao lado do filho para que ele não vá para a escola sem o dever cumprido. E, por causa dessa (mal)dita lição de casa, quantas crianças não ficam de castigo, não levam broncas e ouvem os mais variados sermões? E pensar que o objetivo da lição de casa seria o de apoiar a relação do aluno com o conhecimento! Desse jeito a lição de casa vira martírio para todos. O que podem os pais fazer para evitar tantas brigas inúteis provocadas pela lição de casa? Antes de tudo, permitir que o filho assuma, a seu modo, essa responsabilidade. Claro que nenhuma criança vai saber, sozinha, organizar o seu tempo em casa, tampouco vai querer se lembrar de fazer a lição. Mas, se desde o início, ela tiver a ajuda dos pais para estabelecer um rito que a ajude a resolver sua tarefa escolar, ela vai ter condições de, aos poucos, se responsabilizar pela atitude que tomar. Ela descobre que pode fazer a lição, fazer malfeito, não fazer; mais tarde ela vai descobrir outras possibilidades, como comprar. Mas, para ter liberdade de escolha e se responsabilizar por sua atitude, ela precisa ser avaliada. Por quem? Pela escola! Sim, é do professor a função de cobrar e avaliar a relação de seus alunos com as tarefas escolares, sejam elas feitas em horário escolar ou fora dele. A escola que seu filho frequenta cobra isso de vocês? Hora de avaliar essa escola, não é, não?


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br


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