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A primeira-dama da Ioga
Fonte de
histórias, saúde
e inspiração,
Maria Helena
Bastos Freire foi
a professora
mais incensada
na edição 2010
do evento
Yoga pela Paz
GREICE COSTA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Muitos alunos da escola
Narayana, fundada em Higienópolis há 66 anos por
Maria Helena, não conhecem
seu lado mais afetuoso.
"De mim, os alunos não
têm os sorrisos; os novos até
estranham, eu passo feito furacão. Cada um tem o seu papel, o meu não é o de agradar
os outros. O meu é de correr
atrás, de resolver as coisas."
Podemos acreditar que o
principal papel desenvolvido
por essa senhora de 82 anos
foi -e é- o de disseminar a
cultura da ioga no Brasil. "E
no mundo", corrige ela.
Maria Helena, além de dirigir seu instituto, é presidente da International Yoga
Coordinations Centre, com
sede na Índia, do Colegiado
de Yoga do Brasil - Dharmaparishad, da Associação Internacional de Professores
do Brasil e da Federação de
Yoga do Brasil. Também é
autora de oito livros, e continua ativa na organização de
congressos internacionais de
ioga na Índia.
CORAGEM E DESAPEGO
Para essa primeira-dama
da ioga no Brasil, os grandes
atributos para a autorrealização, e que a ajudaram nesse
caminho longo, são coragem
e desapego.
Coragem não faltou nunca. Especialmente quando,
em 1971, saiu de um congresso na Austrália direto para a
Índia, com a incumbência de
organizar aqui o primeiro festival internacional de ioga.
Na época, aquele país encontrava-se em guerra com o
Paquistão, ela conta. "A última invasão tinha acontecido
e eu estava a caminho. Não
existia e-mail, e meu marido,
aflitíssimo, mandou um telegrama me pedindo para voltar. Fingi que não recebi e fui
assim mesmo."
Logo assinaram um tratado de paz e a professora foi a
Calcutá, onde conheceu seu
preceptor espiritual. "Rodei a
Índia toda com um gravador
enorme pendurado no pescoço, conhecendo, entrevistando e convidando professores para o congresso", diz.
Não havia turistas, muito
menos mulheres ocidentais,
o que despertou estranhamento, mas também a simpatia dos indianos. Maria Helena conseguiu uma audiência com a então primeira-ministra Indira Gandhi, que autorizou a saída de todos os
convidados.
Já de volta ao Brasil, enfrentou dificuldades por ser
mulher, pelo fato de o país viver na ditadura e, mesmo
com boicotes e vistos negados, o congresso aconteceu.
"Quando você dá a sua palavra, tem que fazer, não é
como hoje em dia que a palavra vira vento. Para isso, coragem é indispensável."
Confiança no que se faz
também, ensina. "Tenho feito coisas incríveis porque
confio, sei que vai dar certo.
Nisso, ajuda um dos princípios do ioga: não adianta
transferir a responsabilidade
para os outros, para os santos, ela é só sua", filosofa.
A coragem parece um dom
natural da professora, mas o
desapego, nem tanto. "O
apego é danado! Não percebemos nossos apegos, alguma mania, tudo é apego."
Seu maior obstáculo, confessa, é o apego com o tempo.
"Ou melhor, com o aproveitamento do tempo. Não gosto
de chegar no fim do dia, do
ano e perceber que não aproveitei como deveria."
Talvez essa característica
faça com que ela seja uma
pessoa difícil de lidar. "Eu
não sou fácil. Sou muito exigente comigo e com os outros", assume.
Por outro lado, tem uma ligação estreita com sua equipe. Só aceitou receber a homenagem do evento ocorrido
na última semana, com encerramento no parque do Ibirapuera, sob a condição de
poder dividir, no palco, o troféu com representantes de
todas as organizações que
ela dirige.
Fácil ou não, Maria Helena
equilibra experiência com
doçura, tradição com tecnologia. Adora envelhecer: "É
uma delícia. Cultivo a saúde,
gosto de comer o que me faz
bem, dormir o necessário,
praticar posturas de ioga pelo menos três vezes por semana. Eu me respeito, gosto de
mim, entende?", conta.
Usa no braço uma pulseirinha de silicone com holograma que promete efeitos como
força e equilíbrio e é moda
entre surfistas, praticantes
de ioga e de outros esportes.
Atualiza-se com o filho e a
nora, cientistas, que colaboram em seus cursos.
Maria Helena não usa a palavra "guru". "Isso deturpou-se com a vinda dos mestres
indianos ao Ocidente. A
maioria conhecida aqui não
é séria", critica.
A professora não parou de
estudar. Mantém viva a mesma curiosidade que a levou à
ioga -conta que, aos 13
anos, leu poemas épicos da
Índia, descobertos na fazenda do avô. "Posso me considerar uma pessoa altamente
feliz. A ioga diz que cada pessoa tem em si mesma essa
possibilidade da realização
da sua verdadeira identidade. Quando você procura a
sua identidade, está praticando ioga."
GREICE COSTA é diretora editorial da
revista "Yoga Journal"
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