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SAÚDE
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Homens relutam em ir ao médico, mas atitude pode mascarar doenças importantes; saiba como se cuidar da infância à velhice
Letícia Moreira/Folha Imagem
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Hector Cáceres, que descobriu um câncer de próstata após procurar o médico por insistência da mulher
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
MARIANA VERSOLATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Antonio não sabe se é
por medo, vergonha
ou preconceito, mas
só vai ao médico sob
protestos. Armando costuma
esperar a dor passar sem intervenção médica. E Hector só vai
ao médico arrastado pela mulher, com supervisão dela, para
se certificar de que ele não desistirá no meio do caminho.
As estatísticas refletem o
comportamento masculino
diante dos especialistas: eles se
cuidam menos do que as mulheres. Em 2007, por exemplo,
foram feitas no Brasil 17 milhões de consultas ao ginecologista, contra 2,5 milhões de
consultas ao urologista, segundo José Carlos Almeida, presidente da Sociedade Brasileira
de Urologia.
Na opinião de Almeida, o homem geralmente se afasta do
médico por medo de receber
um diagnóstico negativo e não
saber como lidar com a doença.
Também contribui o medo dos
exames -principalmente do
toque retal, que ajuda a detectar o câncer de próstata. Além
disso, diz Almeida, a ausência
dos homens nos consultórios
está ligada a questões culturais,
"a uma atitude machista de que
eles não sentem dor".
O analista de sistemas Antonio da Silva Júnior, 32, é um
exemplo dessa resistência.
Mesmo com um histórico familiar de doenças cardíacas, câncer e problemas na próstata,
evita ir ao médico. "Parece-me
que quem vai ao médico é
doente moribundo", alega. Se
não sente dor, não vê motivos
para marcar uma consulta. "O
homem é ensinado a fingir que
pode aguentar qualquer problema, ao contrário das mulheres, que recebem orientações
para se cuidar e ir ao ginecologista desde cedo", afirma.
No entanto, a ausência masculina nos consultórios não significa que eles são menos suscetíveis a doenças do que as
mulheres. Dados do Ministério
da Saúde mostram que, a cada
três mortes de pessoas adultas
no Brasil, duas são de homens.
Apesar de esse índice computar
todas as causas de morte, oito
das dez primeiras estão relacionadas à saúde. Eles vivem, em média, sete anos menos do que
elas e têm mais doenças do coração, câncer, diabetes, colesterol alto e hipertensão. Os homens também fumam mais, sofrem mais de estresse e têm hábitos menos saudáveis que elas.
Um estudo feito pela empresa SulAmérica com 26 mil homens de 12 Estados brasileiros
constatou que 60% deles têm
sobrepeso e 20% sofrem pressão arterial elevada - só 8% sabem que têm a hipertensão. Esses problemas estão relacionados a doenças cardiovasculares,
como derrame cerebral e infarto do miocardio, as que mais
matam homens no país.
Benito Lourenço, hebiatra da
Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo),
diz que o distanciamento do
homem em relação ao médico
começa na vida adulta. Para ele,
isso acontece porque na infância e na adolescência os cuidados médicos estão sob responsabilidade dos pais.
Por volta dos 20 anos, fica a
cargo do homem ir ao médico
por conta própria, mas eles costumam não ter queixas de saúde. O problema é que, exatamente nessa faixa etária, o foco
deveria estar na prevenção, de
olho no futuro. "Entretanto, os
jovens adultos se mantêm afastados do médico por se sentirem em pleno vigor, como se
nada de errado pudesse lhes
acontecer", diz Lourenço.
Urologia
De tanto ouvir as broncas de
sua mulher, Blanca, 65, é que o
corretor de imóveis Hector Cáceres, 68, resolveu ir ao urologista, depois de passar dois
anos bem longe dos consultórios. "Ela não me deixa em paz",
diz ele, brincando.
Ainda bem que ela insistiu:
foi assim que ele descobriu que
tinha câncer de próstata. O
diagnóstico, felizmente, foi feito no estágio inicial da doença
-nesses casos, a chance de cura
chega a 80%, de acordo com
Carlos Dzik, oncologista do
Icesp (Instituto do Câncer do
Estado de São Paulo Octavio
Frias de Oliveira).
O câncer de próstata é o sexto
tipo de tumor mais comum no
mundo e o mais prevalente em
homens. Acomete principalmente aqueles com mais de 65
anos -que correspondem a
três quartos dos casos no mundo, segundo o Inca (Instituto
Nacional de Câncer). Por isso, é
recomendado o exame anual de
toque retal e de dosagem do
PSA (antígeno prostático específico, na sigla em inglês) a partir dos 45 anos.
A influência das mulheres
para convencer o homem a
buscar tratamento também
conta quando o problema está
relacionado à vida sexual. Um
levantamento do Hospital das
Clínicas de São Paulo divulgado
na semana passada mostrou
que 30% dos que buscam o Ambulatório de Sexualidade da
instituição o fazem a pedido da
companheira.
A disfunção erétil, que atinge
principalmente homens com
mais de 60 anos, representa
55% dos atendimentos. A
maioria dos casos têm tratamento, o que pode representar
uma melhora considerável na
qualidade de vida dos pacientes
-mas é preciso buscar ajuda.
Exceção
Nem todos fogem do médico
-por histórico familiar de
doenças, pela preocupação com
a saúde ou para dar um bom
exemplo em casa.
O bancário Erbert Vieira, 41,
faz todos os seus exames anualmente. Ele se preocupa, já que
mãe e o irmão têm diabetes e o
pai morreu há duas semanas,
de infarto. E faz questão de ensinar ao seu filho Kauê, 6, a importância dos cuidados com a
saúde em todas as fases da vida.
Kauê nasceu com hipospádia
-uma abertura anormal do orifício por onde sai a urina.
Atentos, Erbert e sua mulher,
Sônia, repararam que o prepúcio (pele que cobre a glande)
não permitia que o filho urinasse normalmente.
Os dois levaram Kauê a um
urologista para que fosse feita
uma cirurgia de correção. Foram quatro tentativas frustradas, pois a sonda escapava no
período de recuperação. Na
época, Sônia conversou com
Kauê e explicou que, como a cirurgia era muito delicada, eles
desistiriam por um tempo e
tentariam novamente apenas
quando ele fosse mais velho.
No entanto, foi o próprio
Kauê quem pediu para tentar
de novo, depois de questionar
por que não fazia xixi igual ao
pai. Na quinta vez, deu certo.
Sintomas
Dos pacientes atendidos no
Hospital das Clínicas por Yolanda Maria Garcia, professora
de geriatria da Faculdade de
Medicina da USP, apenas 30%
são do sexo masculino. Para ela,
ainda existe o mito do homem
forte e a ida ao médico seria vista como um sinal de fraqueza.
O aposentado Armando Danielli, 70, é um dos que evitam o
consultório. "Se dá uma dor, espero passar. Em último caso,
corro para o médico com a pulga atrás da orelha." E a última
vez em que "correu" foi para retirar uma pedra no rim, depois
de sentir fortes dores. "Aí não
teve jeito."
Antes disso, não lembra
quando consultou um médico
-muito menos de tê-lo procurado espontaneamente, para
prevenção. Em um esforço para
tentar recordar quantas vezes
já fez o exame para câncer de
próstata, afirma, quase envergonhado: "Só uma vez na vida".
Mas a dor ou qualquer outro
sinal anormal do organismo indica que algo não vai bem. Por
isso, exames periódicos podem
ajudar a averiguar como anda a
saúde e prevenir complicações.
Veja ao lado quais são os principais exames que o homem deve
fazer em diferentes fases da vida. A necessidade de diagnósticos para condições específicas
de saúde e de histórico familiar
para outras doenças deve ser
avaliada diretamente com um
especialista.
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