São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002
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Problemas sexuais são tratados no divã

A terapia sexual é breve, dura cerca de seis meses, é focada em um único tema e pode ser individual, de casal ou de grupo

ANTONIO ARRUDA - DA REPORTAGEM LOCAL

Somente agora, aos 40 anos, consegui ter prazer sexual", diz Waldemir S., que desde os 15 sofria de ejaculação precoce e hoje está quase curado. A farmacêutica Simone, 30, teve o primeiro orgasmo da sua vida há cinco meses. Até então sentia desejo e ficava excitada, mas não suportava a penetração. "Eu sentia culpa e queria acabar logo com a "transa"."
Waldemir e Simone, que não quiseram dar o sobrenome, são algumas das vítimas de disfunção sexual que encontraram ajuda num tratamento especializado: a terapia sexual.
Surgida nos EUA na década de 50, ela chegou aqui nos anos 80 e vem se difundindo nos últimos dez anos. Mercado parece não ser problema. Segundo o Estudo do Comportamento Sexual do Brasileiro, o maior do gênero já realizado no Brasil, com 2.835 pessoas de sete cidades brasileiras, 46,2% dos homens sofrem de disfunção erétil e, para 34,6% das mulheres, falta desejo sexual.
Breve (o tratamento tem duração média de seis meses) e focalizada (o problema tratado é sempre o desempenho sexual), a terapia sexual pode ser realizada em grupo, com o casal ou individualmente (leia textos abaixo). É a única forma de curar definitivamente as disfunções sexuais, diz o presidente da Associação Médica Brasileira de Sexologia, o sexologista José Carlos Riechelmann.
Números do sucesso da terapia sexual, segundo Riechelmann, obtidos na literatura científica: ela é responsável pela cura de cerca de 90% dos casos de dispareunia (dor na penetração), de cerca de 70% dos casos de anorgasmia (ausência de orgasmo) e de 80% das ocorrências de ejaculação precoce.
"Ainda existe a idéia de que toda a problemática do tratamento sexual fica resumida à questão dos medicamentos. Isso é simplório demais", diz Riechelmann, ressaltando que drogas como o Viagra, apesar da eficácia, acabam reforçando a idéia de que um "elixir mágico vá surgir e acabar com todos os males sexuais".
Com isso, ainda segundo o médico, as pessoas tendem a adiar a procura pela terapia sexual, "o que é uma perda muito grande de tempo, porque a terapia vai fazer a pessoa pensar e falar sobre seus dramas, além de utilizar exercícios para acelerar o seu processo de recuperação".
Riechelmann, ao lado dos principais especialistas em psicologia, psiquiatria e sexualidade do Brasil, participará amanhã e sábado, em SP, da 1ª Jornada Sbrash-Unip de Sexualidade Humana, evento que tem como objetivo fomentar o debate entre profissionais da saúde.
Ao apresentar uma disfunção sexual por um período de seis meses, a pessoa deve primeiro consultar um urologista ou um ginecologista e, eventualmente, um endocrinologista, para descartar a hipótese de causa física, o que ocorre em cerca de 30% dos casos, segundo a psiquiatra Carmita Abdo, do Projeto Sexualidade (ProSex), do Instituto de Psiquiatria do HC de São Paulo.
Doenças degenerativas do rim, do coração e do fígado, diabetes, hipertensão e hipo e hipertireoidismo podem ter como consequência perda de ereção e ejaculação precoce e dispareunia e anorgasmia. Segundo Abdo, em 70% dos casos a causa da disfunção é psicológica.
A dificuldade de ereção do aposentado Pedro Ramos, 54, poderia ser decorrente das cirurgias a que havia se submetido -no fêmur, na bacia e no coração. "Mas os médicos disseram para eu ir ao terapeuta sexual", conta ele, que fez terapia em grupo e diz que gostaria de "pegar a terapeuta no colo e dar-lhe um beijo, porque ela fez um milagre!".
Não se trata de milagre, mas de muita conversa, dramatizações e exercícios de autoconhecimento e de sensibilização, como tocar o corpo em frente ao espelho, tomar banho com esponjas de diversas texturas e, durante um período, substituir a relação sexual genital pela exploração do corpo da (do) parceira (o) via toques e carícias.
O terapeuta tem a missão de identificar em qual das três fases ocorre a disfunção do paciente. São elas: a fase do desejo (quando a pessoa nem pensa em sexo e também não fantasia); a da excitação (se o homem perde a ereção ou ela não sente estímulo no clitóris) e a do orgasmo.
"A terapia sexual vai fazer a pessoa perceber que é indispensável se conhecer e ter prazer consigo próprio para dar prazer ao outro", diz Aparecida Favoreto, psicóloga e diretora do Instituto Paulista de Sexualidade.
Para Sonia Daud, coordenadora do curso de terapia sexual da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana (Sbrash), "só a terapia sexual pode derrubar tabus e liberar as pessoas de fantasmas que atrapalham o desempenho sexual".

46,2% dos homens apresentam algum nível de disfunção erétil

34,6% das mulheres apresentam falta de desejo sexual

Em homens, distúrbios de desejo e de orgasmo são três vezes menos frequentes do que em mulheres


Fonte: Estudo do Comportamento Sexual do Brasileiro, realizado pelo ProSex do HC e pela FioCruz.



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