São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002
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Paciente no Brasil recebe parecer médico dos EUA

Médicos lançam, no Rio de Janeiro, serviço para quem busca segunda opinião médica em centros de excelência no exterior

MARIÂNGELA DEVIENNE - FREE-LANCE PARA A FOLHA

Problemas graves de saúde, cujo diagnóstico e tratamento podem ser determinantes para a vida futura do paciente, costumam levá-lo a buscar uma segunda opinião médica. Nos casos mais complexos, a resposta pode estar fora da fronteira do conhecimento científico que o país domina. Foi justamente esse o caso da geriatra Carla Frohmüller Andrade.
A médica havia perdido três bebês quando entrava no oitavo mês de gestação. Após vários exames, viu-se diante do tratamento, ou melhor, dos tratamentos: eram três opções. Decidiu-se por ouvir a opinião de um profissional no exterior.
Apesar de ser médica e falar inglês, deparou-se com vários questionamentos, como qual especialista procurar ou quais os procedimentos para marcar uma consulta. Isso a fez idealizar, em parceria com o marido e médico, Marcos Eliseu Fonseca Andrade, que cursou clínica-geral em Harvard e geriatria na Universidade da Califórnia, um serviço de segunda opinião médica por meio de convênio com centros de excelência nos EUA.
Segundo levantamento feito pelo hospital de Harvard, em Boston, em 15% dos casos, as consultas de opinião causaram alteração do primeiro diagnóstico e, em 71% dos casos, contribuíram para modificar o tratamento inicialmente adotado. Segundo a médica, casos que ela têm acompanhado mostram que o diagnóstico, em geral, tem sido correto, o que muda é o procedimento a ser adotado. Isso ocorre porque o país possui meios sofisticados para fazer diagnósticos com precisão, mas nem sempre consegue um consenso sobre tratamento, diz.
A Clínica Wecare, no Rio de Janeiro, de propriedade da dupla de médicos, possui convênio com a Escola Médica de Harvard (EUA) e com os hospitais ligados a ela, como o Hospital Geral de Massachussets e o Birghams Women Hospital, em Boston, com o hospital da Universidade Jonhs Hopkins, considerado o número um dos EUA, e com a Clínica de Cleveland.
A médica lembra o diagnóstico de uma paciente que recorreu ao serviço de sua clínica. Ela tinha tumor na hipófise e três opiniões diferentes para tratamento: cirurgia, medicamento e radioterapia. Seu caso foi enviado pela Wecare para Cleveland, onde foi analisado por um neuropatologista, um oncologista e um especialista em radioterapia, entre outros. Por meio de um só laudo, mas com a anuência de vários médicos, a paciente recebeu a notícia de que seu caso era cirúrgico, conta a médica.
O serviço de diagnóstico da Wecare utiliza a telemedicina (medicina à distância) para obter o parecer dos médicos de fora. Primeiramente, o paciente reúne-se com os médicos da clínica carioca, o que pode durar cerca de quatro horas e custar até R$ 600. Nesse encontro, o paciente preenche um detalhado formulário sobre seu histórico médico, além de apresentar todos os exames e laudos. O custo para obter o parecer no exterior pode variar de US$ 800 a US$ 1,3 mil.
Depois, os exames são digitalizados e enviados via internet. "Se há dúvidas sobre um diagnóstico de mal de Parkinson, filmamos o paciente caminhando; se há uma lesão de pele, fazemos as imagens, digitalizamos e enviamos pela internet", diz a médica.
Dependendo do caso, em até seis dias o laudo com o parecer do centro de referência escolhido chega ao Brasil. Não há interferência dos profissionais brasileiros no tratamento a ser adotado, mas a equipe fica disponível para esclarecer ou encaminhar para o especialista norte-americano as dúvidas que possam surgir no acompanhamento do caso. Os médicos asseguram que todo o processo é sigiloso.



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