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Conhecer as diferenças ajuda a aproximar
Estudos mapeiam as peculiaridades do homem e da mulher
IARA BIDERMAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Quem tem mais acne e gagueja mais? Quem tem mais dor de
cabeça e artrose de joelho? Descobrir as diferenças ocultas
entre homens e mulheres é mais do que um joguinho de adivinhação. E muito mais do que uma disputa sobre quem leva vantagem. "As diferenças fazem sentido: a convivência entre os sexos
facilita a sobrevivência [da espécie humana]", diz Paulo Bertolucci, neurologista da Unifesp.
O estudo dos gêneros é um caminho
para tratar a saúde "de forma mais específica e objetiva", diz o neurologista
Abouch Krymchantowski. Saber que determinado distúrbio é mais comum em
um dos sexos leva a um diagnóstico mais
rápido, diz o reumatologista Daniel Feldman, da Unifesp. E diagnóstico precoce, é
sempre bom repetir, é fundamental para
o sucesso dos tratamentos, como lembra
Roseli Monteiro, da área de prevenção do
Instituto Nacional do Câncer (Inca).
Os homens, que são mais sujeitos a desenvolver doenças cardiovasculares, têm
motivos em dobro para cultivar hábitos
que os protejam dessas doenças, a maior
causa de mortes no Brasil e no mundo,
diz o cardiologista Antonio de Padua
Mansur, diretor da Unidade Clínica de
Emergência do Incor. Isso não quer dizer
que a mulher não deva se preocupar -os
casos crescem entre elas, diz Mansur.
As investigações sobre as diferenças entre o homem e a mulher "ajudam a desenvolver tratamentos mais específicos
baseados em um novo critério: gênero",
diz Emeran Mayer, diretor do Centro de
Ciências Neuroviscerais e Saúde da Mulher da Universidade da Califórnia
(Ucla), nos EUA. Mayer é co-autor de um
estudo que mostrou que as áreas do cérebro estimuladas pela dor são diferentes
no homem e na mulher.
Esse tipo de trabalho, muito comum
nos EUA, ainda é pouco realizado aqui.
Mas a medicina brasileira acompanha de
perto as novidades científicas e já existem
grupos de estudos na área. No Instituto
de Psiquiatria do HC, o Gender Group
(Grupo de Gênero) reúne psiquiatras,
psicoterapeutas e psicólogos para pesquisas com homens e mulheres. Os modos femininos e masculinos de olhar o
cotidiano e lidar com os conflitos são objeto de estudo e discussão.
O psiquiatra Luiz Cuschnir, coordenador do grupo, acredita que as mulheres
têm mais contato com o que sentem e sabem se expressar melhor. Os homens estão mais voltados para executar atividades sem verificar a qualidade emocional
do que fazem. Claro que tais características têm profundas ligações com a cultura. Mas estão também em clara concordância com as novas descobertas da neurociência. O estudo da Universidade da
Califórnia mostrou, por meio de aparelhos de mapeamento do cérebro, que o
estímulo da dor ativou nas mulheres as
regiões límbicas do cérebro, relacionadas
às emoções. Nos homens, as áreas cerebrais mais estimuladas pela dor foram as
cognitivas, os centros analíticos.
A tendência masculina é dominar o hemisfério cerebral esquerdo, mais voltado
à análise lógica; as mulheres dominam
melhor o lado direito, que propicia uma
relação mais holística ou intuitiva com o
mundo, diz o neurologista Luís Vilanovas, da Unifesp. Ocorre que o mundo,
hoje, exige uma integração entre raciocínio e emoção, diz Cuschnir. Pois o estudo
de gêneros pode dar o caminho.
Respostas às perguntas do início: o homem tem mais acne e gagueja mais, e a
mulher é quem sofre mais de dor de cabeça e artrose de joelho. Descubra, nas
páginas seguintes, mais uma dúzia de diferenças e como a ciência as explica.
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