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DEFICIÊNCIA
A terapia da horta
Importado da Coreia, projeto de horticultura terapêutica ajuda deficientes intelectuais
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Quem gosta de jardinagem costuma dizer que a atividade é
"terapêutica": botar
a mão na terra, seguir o ritual
da rega periódica e acompanhar o crescimento da planta
podem, de fato, fazer com que a
pessoa se esqueça dos problemas e da correria da vida diária.
Pois agora uma entidade sem
fins lucrativos decidiu levar isso a sério e passou a oferecer
horticultura terapêutica para
deficientes intelectuais de baixa renda. A Avape (Associação
para Valorização de Pessoas
com Deficiência) importou o
método da Coreia do Sul -lá,
ele é usado com idosos e é alvo
de estudos no National Horticultural Research Institute.
Do fim do ano passado para
cá, foram 12 encontros de duas
horas com 32 pessoas, 16 deficientes e 16 familiares, na sua
unidade em Riacho Grande,
São Bernardo (Grande São
Paulo). Atualmente, a instituição avalia os resultados desse
projeto piloto -se tudo der certo, a ideia é que ele se torne
uma atividade permanente
nessa e em outras unidades.
Segundo Alexandra Melo, gerente de unidade da Avape, a
participação dos parentes é
ponto chave no programa. "A
ideia é resgatar os vínculos familiares. Atendemos muitas famílias com relações conturbadas, que superprotegem ou negligenciam o deficiente. Isso interfere na reabilitação deles."
Ela afirma que a nova oficina
é diferente da simples jardinagem, que já era oferecida no local anteriormente. "Antes, tratava-se de uma atividade mais
ocupacional. Agora, cada encontro tem um objetivo terapêutico bem definido, com começo, meio e fim", diz.
Os participantes plantam as
mudas, regam as plantas,
acompanham o crescimento e
replantam em vasos decorados
por eles. O objetivo é trabalhar
questões como cooperação,
afetividade, responsabilidade,
senso crítico e criatividade.
Além de dois biólogos, uma
psicóloga e um assistente social
acompanham a oficina. Após
cada sessão, há discussão sobre
o que foi trabalhado naquele
dia. "É feita uma avaliação inicial da família com testes psicológicos, que são reaplicados no
final do processo", afirma Melo.
Ela diz que já deu para perceber uma melhora na afetividade. "Atendemos mães com sérias dificuldades para demonstrar carinho, elogiar o filho.
Nesse ponto já sabemos que o
projeto foi muito significativo."
Em um dos encontros finais,
os participantes aprendem a
preparar um prato com as hortaliças plantadas. Foi aí que a
dona de casa Olívia da Silva, 59,
surpreendeu-se com sua filha,
Kely de Santana, 30. "Ela nunca
tinha comido alface. Eu tinha
que bater as folhas com frutas e
dar na forma de vitamina, para
"tapear". Dessa vez ela comeu
tudo", lembra.
Kely tem deficiência intelectual e, ultimamente, a mãe a vinha notando arredia. "A oficina
foi muito importante, fez com
que a gente se aproximasse
mais. Ela ficou mais próxima e
voltou a me procurar", diz.
Kely plantou alface, rúcula e
flores -sua preferida era o
amor-perfeito, da qual levou
um galhinho para casa.
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