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ROSELY SAYÃO
Regras coletivas
A mãe de um garoto de
nove anos escreveu
reclamando de uma
regra que a escola que
seu filho frequenta adota. Ela
marcou uma visita do menino
ao pediatra e queria buscá-lo
antes do fim das aulas. Só que a
escola não permite essa prática
e, mesmo com a insistência dela, não cedeu. Resultado: o garoto precisou faltar nesse dia.
Nossa leitora tem dois argumentos para contestar a posição da escola: considera melhor
o aluno assistir a uma parte da
aula do que faltar o dia todo e
acha que a rigidez e o apego às
regras não contempla a diversidade da necessidade dos alunos. Creio que essa questão
merece uma boa reflexão.
Antes de tudo, vamos lembrar que à escola cabe a transmissão do conhecimento em
uma situação específica: no coletivo. Os alunos devem aprender com seus colegas, e isso leva
a uma série de outros aprendizados. Um deles é o respeito às
leis da instituição escolar, um
espaço de convívio público.
Muitas das leis que existem
na escola são resultantes de
princípios que servem de base
ao bom convívio. Está certo que
muitas escolas se importam
mais com as regras do que com
os princípios por trás delas e,
por isso, exageram nas medidas
que tomam. É o caso do uso do
uniforme, por exemplo. Sei de
alunos que foram impedidos de
entrar na escola porque usavam meias brancas com pequenos enfeites coloridos.
Mas, à parte esses equívocos,
os pais deveriam acatar as leis
escolares e incentivar os filhos
a respeitá-las porque, assim,
ensinam também o que significa ser cidadão, viver em comunidade. Imagine, leitor, uma escola com centenas de alunos
tendo de administrar entradas
e saídas fora do horário. As aulas ficam confusas, os alunos,
dispersos, e o espaço, desorganizado. E isso influencia o
aprendizado de todos.
É por isso que o trânsito, por
exemplo, tem suas leis: para
proteger a todos os que caminham ou dirigem seus carros
nas ruas. As transgressões a essas leis colocam em risco muita
coisa, inclusive a segurança de
todos nós. E, como o trânsito é
caótico porque cada um pensa
apenas em suas necessidades,
sabemos que o resultado não é
bom para ninguém.
Lembro-me de uma época
em que o ator Antonio Fagundes decidiu ser rigoroso no horário de uma peça que encenava. Quem chegasse após o início
era impedido de entrar. Isso gerou polêmica. Por quê? Porque,
no modo de vida individualista
que adotamos, pouco nos importa o outro, já que tudo o que
interessa é o que "eu quero agora" ou de que "eu preciso".
Pois é, estamos mais para a
televisão do que para o cinema
ou o teatro. Enquanto assistimos à TV, comemos, conversamos, atendemos ao telefone,
"zapeamos" etc. Não há ritual
necessário. Já no cinema ou no
teatro, devemos seguir alguns
rituais, e isso tem incomodado
muito. Mas uma sociedade desritualizada leva a dificuldades
de convívio.
Por isso, senhores pais, é
bom ensinar aos filhos o respeito às leis escolares. Quando a
escola demonstrar rigidez, e
não rigor, aí é hora de dialogar
em busca dos princípios de base das leis que aplicam.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@uol.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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