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Providências como levar o pedaço do dente ao dentista ou o produto ingerido pela criança para o PS ajudam no atendimento
Guia de primeiros socorros para evitar o pânico
GABRIELA SCHEINBERG
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A emergência sempre foi vista como sinônimo de pânico. E é justamente
o pânico que pode fazer uma emergência tornar-se uma questão de vida ou morte. Mesmo as urgências mais simples, como um corte profundo ou
um tornozelo torcido, podem ser resolvidas com calma. Porém é preciso saber como agir. Há procedimentos que devem ser tomados -outros que devem ser rechaçados- antes de a pessoa sair de casa com destino ao PS.
Em primeiro lugar, trate de manter a
calma. "Se a pessoa entrar em pânico, então a situação está perdida. O momento
da emergência é o momento de ouro.
Tem de tratar da situação com a maior
frieza", diz Sérgio Timerman, diretor de
treinamento, simulação e pesquisa em
emergência do Incor. Em segundo lugar,
a pessoa (ou seu acompanhante) deve ter
registrado os mínimos detalhes do ocorrido, o que auxiliará o atendimento feito
pelo médico de emergência.
É na mão desse especialista que se coloca a saúde ou, nos casos mais graves, a
própria vida. Pois esse profissional com
tamanha responsabilidade acaba de ser
oficialmente reconhecido. Desde o mês
passado, a medicina de urgência é uma
área de atuação da clínica médica, com
direito a especialização.
"O médico de urgência é um clínico-geral habilitado em reconhecer e tratar rapidamente os problemas", explica Timerman. "Só agora o Brasil passou a reconhecer esses profissionais, coisa que o
resto do mundo já fez há muito tempo."
Nesse sentido, não é apenas a classe
médica que está atrasada. A população
em geral, segundo os especialistas, é
completamente desinformada sobre o
significado da emergência, sobrecarregando o serviço dos prontos-socorros
com atendimentos desnecessários. Na
unidade Itaim do hospital São Luiz (SP),
por exemplo, uma procura frequente é de
pessoas com gripe.
"Não há nada que se possa fazer, a não
ser esperar que a gripe passe. Mas as pessoas confundem gripe, que é provocada
por um vírus, com pneumonia, causada
por bactéria, e acabam procurando um
pronto-socorro desnecessariamente",
diz Danilo Ferreira Nunes, coordenador
do pronto-socorro da unidade.
Além disso, reclama Timerman, no
Brasil, não existe um número único de telefone para o qual a pessoa possa ligar no
caso de emergência, como o famoso 911,
dos Estados Unidos.
Entre os grandes hospitais particulares
de São Paulo, os números são muito parecidos. Apenas uma minoria -cerca de
10%- dos que procuram os prontos-socorros é internada. "Cerca de 90% a 95%
dos casos têm a situação resolvida com o
primeiro atendimento e podem ir para
casa", afirma Jovino Baes Júnior, coordenador do Pronto-Atendimento do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).
De qualquer maneira, para o médico,
em caso de dúvida, o melhor a fazer é
procurar um PS e eliminar algumas possibilidades mais graves. "É melhor do
que se automedicar incorretamente",
afirma Baes Júnior. O médico se refere
aos casos mais comuns encontrados em
um pronto-atendimento, como vômito,
diarréia, gripe, amigdalite e cefaléia.
Para discernir um problema ameno de
um mais sério, o ideal é que a pessoa primeiro procure o seu médico de família.
Na falta dele, a saída é o pronto-socorro.
Jorge Mattar, coordenador do Pronto-Atendimento (PA) do hospital Sírio Libanês (SP), concorda: "O ideal é tratar de
um problema sempre com o mesmo médico, mas muitas pessoas não querem esperar o dia da consulta e, por isso, procuram o PA. O trabalho do PA é reorientar
o paciente para o seu médico".
Há, contudo, uma noção entre os médicos de que os pacientes estão usando os
sistemas de emergência por comodidade,
e não por ter, de fato, uma urgência.
"As pessoas querem resolver o problema sem ter de procurar um consultório médico. Querem uma solução "in loco", ou seja, ser avaliado pelo médico na hora e realizar os exames no mesmo local", diz Ricardo
Botticini Peres, coordenador da Unidade de Primeiro Atendimento do
hospital Albert Einstein.
Para Nunes, do São Luiz, a definição popular de pronto-socorro é
aquele lugar em que o paciente pode
ir sem marcar hora. "Hoje, tornou-se
uma conveniência para os pacientes
irem ao pronto-socorro em vez de
irem ao consultório."
Das pessoas que procuram o PA,
70% o fazem por comodidade, diz
Aguinaldo Pispico, diretor do Centro de Treinamento de Emergências
da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Por exemplo: uma lesão na pele
que começa a incomodar na sexta-feira à noite não exige atendimento
imediato. Mas o paciente não quer
esperar até segunda-feira para marcar uma consulta com o médico. Então vai até o pronto-atendimento
mais próximo e passa o fim de semana tranquilo.
O que deve determinar a procura
ou não do PA é o critério da dor. O
problema é que não há como padronizar a dor. Por isso, para Mattar, do
Sírio Libanês, "o médico tem de respeitar a urgência sentida pelo paciente, mesmo sendo um desconforto menor". E mais: o profissional
tem a função de tratar não só o
problema médico do paciente como
também a sua angústia e ansiedade.
"O papel do médico é também o de
acalmar o paciente e a sua família.
Por isso vá ao pronto-socorro sempre que tiver dúvidas", afirma Nunes, do São Luiz. Se o médico enxergar o paciente por esse lado mais humano, ele entenderá e concordará
com esse uso natural do PA, afirma
Mattar.
Pediatria
Se, muitas vezes, é difícil decidir quando ir ao PA no caso
de um adulto, imagine quando o paciente é uma criança. Talvez por isso
metade dos casos pediátricos que
aparecem no PA não são urgências,
mas problemas que exigem apenas
um primeiro atendimento.
E os casos variam muito segundo a
época do ano, diz Cid Fernando
Gonçalves Pinheiro, responsável pelo serviço de pediatria das duas unidades do hospital São Luiz. No inverno, aparecem mais problemas
respiratórios, como bronquites e
resfriados. No verão, são os problemas gastrointestinais, como vômitos
e náuseas.
"Em qualquer época do ano, há
sempre crianças que procuram o PA
porque caíram da cadeira, da cama,
da escada ou da bicicleta. Nesses casos, é importante mesmo levá-las",
diz Pinheiro.
Nesta página e na próxima, há um
guia com alguns dos casos mais comuns de emergência e os procedimentos mais adequados a serem seguidos em casa antes de receber o
atendimento médico.
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