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foco nela
Artista transforma poda de árvore em papel
DA REPORTAGEM LOCAL
Ex-diretora da Pinacoteca do Estado de
São Paulo (1987-1989), a artista plástica,
museóloga e especialista em papel artesanal Lourdes Cedran, 72, sempre viveu rodeada de arte. Foi casada com o físico e
crítico de arte Mário Schenberg (1914-1990) e trabalha todos os dias no ateliê
que mantém em casa. Suas obras podem
ser vistas no Masp, no MAM, na Funarte,
na Pinacoteca e em museus nos Estados
Unidos, Itália, Croácia e Macedônia.
Sua grande paixão, porém, é o papel.
Até hoje, a presidente do Clube Latino-Americano de Papeleiros costuma recolher podas de árvore -sua matéria-prima- pelas ruas de São Paulo. Ela gosta
até mesmo de escrever sobre o assunto:
em 1999, lançou o livro "Cartilha do Papel Artesanal" (ed. Páginas & Letras) e
está preparando outro nos intervalos entre seu trabalho no ateliê e as palestras sobre arte e papel artesanal que ministra no
mundo inteiro. Leia sua entrevista.
Folha - Como surgiu a paixão pelo papel?
Lourdes Cedran - Vem de longe. O papel
sempre fez parte da minha vida, desde
pequenininha, assim como a arte. Quando tinha quatro, cinco anos, já queria saber como os papéis eram feitos. Para
mim, o papel é uma seda, de tão delicado
que ele é.
Folha - Por que a senhora sai pelas ruas
em busca de podas de árvore?
Cedran - As podas são a matéria-prima
que dão forma às minhas obras. Em uma
fazenda, por exemplo, tem muita matéria-prima, muitas árvores, mas aqui na
cidade é mais difícil, por isso vou atrás.
Mas hoje não saio tanto pelas ruas, por
causa da idade e porque atualmente as
podas vêm até mim, cedidas por amigos e
pessoas que sabem que as uso.
Folha - Como começou a produzir arte a
partir do seu papel artesanal?
Cedran - Comecei a fazer muita coisa,
em forma de escultura, fundamentada
no papel artesanal, mas sem a pretensão
de vir a ser obra de arte. No fim, viraram
obras de arte, porque as pessoas gostavam, achavam bonitas.
Folha - Como a senhora aprendeu sobre o
papel?
Cedran - Fiz artes plásticas e museologia, parte no Brasil e parte no exterior, estudei na Índia e no Equador. Mas sempre
fiz uma rota atrás de mais informação sobre a arte dos papéis. Fundei a Associação Brasileira de Papel Artesanal (Abrapa) e presido o Clube Latino-Americano
de Papeleiros. Na Abrapa, ajudo a organizar exposições anuais de artistas que
trabalham com papel artesanal.
Folha - A senhora utiliza outro tipo de
matéria-prima nas suas obras?
Cedran - Isso é uma coisa que gosto de
dizer em alto e bom som: não uso nada
que não seja papel em minhas obras.
Gosto do processo de criação, de fazer a
pasta, cozinhar, desintegrar, lavar, limpar e aí produzir o papel.
Folha - Qual é seu ritmo de trabalho hoje
em dia?
Cedran - Já fiz muito papel, virava a noite trabalhando com eles e depois fazendo
arte. Apesar de não ter placa na minha
casa, aqui é meu ateliê, muita gente vem
fazer encomendas. Como só tenho um
ajudante, eu tenho de negar muito trabalho, senão não dou conta. Mas tenho de
trabalhar o tempo todo. Se não trabalhar,
eu fico com sono e durmo. Então trabalho para ficar acordada.
(APO)
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