São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004
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foco nela

Artista transforma poda de árvore em papel

DA REPORTAGEM LOCAL

Ex-diretora da Pinacoteca do Estado de São Paulo (1987-1989), a artista plástica, museóloga e especialista em papel artesanal Lourdes Cedran, 72, sempre viveu rodeada de arte. Foi casada com o físico e crítico de arte Mário Schenberg (1914-1990) e trabalha todos os dias no ateliê que mantém em casa. Suas obras podem ser vistas no Masp, no MAM, na Funarte, na Pinacoteca e em museus nos Estados Unidos, Itália, Croácia e Macedônia.
Sua grande paixão, porém, é o papel. Até hoje, a presidente do Clube Latino-Americano de Papeleiros costuma recolher podas de árvore -sua matéria-prima- pelas ruas de São Paulo. Ela gosta até mesmo de escrever sobre o assunto: em 1999, lançou o livro "Cartilha do Papel Artesanal" (ed. Páginas & Letras) e está preparando outro nos intervalos entre seu trabalho no ateliê e as palestras sobre arte e papel artesanal que ministra no mundo inteiro. Leia sua entrevista.
 
Folha - Como surgiu a paixão pelo papel?
Lourdes Cedran -
Vem de longe. O papel sempre fez parte da minha vida, desde pequenininha, assim como a arte. Quando tinha quatro, cinco anos, já queria saber como os papéis eram feitos. Para mim, o papel é uma seda, de tão delicado que ele é.

Folha - Por que a senhora sai pelas ruas em busca de podas de árvore?
Cedran -
As podas são a matéria-prima que dão forma às minhas obras. Em uma fazenda, por exemplo, tem muita matéria-prima, muitas árvores, mas aqui na cidade é mais difícil, por isso vou atrás. Mas hoje não saio tanto pelas ruas, por causa da idade e porque atualmente as podas vêm até mim, cedidas por amigos e pessoas que sabem que as uso.

Folha - Como começou a produzir arte a partir do seu papel artesanal?
Cedran -
Comecei a fazer muita coisa, em forma de escultura, fundamentada no papel artesanal, mas sem a pretensão de vir a ser obra de arte. No fim, viraram obras de arte, porque as pessoas gostavam, achavam bonitas.

Folha - Como a senhora aprendeu sobre o papel?
Cedran -
Fiz artes plásticas e museologia, parte no Brasil e parte no exterior, estudei na Índia e no Equador. Mas sempre fiz uma rota atrás de mais informação sobre a arte dos papéis. Fundei a Associação Brasileira de Papel Artesanal (Abrapa) e presido o Clube Latino-Americano de Papeleiros. Na Abrapa, ajudo a organizar exposições anuais de artistas que trabalham com papel artesanal.

Folha - A senhora utiliza outro tipo de matéria-prima nas suas obras?
Cedran -
Isso é uma coisa que gosto de dizer em alto e bom som: não uso nada que não seja papel em minhas obras. Gosto do processo de criação, de fazer a pasta, cozinhar, desintegrar, lavar, limpar e aí produzir o papel.

Folha - Qual é seu ritmo de trabalho hoje em dia?
Cedran -
Já fiz muito papel, virava a noite trabalhando com eles e depois fazendo arte. Apesar de não ter placa na minha casa, aqui é meu ateliê, muita gente vem fazer encomendas. Como só tenho um ajudante, eu tenho de negar muito trabalho, senão não dou conta. Mas tenho de trabalhar o tempo todo. Se não trabalhar, eu fico com sono e durmo. Então trabalho para ficar acordada. (APO)


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