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Saúde
De olho no termômetro
Aquecimento global pode provocar aumento de doenças como alergias e infecções; problemas cardiovasculares e queda da fertilidade são alguns efeitos que já podem ser sentidos
MARIANA BERGEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Pele ressecada, sensação de falta de ar, enxaqueca, diarréia,
alergias, conjuntivite,
dor de garganta... Não é só o
ambiente que corre riscos com
o aquecimento global: as mudanças climáticas também podem afetar -e, no caso de alguns dos sintomas e doenças
acima, já vêm afetando- a saúde humana.
A princípio, nenhum desses
problemas é novidade. O que
preocupa os especialistas é que
muitos deles devem se agravar.
"Em função de tantas alterações externas, o corpo tenta alcançar o equilíbrio, e essa tentativa desgasta o nosso organismo", afirma o fisiologista Raul
Santos de Oliveira, da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo). Por isso, é importante
preocupar-se com o corpo de
uma forma geral.
Na lista de recomendações
dos especialistas, ingerir bastante líquido, praticar exercícios físicos, dormir e alimentar-se bem, evitar tomar muito
sol e usar protetor solar são
consenso. Ainda que não evitem totalmente o desgaste, minimizam seus efeitos.
Apesar de muita coisa ainda
ser apenas probabilidade, os
primeiros sinais de alteração
causados por agentes geradores do aquecimento global já foram constatados.
O aumento do calor, segundo
o educador físico e fisioterapeuta da Unesp (Universidade
Estadual Paulista), Jayme Netto Junior, tem gerado problemas cardíacos na população.
"Em algumas pessoas, ocorrem
lesões oxidativas, que aceleram
o envelhecimento e prejudicam
o coração", explica.
O aumento da poluição, que
está relacionada com o aquecimento global, é outra que já faz
vítimas. Uma pesquisa desenvolvida pela Escola Valenciana
dos Estudos para a Saúde em 14
cidades espanholas comprovou
recentemente a relação existente entre a presença de substâncias tóxicas como o ozônio
com problemas coronários ou
vasculares a curto prazo.
Também em função do excesso de poluentes no ar, vem
ocorrendo uma queda de fertilidade humana, como explica o
presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana
Dirceu Mendes Pereira.
"Os gametas masculinos e femininos são prejudicados, e isso pode, em última instância,
levar à morte das células dos
óvulos e espermatozóides",
afirma Pereira. Ainda de acordo com ele, atualmente, cerca
de 70% dos óvulos das mulheres (especialmente as de 40
anos) já apresentam danos em
seu DNA, o que pode acarretar
problemas nos embriões.
Tensão
Outro fator a ser levado em
conta, para os médicos, é a tensão emocional, que faz com que
os problemas externos sejam
descontados no organismo.
Deve ser o caso, por exemplo,
dos migrantes involuntários,
que, caso as previsões se confirmem, terão de deixar as cidades
litorâneas devido ao aumento
do nível da água do mar.
"É uma mudança de hábito
que leva à ruptura do cotidiano
das pessoas. Isso facilita o aparecimento de sintomas psiquiátricos que podem levar à
depressão", afirma o psiquiatra
Raphael Boechat, da UnB (Universidade de Brasília).
Nesses casos, em que o lado
emocional será mais exigido, a
dica do médico é planejar a vida
considerando previsões de alteração no ambiente e estabelecendo mudanças pessoais de
forma gradual.
O desafio é maior do que
muitos imaginam. Além dos
sintomas físicos e emocionais,
mais um complicador pode se
intensificar: moléstias sazonais
como dengue e meningite.
"Doenças, como as transmitidas por insetos, podem ter sua
área de incidência ampliada",
explica Pedro Luiz Tauil, professor de medicina tropical da
UnB.
Isso significa que insetos vetores da dengue, por exemplo,
que se proliferam mais no calor, devem atingir locais que
ainda não sofrem com esse tipo
de enfermidade, como o Rio
Grande do Sul.
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