São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007
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Saúde

De olho no termômetro

Aquecimento global pode provocar aumento de doenças como alergias e infecções; problemas cardiovasculares e queda da fertilidade são alguns efeitos que já podem ser sentidos

MARIANA BERGEL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pele ressecada, sensação de falta de ar, enxaqueca, diarréia, alergias, conjuntivite, dor de garganta... Não é só o ambiente que corre riscos com o aquecimento global: as mudanças climáticas também podem afetar -e, no caso de alguns dos sintomas e doenças acima, já vêm afetando- a saúde humana.
A princípio, nenhum desses problemas é novidade. O que preocupa os especialistas é que muitos deles devem se agravar.
"Em função de tantas alterações externas, o corpo tenta alcançar o equilíbrio, e essa tentativa desgasta o nosso organismo", afirma o fisiologista Raul Santos de Oliveira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Por isso, é importante preocupar-se com o corpo de uma forma geral.
Na lista de recomendações dos especialistas, ingerir bastante líquido, praticar exercícios físicos, dormir e alimentar-se bem, evitar tomar muito sol e usar protetor solar são consenso. Ainda que não evitem totalmente o desgaste, minimizam seus efeitos.
Apesar de muita coisa ainda ser apenas probabilidade, os primeiros sinais de alteração causados por agentes geradores do aquecimento global já foram constatados.
O aumento do calor, segundo o educador físico e fisioterapeuta da Unesp (Universidade Estadual Paulista), Jayme Netto Junior, tem gerado problemas cardíacos na população. "Em algumas pessoas, ocorrem lesões oxidativas, que aceleram o envelhecimento e prejudicam o coração", explica.
O aumento da poluição, que está relacionada com o aquecimento global, é outra que já faz vítimas. Uma pesquisa desenvolvida pela Escola Valenciana dos Estudos para a Saúde em 14 cidades espanholas comprovou recentemente a relação existente entre a presença de substâncias tóxicas como o ozônio com problemas coronários ou vasculares a curto prazo.
Também em função do excesso de poluentes no ar, vem ocorrendo uma queda de fertilidade humana, como explica o presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana Dirceu Mendes Pereira.
"Os gametas masculinos e femininos são prejudicados, e isso pode, em última instância, levar à morte das células dos óvulos e espermatozóides", afirma Pereira. Ainda de acordo com ele, atualmente, cerca de 70% dos óvulos das mulheres (especialmente as de 40 anos) já apresentam danos em seu DNA, o que pode acarretar problemas nos embriões.

Tensão
Outro fator a ser levado em conta, para os médicos, é a tensão emocional, que faz com que os problemas externos sejam descontados no organismo.
Deve ser o caso, por exemplo, dos migrantes involuntários, que, caso as previsões se confirmem, terão de deixar as cidades litorâneas devido ao aumento do nível da água do mar.
"É uma mudança de hábito que leva à ruptura do cotidiano das pessoas. Isso facilita o aparecimento de sintomas psiquiátricos que podem levar à depressão", afirma o psiquiatra Raphael Boechat, da UnB (Universidade de Brasília).
Nesses casos, em que o lado emocional será mais exigido, a dica do médico é planejar a vida considerando previsões de alteração no ambiente e estabelecendo mudanças pessoais de forma gradual.
O desafio é maior do que muitos imaginam. Além dos sintomas físicos e emocionais, mais um complicador pode se intensificar: moléstias sazonais como dengue e meningite.
"Doenças, como as transmitidas por insetos, podem ter sua área de incidência ampliada", explica Pedro Luiz Tauil, professor de medicina tropical da UnB.
Isso significa que insetos vetores da dengue, por exemplo, que se proliferam mais no calor, devem atingir locais que ainda não sofrem com esse tipo de enfermidade, como o Rio Grande do Sul.


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