São Paulo, quinta-feira, 19 de maio de 2005 |
Texto Anterior | Índice
S.O.S. família Rosely Sayão "Bullying" e desrespeito na escola
A correspondência de duas leitoras
dá o tema da conversa de hoje. A
primeira -professora de escola
municipal do interior paulista-
pede ajuda para saber como enfrentar o "bullying". A segunda -uma garota
de 15 anos da segunda série do ensino médio
de uma escola particular- relata o que ela
chama de "guerra por cadeiras" em sua sala.
A discussão sobre o "bullying" está na ordem do dia. Nas escolas, especialistas das mais diversas áreas são chamados para dar palestras; os pais se preocupam em instruir os filhos sobre como agir caso sejam vítimas; alunos convivem diariamente com fatos do tipo e não sabem como reagir. Mas o que é "bullying"? Em inglês, "bully" significa amedrontar, intimidar, ameaçar. Qualquer comportamento que, mesmo em tom de brincadeira, intimida, ofende, agride ou exclui é chamado de "bullying". A cada dia, nós conseguimos inventar uma moda mais sofisticada e com aparência de seriedade teórica para responsabilizar, cada vez um pouco mais, a geração dos mais novos pelos conflitos e confrontos da convivência humana desde muito cedo. O caso do "bullying" é um exemplo típico de como estamos desertando de nosso papel de iniciar os mais novos nas relações humanas. Estamos abandonado-os à própria sorte. Esse fenômeno do "bullying" não é nenhuma novidade. Todos sabem do que crianças e jovens são capazes -alguns falam até em crueldade infantil. Acontece que eles olham apenas para si e não têm idéia ainda de que seus atos podem atingir o outro. São inconseqüentes porque ainda não refletem sobre a responsabilidade de seus atos, palavras, condutas. Não conseguem ainda se colocar no lugar do outro. E é exatamente por isso que os adultos precisam fazer a iniciação dos mais novos na vida em grupo (papel importante da família) e na vida civil (papel notadamente da escola) para, entre outras coisas, mantê-las. E isso exige implicação, compromisso. Ocorre que temos preferido nos comprometer conosco mais do que com qualquer outra coisa. Estamos nos desresponsabilizando pelos fatos que têm ocorrido com nossos filhos e alunos. É por isso que dizemos, entre outras coisas, que as crianças e os jovens de hoje não têm limites. Parece que ter ou não ter limites tem a ver apenas com eles, não supõe a relação com um outro, em geral adulto. O "bullying" ocorre com tanta freqüência porque os adultos responsáveis pelas crianças e jovens estão ausentes dessa relação. Vejamos o fato relatado pela leitora: uma verdadeira guerra está ocorrendo na sala dela. E onde estão os professores e coordenadores, que não intervieram nesse processo antes que virasse combate? As escolas não só não agem decisivamente na mediação dos conflitos e nos ensinamentos das relações solidárias como incentivam a competição entre colegas como motivação para o desenvolvimento nos estudos, além de fazer a apologia dos "alunos populares". Ora, quem aprende que precisa competir e ser popular usa as armas que tem para tanto. Isso pode significar sair dando cotoveladas para garantir seu lugar. E os pais são cúmplices dessas atitudes da escola, é bom lembrar. A estudante que enfrenta dificuldades em sala, já que está abandonada pelos professores, precisará alertá-los de que não dá conta da questão sozinha. A professora que não sabe o que fazer precisa convocar os colegas para, em conjunto, estabelecerem metas de trabalho que ensinem, na prática e diariamente, relações respeitosas no espaço escolar. ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha) @ - roselysayao@folhasp.com.br Texto Anterior: Poucas e boas Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |