São Paulo, terça-feira, 19 de julho de 2011 |
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OUTRAS IDEIAS ANNA VERONICA MAUTNER - amautner@uol.com.br
Seu celular também é nosso
TER UM endereço físico significa que sabemos dizer onde podemos ser encontrados. Tornar acessível esse endereço é se dispor ao encontro: indica que estamos disponíveis. Antigamente, se alguém morava fora da área de entrega dos Correios, alugava uma Caixa Postal, e lá passava, de tempos em tempos, para recolher a correspondência. Hoje temos outras pertinências e ficamos independentes do espaço geográfico. Mas o celular, o e-mail, o Skype e o Facebook também são endereços, é claro. À primeira vista, podemos imaginar que o aumento no número de endereços representa enorme soma de liberdade e acessibilidade. Mas, como tudo, esse excesso é uma faca de dois gumes. Por um lado, sou acessível.Por outro, não posso deixar de sê-lo. Aquele a quem forneci as informações sobre como me encontrar está contando com essa possibilidade. Resta a secretária eletrônica, usada em momentos de necessidade e, também, para atender a um desejo eventual de isolamento, um pouquinho que seja. O celular é para uso de cada um, mas também para uso de todos que receberam aquele número. Do mesmo modo que os outros podem organizar uma festa e contar com a sua presença, também podem contar com os seus serviços, com o seu apoio. Esses recursos todos, do endereço da residência ao endereço na nuvem da internet, são prolongamentos de si próprio, são o "si próprio" em outras dimensões. Assim como você não pode deixar de retribuir a um cumprimento face a face (a não ser que queira fazer uma má-criação), não pode se ausentar de suas dimensões tecnológicas e virtuais. O outro conta com você. Você é o seu e-mail. Se você me deu o seu endereço eletrônico é porque você o consulta e eu posso imaginar que a mensagem que te mandei tenha sido recebida. O aparelho de celular pode ser seu -mas é meu também, quando quero falar com você. Eu conto com você atendendo o seu celular para resolver um problema meu. Fosse em 1900, eu precisaria mandar um mensageiro até você ou uma carta. O seu celular faz parte da programação do meu tempo. O ato de deixá-lo sem bateria ou desligado por muito tempo pode acarretar dificuldades para aqueles que te conhecem nas dimensões virtual e tecnológica. Você não é mais apenas um corpo com uma localização geográfica. O outro com quem você compartilha o universo virtual é, também, alguém que te vê e te sente em todas as suas extensões. ANNA VERONICA MAUTNER, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise, é autora de "Cotidiano nas Entrelinhas" (Ágora) e "Educação ou o quê?" (Summus) Próximo Texto: Comente, pergunte Índice | Comunicar Erros |
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