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bebês
Brincando de estimular
Cresce a oferta de atividades voltadas para bebês, que, segundo
professores, melhoram o desenvolvimento da criança; para alguns
especialistas, aulas são desnecessárias e podem causar estresse
[...]
Segundo médicos e psicólogos, a estimulação de crianças com menos de três anos de idade pode ser feita pela família em casa, de forma natural
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ALESSANDRA KORMANN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
FLÁVIA MANTOVANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Judô, informática, piano, pintura ou balé? Até
pouco tempo atrás, a
dúvida sobre em quais
cursos matricular os filhos só
chegava lá pelos cinco anos de
idade da criança. Hoje, porém,
ela pode confundir a cabeça dos
pais logo após o nascimento
dos pequenos. Além da tradicional natação para bebês, há
opções de aulas de música, artes, estimulação psicomotora,
inglês e balé para crianças com
menos de três anos de idade,
quase sempre a preços altos.
Em algumas delas, como nas
de natação, os bebês começam
com poucos meses. Aos dois
anos, muitos deles já sabem nadar, e há academias que oferecem turmas para essa idade
sem a presença dos pais. No caso do inglês, os alunos costumam ser aceitos aos três anos, e
o aprendizado é focado na aquisição de vocabulário por meio
de jogos e encenações.
Já a idade mínima para as aulas de estimulação varia, mas há
locais que aceitam as crianças
desde o primeiro mês. O objetivo é estimulá-las, por meio de
atividades lúdicas, de acordo
com cada fase de seu desenvolvimento. "Orientamos as mães
para que estimulem seus filhos
de forma adequada, melhorando o desenvolvimento de coordenação motora, força, percepção de espaço. Nosso objetivo
não é que eles andem ou falem
antes, mas que aprendam a fazer isso bem. Tem criança que
chega aos sete anos com problema de coordenação ou sem
nunca ter colocado a mão num
pote de tinta", afirma Angela
Moreira de Mirelles, diretora
do espaço Gymboree Play &
Music de São Paulo.
Fundada há três décadas nos
Estados Unidos, a franquia
chegou ao Brasil em 2001 e oferece estimulação, artes e musicalização infantil para crianças
entre 18 dias e cinco anos. Nos
EUA, há outras modalidades,
como a "Baby Signs" -que ensina os pequenos "a se comunicarem antes de ter palavras"-
e a "Global Kids" -que explora
as brincadeiras, músicas e danças de outros países, "encorajando os pequenos viajantes a
serem cidadãos globais".
A idéia assusta alguns especialistas, que pedem cautela.
Para o neuropediatra Mauro
Muszkat, por exemplo, existe
um exagero ao se "fornecerem
para a criança estímulos que
muitas vezes ela não está a fim
de processar". "A criança não é
um processador de estímulo,
ela processa o que tem contexto, o que tem a ver com a realidade da família", diz ele, que
coordena o Nani (Núcleo de
Atendimento Neuropsicológico Infantil Interdisciplinar), da
Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo). O médico afirma
que o excesso de estímulos pode causar estresse, que costuma se manifestar como cólicas,
distúrbios de sono e outros
problemas psicossomáticos.
Muszkat diz que considera a
arte e os jogos lúdicos formas
importantes de sensibilização,
principalmente levando em
conta que nos primeiros anos
de vida a criança está mais
aberta a processar línguas e
música, por exemplo. "Mas sou
contra fazer isso de forma programada. O bebê pode estar
com sono na hora marcada ou
simplesmente não ter vontade.
Além disso, todo programa de
estímulos gera expectativas
nos pais, o que pode frustrar a
criança", afirma.
A pediatra e psicoterapeuta
Verônica Cavalcante, presidente do departamento científico de saúde mental da Sociedade Brasileira de Pediatria,
também diz que mesmo bebês
muito novos percebem as expectativas envolvidas nas atividades. "O bebê é uma espécie
de "radar". Como não entende
palavras, sente muito a forma
como é olhado ou tocado."
Para Cavalcante, psiquicamente, a idade ideal para uma
criança participar de qualquer
atividade que tenha regras
-ainda que sejam apenas hora
de começar e terminar- é a
partir dos quatro anos. "É difícil as mães aceitarem isso. Mas
é uma forma de proteger o filho
até que ele possa se autoproteger, reconhecer a autoridade de
um professor. Claro que ele
também não deve ficar só em
casa. Para isso há praças, espaços comunitários ou o playground do prédio."
Apesar de acreditar que é
fundamental que os bebês sejam estimulados, ela defende
que isso ocorra naturalmente
no cotidiano familiar. "Essa estimulação não só pode como
deve ser feita em casa, pela família, usando brinquedos, mas
principalmente com muito afeto. Um bebê saudável não precisa de uma equipe profissional
envolvida", afirma.
Já a psicomotricista Izabel
Bicudo tem uma opinião diferente. "Se todas as crianças pudessem ter acompanhamento,
poderiam prevenir futuros problemas. É no primeiro ano de
vida, quando se forma a maior
parte da nossa rede neuronal,
que temos mais possibilidade
de aprender qualquer coisa."
Bicudo é presidente da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, campo que estuda a integração entre corpo e psiquismo e que surgiu no Brasil há
cerca de 30 anos. Do atendimento a pessoas com problemas de desenvolvimento, os
psicomotricistas passaram a
atuar também orientando
crianças saudáveis.
"Há 20 anos, precisava-se
menos de um trabalho desse tipo. As crianças tinham a rua, a
companhia de outras crianças,
avós e tias. Hoje, elas vivem em
espaços cada vez mais reduzidos, cada vez têm menos vivência corporal", diz.
Vida moderna
Assim como Bicudo, outros
especialistas e mães acreditam
que essas atividades vêm
preencher lacunas que surgiram com o estilo de vida atual:
com núcleos familiares menores e contato mais limitado
com espaços abertos, as crianças têm menos oportunidades
de se exercitarem e de conviver
com outros bebês.
"Coloquei minha filha na aula de música para que ela convivesse com outras crianças e para estimulá-la de alguma forma", conta a arquiteta Paula
Schiavini, mãe de Martina, dez
meses. "Sempre que coloco
música para tocar, ela fica toda
animada e começa a dançar."
A administradora Odalis
Dunnam, mãe de Andrea Ortega, um ano e dois meses, acha
que a filha evoluiu nesse quesito desde que começou a freqüentar as aulas de estimulação, aos sete meses. "No início,
ela chorava, mas hoje adora e
está mais sociável."
Para Angela de Mirelles, uma
das vantagens de matricular os
bebês na estimulação em grupo
é justamente a socialização.
"Muitos convivem só com a
mãe e a babá e, quando saem de
casa, ficam com medo de tudo.
Ouvir vozes de outras pessoas
os tornam mais abertos."
Cedo demais, na opinião da
psicanalista Eloísa Tavares de
Lacerda, coordenadora do
NIBb/Derdic (Núcleo Interdisciplinar do Bebê), da PUC-SP,
para quem, no primeiro momento da vida, a relação deve
ser com a mãe. "Há a ilusão de
que o bebê já se relaciona com
os outros, mas as grandes descobertas dessa fase são desenvolvidas no próprio corpo. O
brinquedo dele é olhar a própria mão, bater as pernas, sentir seu corpo", diz.
Ela acredita que as aulas trazem mais benefícios às mães,
por possibilitarem trocas com
outras mães. "As mulheres estão muito isoladas. Antes, tinham mais contato com irmãs
e avós, havia um grupo transgeracional que se apoiava."
Música
É justamente a falta dessa rede de apoio feminino que faz
com que as crianças tenham
menos contato com música em
casa, diz Josete Feres, autora
do livro "Bebê, Música e Movimento", usado como referência
pela maioria dos profissionais
da área. "Antigamente, as famílias eram grandes, e as avós,
mães e tias cantavam muito
com as crianças. Hoje, dificilmente as pessoas têm tempo
para fazer isso. A aula acaba
sendo um momento de cumplicidade e aconchego."
A advogada Marcela Furmanovich, mãe de Sofia, 3, e de Natasha, de um ano e dois meses,
concorda. "É um momento de
troca, um tempo com mais qualidade com as meninas." As
duas começaram a ter aula de
música desde os dez meses. "A
Sofia já tem uma noção de ritmo impressionante. E a Nata-
sha já reconhece as músicas, repete alguns gestuais das aulas."
As aulas de musicalização para bebês, muito em voga tanto
em instituições especializadas
quanto em colégios de educação infantil, costumam durar
cerca de 30 minutos, pois o
tempo de atenção dos bebês é
muito reduzido. São utilizados
instrumentos como chocalhos,
martelinhos, maracas e guizos.
Além da música, eles aprendem desde cedo a dividir os
brinquedos e a devolver os instrumentos após usá-los", conta
a educadora musical Cristiana
Baroni do Nascimento, que dá
aulas de musicalização em escolas de educação infantil.
Meire Antoniassi Noronha,
professora da Intermezzo &
Spina Escola de Música, em São
Paulo, lembra que os bebês não
aprendem a tocar instrumentos. "O mais importante é trabalhar a escuta, para que eles
comecem a perceber o som e as
suas variações. E procuramos
aumentar seu repertório, com
músicas folclóricas, brincadeiras de roda, músicas eruditas."
Mas, afinal, a música estimula ou não o desenvolvimento do
cérebro dos bebês? Segundo o
psiquiatra e músico Geraldo
Possendoro, professor da especialização em psicoterapia cognitivo-comportamental da
Unifesp, a resposta é sim -em
termos. "Essas questões ainda
estão em aberto para a ciência,
ainda não foram completamente comprovadas. Mas sabemos que a música é um estímulo como qualquer outro, e o cérebro tem uma capacidade chamada neuroplasticidade, ou seja, é um sistema aberto que responde aos estímulos do meio.
Por causa do desenvolvimento
das redes neurais, é provável
que um bebê que tem aula de
música tenha mais facilidade se
quiser ser músico no futuro."
Elisabeth Bueno de Camargo, arte-educadora do Centro
Universitário Maria Antonia
que pesquisa a musicalidade
dos bebês há 14 anos, diz que a
inteligência é estimulada não
pela música em si, mas pelas
experiências e brincadeiras que
surgem a partir do envolvimento afetivo com ela. "Quando se
envolve dessa forma, a atividade cerebral certamente aumenta, assim como também existe
estimulação ao se contar ou ler
uma história para o bebê de
modo envolvente e vivo."
Onde praticar
Bem Me Quer Sports
Esporte e recreação para crianças de dois a 12
anos; r. Ministro Jesuíno Cardoso, 52, Vila Olímpia, e mais dois endereços; tel. 0/xx/3044-1108
www.bmqsports.com.br
Criança em Foco
Estimulação, música, massagem, ginástica natural e ioga para crianças de um mês a seis anos;
r. Coronel Dulcídio, 517, 67 e 68 (shopping Novo
Batel), Curitiba, e mais dois endereços em Curitiba e no Rio de Janeiro; tel. 0/xx/41/3232-4837
www.criancaemfoco.com.br
Escola de Música de Jundiaí
Musicalização infantil para crianças de oito meses a sete anos; r. Prudente de Morais, 1.276,
Jundiaí (SP); tel. 0/xx/11/4521-5120
Gymboree
Estimulação, musicalização e artes para crianças de 18 dias a cinco anos; av. dos Carinás, 421,
Moema, São Paulo; tel. 0/xx/11/5041-4337
www.gymboree.com.br
Intermezzo & Spina
Iniciação musical para crianças entre oito meses
e três anos; r. Dr. Mário Ferraz, 376, Jardim Europa, São Paulo; tel. 0/xx/11/3078-3200
www.intermezzo.com.br
Red Balloon
Inglês para crianças e adolescentes de três a 15
anos; r. Jauaperi, 149, São Paulo, e mais 16 endereços em São Paulo, Santo André, Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro; tel. 0/xx/11/5051-2425
www.redballoon.com.br
Steps Baby Lounge
Aulas de movimento, musicalização e artes para
crianças de três meses a quatro anos; r. Prof. Vahia de Abreu, 285, Vila Olímpia, São Paulo; tel.
0/xx/11/3846-8795
www.stepsbabylounge.com.br
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