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S.O.S. família - Rosely Sayão
Nota de comportamento
Apesar de a estrutura
do funcionamento escolar permanecer a
mesma há muito tempo, temos de reconhecer que a
escola mudou bastante -e para
melhor- nas últimas décadas,
não é verdade? Vejamos alguns
exemplos dessas mudanças.
Hoje, os professores tratam
os alunos pelo primeiro nome
ou pelo sobrenome. Pode até
ser que eles, caso pensassem no
assunto, considerassem tal fato
algo muito natural. Pois o que
eles não sabem é que já houve
um tempo em que os alunos
eram identificados por um número e os profissionais da educação não consideravam isso
uma questão problemática.
Crianças e adolescentes também não sabem que já foi considerado fundamental para a disciplina escolar que os alunos
formassem filas, ordenados por
altura e separados do colega pela medida de um braço. Hoje, os
alunos se encaminham para
suas salas de modo mais informal, sem o uso dessa estratégia
de inspiração militar.
Outra mudança importante:
hoje os professores já não costumam avaliar o comportamento dos alunos por meio de
notas ou de conceitos. Opa! Será que essa mudança ocorreu
de fato? Temo que não. Por incrível que pareça, a tal nota de
comportamento ainda vale em
muitas escolas. Está certo que,
como diz um professor que conheço, é nota de comportamento com vergonha de mostrar a cara, já que vem maquiada com outras denominações.
Pode ser chamada de atitude;
às vezes, vem com cara de participação. Mas o fato é que muitas escolas ainda lançam mão
dessa prática. E muitos pais
aceitam esse uso sem questionamentos e até repreendem o
filho quando ele vem com baixa
avaliação nesse quesito.
O que a escola não percebe é
que, ao fazer isso, expõe uma
importante contradição que
cria com sua prática.
Tenho uma boa história para
ilustrar a incoerência que a escola produz ao avaliar o comportamento de seus alunos.
Duas mães conversaram comigo justamente a esse respeito.
Uma delas disse que não sabia o
que fazer com o filho que apresentava um comportamento
que deixava muito a desejar
-segundo a avaliação da professora- apesar de sistematicamente alcançar notas boas
na avaliação dos conteúdos. Já
a segunda mãe enfrentava uma
situação contrária: o filho tinha
comportamento considerado
exemplar, mas obtinha baixo
rendimento no estudo.
O que o aluno precisa aprender na escola em relação ao
comportamento? Basicamente, a ter disciplina para debruçar-se sobre o conhecimento
(atenção, esforço, concentração) e a relacionar-se com os
outros de modo respeitoso, justo e solidário. O que não mostra
relação com essas questões não
deve ser foco da escola.
Se um aluno apresenta, na visão da escola, problemas de
comportamento e bom rendimento, algo está errado: ou a
escola não oferece condições
para o desenvolvimento do potencial do aluno ou o comportamento que ele apresenta nada tem de errado. E quanto ao
aluno que apresenta boa avaliação de comportamento e não
rende nos estudos, a questão é
que, se tal comportamento em
nada resulta, nada tem de bom
ou de exemplar.
As piores hipóteses que podemos levantar são duas. A primeira é que o comportamento
que a escola espera de seus alunos não tem relação com o
aprendizado do estudo e da
convivência pública -trataria
mais de moralizar hábitos. A
segunda é que o ambiente escolar é desfavorável a tal aprendizado ou não dá conta das questões levadas por seus alunos
nem das diferenças entre eles.
Nota de comportamento?!
Isso é coisa da escola de antigamente ou não, afinal?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br;
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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