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Doenças e maus hábitos podem derrubar os fios
Yoshikazu Tsuno/France Presse
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Japonês demonstra, na farmácia, como aplicar um remédio para calvície |
Desesperados tentam de tudo para salvar a cabeleira, de titica de galinha no couro cabeludo a anticoncepcional dissolvido no xampu
GUSTAVO PRUDENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Cabelo é como cunhado. Exige para caramba e não dá nada
em troca", diz, brincando, Valcinir Bedin, presidente da
SBEC (Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo). É difícil não
dar razão ao médico, se considerarmos que os fios sobre nossa cabeça servem, no máximo, para nos proteger do sol -e, para isso,
existem chapéus e filtros solares. Mas, quando se lembra de como
uma bela e bem tratada cabeleira joga o
astral para cima, a coisa muda de figura.
O assunto parece ter uma importância
especial no Brasil. O país é o segundo do
mundo em consumo per capita de produtos para cabelo -só perde para os Estados Unidos, segundo a indústria. O
brasileiro gasta de R$ 250 a R$ 4.500 por
mês em tratamentos capilares, sem contar o que vai com tratamento cirúrgico
(transplante). Imagine pagar até R$ 5 mil
para retirar um média de 150 mil fios da
nuca e transplantá-los no topo de uma
cabeça careca. Ou tomar injeção no couro cabeludo a cada 15 dias para os fios
não caírem. Milhares de calvos encaram
o desafio. Fora as pílulas, os xampus, as
loções e os cremes. Todos querem solução para seus problemas nessa área. E
eles são muitos, desde os mais simples referentes a brilho e forma até os mais complicados, que implicam queda ou perda
definitiva dos fios. O motivo é um só: o
papel fundamental que o cabelo desempenha no estado psicológico das pessoas.
"Não existe ninguém sem algum grau
de fetichismo com o cabelo. Em algumas
sociedades e religiões, raspar a cabeça está associado ao celibato ou à castidade. O
véu do casamento cristão representa, de
maneira similar, modéstia e castidade.
Mudar o estilo do penteado também é
um marcador de alteração no estado social", afirma Joana D'Arc Diniz, diretora
científica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética, regional do RJ.
Tanta preocupação reflete-se no aumento de pesquisas e estudos sobre produtos e tratamentos, no Brasil e no mundo. De dez anos para cá, surgiram a finasterida, que está salvando o dia de quem
tem tendência à calvície, o 17-alfa-estradiol, com a mesma função, mas com menos efeitos colaterais e os imunomoduladores, que ajudam a reverter as quedas
causadas por reações auto-imunes, além
de cremes, condicionadores e xampus
com vitaminas e óleos, entre outros.
Surgiu até uma especialidade científica
para a área, a tricologia -ou estudo do
cabelo. "É um campo multidisciplinar,
em que pode haver ginecologistas, endocrinologistas, nutrólogos e clínicos-gerais, entre outros, mas, principalmente,
dermatologistas", afirma Valcinir Bedin.
A especialização começou a ser necessária quando se percebeu que muitos
problemas do cabelo tinham raízes em
quadros que competiam a outras áreas.
"Há sempre três questões em jogo: a genética, a hormonal e a metabólica", diz
Bedin. Ou seja, perda de fios, ressecamento e mesmo inflamações e descamações no couro cabeludo podem ter causas
tão variadas quanto hereditariedade, disfunção da tireóide e anemia.
Diante da complexidade do assunto,
não é de admirar que as pessoas ainda estejam confusas e mal informadas. "É comum chegar uma paciente dizendo que
já está perdendo cabelo há algum tempo
e comentar: "Ah, doutor, já tentei de tudo,
receita caseira, choque". Ou o cabeleireiro
receitar um xampu que, por acaso, ele
tem ali para vender e a pessoa ficar usando o ano inteiro. Adoro os cabeleireiros,
mas, assim como não corto cabelo, eles
não deveriam sair receitando remédios",
diz Francisco Le Voci, coordenador do
Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Segundo os especialistas, a desinformação reina até entre médicos. "Há cinco
anos, fizeram uma pesquisa nos Estados
Unidos questionando os profissionais
sobre quem procurariam se estivessem
com problemas de cabelo. A maioria falou cabeleireiro e, em segundo lugar,
dermatologista", afirma Bedin. Ciente
das dificuldades, dois anos atrás um grupo de profissionais fundou, na Inglaterra, a pioneira Oxford Hair Foundation,
que reúne membros de diversos países,
inclusive o Brasil.
"Nossa meta principal é levar informação para todos os países e públicos, sejam cabeleireiros, tricologistas ou pacientes", diz o presidente da fundação, o
dermatologista Rodney Dawber. Além
de reuniões, palestras e congressos, a entidade dispõe de um site (www.oxfordhairfoundation.org) de divulgação.
Diante de tantas doenças graves e recorrentes, como câncer e Aids, insistir
no conhecimento correto sobre cabelo
pode parecer algo supérfluo ou menor.
Mas a desinformação sobre o assunto
pode, em certos casos, ter conseqüências
graves.
A calvície feminina, há alguns anos,
nem era creditada como possível. Hoje,
sabe-se que, entre todos os casos diagnosticados, 5% ocorrem em mulheres. A
diferença do problema entre os sexos
não está só no número de casos, mas nos
sintomas.
A perda masculina ocorre em sete estágios. Começa pelas têmporas (as "entradas") e é seguida por uma rarefação
na coroinha (topo da cabeça), que vai
aumentando. Entre as mulheres, o problema ocorre em três estágios, que começa com uma rarefação difusa na coroinha, mas dificilmente chega à calvície
total. A determinação genética, entretanto, é a mesma.
A calvície é determinada por até oito
genes. Quem recebe os oito fica calvo antes dos 18 anos -caso de 15% dos homens carecas. Em 80% dos casos masculinos, a pessoa tem quatro desses genes,
o que determina o início da doença entre
22 e 26 anos. Não há cura, por ser uma
doença crônica que se desenvolve ao
longo da vida, mas pode ser controlada.
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