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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003
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foco nele

Especialista em osteoporose explica nova droga

ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Oscar Gluck, 59, é professor da Universidade do Arizona (EUA) e esteve no Brasil na semana passada para apresentar à comunidade médica o medicamento à base de tereparatida, revolucionário na forma de combate à osteoporose e que está sendo lançado no Brasil e na Europa. O reumatologista e imunologista participou do processo de aprovação do medicamento, cujo nome comercial é Fortéo.
Desde a sua liberação, no final do ano passado, a mãe do médico já se vale da droga que o filho ajudou a aprovar. Mas a cunhada, também portadora de osteoporose, conta ele, ainda resiste. Ela morre de medo de injeções -a droga deve ser injetada diariamente em um processo semelhante ao da aplicação de insulina.
Aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratar a doença em mulheres e homens, o Fortéo é o único medicamento que estimula a formação óssea -os demais apenas preservam os ossos já formados ou diminuem a destruição óssea. O medicamento promete ser o primeiro de uma série de novas drogas dirigidas à reconstrução óssea. Leia a entrevista abaixo.

Folha - Há alguém na sua família que sofre de osteoporose?
Oscar Gluck -
Minha mãe e minha cunhada. Apesar de já ter interesse em osso e imunologia bem antes de elas desenvolverem a doença, isso me estimulou ainda mais nas pesquisas. Minha mãe tem alto risco para fraturas e se sente melhor pela redução da dor lombar, causada por fraturas e microfraturas.

Folha - E sua cunhada?
Gluck -
Ela ainda não toma. Ainda. Morre de medo de injeções, mas vou forçá-la a tomar.

Folha - Como age o medicamento?
Gluck -
Foram sintetizados os primeiros 34 (de 84) aminoácidos do hormônio PTH, responsável pela estimulação da formação óssea. Eles se ligam ao receptor, dando a ordem para que a célula construa o osso. Em altas doses, a tereparatida induz a perda óssea. Em baixas doses diárias, estimula a sua formação. É um divisor de águas. As outras drogas disponíveis para o combate da osteoporose apenas preservam a massa óssea restante ou evitam a continuidade do processo de redução óssea. O Fortéo é o único que estimula uma nova formação.

Folha - Para quem a droga pode ser prescrita?
Gluck -
Para portadores de osteoporose com alto risco de fraturas ou para quem já as possui. Como é uma doença mais comum entre mulheres (atinge uma em cada três após a menopausa e um em cada oito homens), elas se beneficiarão mais, porém nada impede que homens também usem o medicamento.

Folha - O paciente deve consumir a droga a vida toda?
Gluck -
Não. Ele deve tomar por, no máximo, dois anos.

Folha - Pode ser usado como prevenção à osteoporose?
Gluck -
De maneira nenhuma. Apenas para quem já tem a doença instalada. Ainda não há estudos voltados para a prevenção.

Folha - O senhor acredita que existe o risco de uma corrida a esse medicamento por pessoas que não tenham osteoporose com o intuito de se prevenirem?
Gluck -
Acredito que não, pois ele requer injeções diárias, o que já desestimula seu uso.

Folha - E quais são os seus efeitos colaterais?
Gluck -
Cerca de 3% dos pacientes apresentaram tontura e câimbras nas pernas.

Folha - Como foram feitas as pesquisas para a sua aprovação?
Gluck -
Durante cerca de 20 meses, foram estudadas 1.637 mulheres, todas em pós-menopausa, com, no mínimo, uma fratura óssea cada uma. Formamos dois grupos. Um deles usou a tereparatida, e o outro usou placebo [substância inócua]. No primeiro grupo, houve 65% de redução no aparecimento de fraturas nas vértebras e 63% de diminuição nas fraturas não-vertebrais em relação ao grupo que usou o placebo.

Folha - Esse é o medicamento do futuro para tratar a doença?
Gluck -
Não, no futuro, haverá muitas outras maneiras de reconstrução óssea. O Fortéo é o primeiro de uma série.

Folha - Como as pessoas podem evitar a osteoporose?
Gluck -
Existem dois agravantes: o genético e o ambiental. Se a pessoa não tiver predisposição genética à doença, deve ingerir porções diárias de cálcio. Se, desde criança, ela tomasse um copo de leite ao dia, o risco de desenvolver a osteoporose diminuiria muito. O leite não cura, mas diminui muito. É necessário, mas não é suficiente. Aliás, qualquer fonte de cálcio é bem-vinda no combate à osteoporose. E isso pode ser feito consumindo sorvete de chocolate, iogurtes ou complexos vitamínicos, por exemplo. Tudo aliado à prática de exercício físico.

Folha - E que medidas devem tomar as pessoas com predisposição genética à doença?
Gluck -
Aí elas poderão tomar todo o cálcio do mundo, fazer todo o exercício do mundo, mas não poderão se prevenir nem corrigir o problema.


"Se a pessoa não tiver predisposição genética à doença, deve ingerir porções diárias de cálcio. Se, desde criança, ela tomasse um copo de leite ao dia, o risco de desenvolver a osteoporose diminuiria muito. E isso pode ser feito consumindo sorvete de chocolate, iogurtes ou complexos vitamínicos, por exemplo"



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