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foco nele
Especialista em osteoporose explica nova droga
ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Oscar Gluck, 59, é professor da Universidade do Arizona (EUA) e esteve no Brasil na semana passada para apresentar à
comunidade médica o medicamento à
base de tereparatida, revolucionário na
forma de combate à osteoporose e que
está sendo lançado no Brasil e na Europa.
O reumatologista e imunologista participou do processo de aprovação do medicamento, cujo nome comercial é Fortéo.
Desde a sua liberação, no final do ano
passado, a mãe do médico já se vale da
droga que o filho ajudou a aprovar. Mas a
cunhada, também portadora de osteoporose, conta ele, ainda resiste. Ela morre de
medo de injeções -a droga deve ser injetada diariamente em um processo semelhante ao da aplicação de insulina.
Aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratar a
doença em mulheres e homens, o Fortéo
é o único medicamento que estimula a
formação óssea -os demais apenas preservam os ossos já formados ou diminuem a destruição óssea. O medicamento promete ser o primeiro de uma série
de novas drogas dirigidas à reconstrução
óssea. Leia a entrevista abaixo.
Folha - Há alguém na sua família que sofre de osteoporose?
Oscar Gluck - Minha mãe e minha cunhada. Apesar de já ter interesse em osso
e imunologia bem antes de elas desenvolverem a doença, isso me estimulou ainda
mais nas pesquisas. Minha mãe tem alto
risco para fraturas e se sente melhor pela
redução da dor lombar, causada por fraturas e microfraturas.
Folha - E sua cunhada?
Gluck - Ela ainda não toma. Ainda. Morre de medo de injeções, mas vou forçá-la
a tomar.
Folha - Como age o medicamento?
Gluck - Foram sintetizados os primeiros
34 (de 84) aminoácidos do hormônio
PTH, responsável pela estimulação da
formação óssea. Eles se ligam ao receptor, dando a ordem para que a célula
construa o osso. Em altas doses, a tereparatida induz a perda óssea. Em baixas doses diárias, estimula a sua formação. É
um divisor de águas. As outras drogas
disponíveis para o combate da osteoporose apenas preservam a massa óssea restante ou evitam a continuidade do processo de redução óssea. O Fortéo é o único que estimula uma nova formação.
Folha - Para quem a droga pode ser prescrita?
Gluck - Para portadores de osteoporose
com alto risco de fraturas ou para quem
já as possui. Como é uma doença mais
comum entre mulheres (atinge uma em
cada três após a menopausa e um em cada oito homens), elas se beneficiarão
mais, porém nada impede que homens
também usem o medicamento.
Folha - O paciente deve consumir a droga
a vida toda?
Gluck - Não. Ele deve tomar por, no máximo, dois anos.
Folha - Pode ser usado como prevenção à
osteoporose?
Gluck - De maneira nenhuma. Apenas
para quem já tem a doença instalada.
Ainda não há estudos voltados para a
prevenção.
Folha - O senhor acredita que existe o risco de uma corrida a esse medicamento por
pessoas que não tenham osteoporose com
o intuito de se prevenirem?
Gluck - Acredito que não, pois ele requer injeções diárias, o que já desestimula seu uso.
Folha - E quais são os seus efeitos colaterais?
Gluck - Cerca de 3% dos pacientes apresentaram tontura e câimbras nas pernas.
Folha - Como foram feitas as pesquisas
para a sua aprovação?
Gluck - Durante cerca de 20 meses, foram estudadas 1.637 mulheres, todas em
pós-menopausa, com, no mínimo, uma
fratura óssea cada uma. Formamos dois
grupos. Um deles usou a tereparatida, e o
outro usou placebo [substância inócua].
No primeiro grupo, houve 65% de redução no aparecimento de fraturas nas vértebras e 63% de diminuição nas fraturas
não-vertebrais em relação ao grupo que
usou o placebo.
Folha - Esse é o medicamento do futuro
para tratar a doença?
Gluck - Não, no futuro, haverá muitas
outras maneiras de reconstrução óssea.
O Fortéo é o primeiro de uma série.
Folha - Como as pessoas podem evitar a
osteoporose?
Gluck - Existem dois agravantes: o genético e o ambiental. Se a pessoa não tiver
predisposição genética à doença, deve
ingerir porções diárias de cálcio. Se, desde criança, ela tomasse um copo de leite
ao dia, o risco de desenvolver a osteoporose diminuiria muito. O leite não cura,
mas diminui muito. É necessário, mas
não é suficiente. Aliás, qualquer fonte de
cálcio é bem-vinda no combate à osteoporose. E isso pode ser feito consumindo
sorvete de chocolate, iogurtes ou complexos vitamínicos, por exemplo. Tudo
aliado à prática de exercício físico.
Folha - E que medidas devem tomar as
pessoas com predisposição genética à
doença?
Gluck - Aí elas poderão tomar todo o
cálcio do mundo, fazer todo o exercício
do mundo, mas não poderão se prevenir
nem corrigir o problema.
"Se a pessoa não tiver predisposição genética à doença,
deve ingerir porções diárias de cálcio. Se, desde criança,
ela tomasse um copo de leite ao dia, o risco de desenvolver a
osteoporose diminuiria muito. E isso pode ser feito
consumindo sorvete de chocolate, iogurtes ou complexos
vitamínicos, por exemplo"
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