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outras idéias - Thereza Soares Pagani ("Therezita")
Quando as histórias são contadas com dignidade e veracidade, ajuda-se muito a criança a saber fazer o seu próprio caminho
Contando e recontando histórias
Desde a mais tenra idade, todo ser humano é ávido por
querer saber o início de tudo, a origem das coisas. Fica
vidrado quando escuta alguém contar a sua própria história. Quando criança, pede sempre mais, mais e mais. E volta
a pedir inúmeras vezes que sejam repetidos os trechos que a
pessoa considerou os mais emocionantes.
Não cansa de ouvir a narração dos fatos mais representativos
da sua vida, como os rituais de passagem, que são os episódios
marcantes tão necessários para a sua individualidade e integridade. Por que não dizer que esses seriam o seu referencial de
orgulho ou de vergonha da sua descendência?
O brasileiro, em geral, com a sua pluralidade e diversidade,
encontra nas histórias familiares verdadeiros contos de fada,
novelas, dramas, sagas para contar à sua criançada.
Por quê? Por que meu avô veio estudar em São Paulo? Por que
tenho olhos azuis? Cabelos loiros? Olhos negros e puxados para cima como chinês? E para baixo como japonês? E a minha irmã, por que é loira e de olhos claros? Cabelos encaracolados,
pixaim? E cor negra, parda etc. etc.? Por que meu irmão nasceu
com a mancha escura no bumbum? Por que o cabelo enroladinho e negro, e não branco como o meu? Por que tenho três
avós?
Vemos nesse interesse e nessa curiosidade da criança pequena a necessidade de conhecer as histórias das raízes familiares
e até mesmo de fazer as árvores genealógicas até a quinta geração e, se possível, do lado da família do pai e da mãe: tetravô/tetravó, bisavô/bisavó, avô/avó...
Até os sete anos de idade, a criança sai contando, à moda dela,
a sua origem e fica conhecendo o porquê das diferenças e o
porquê da religiosidade e das crenças da família. Depois dessa
etapa, ela está preparada para aprofundar e entender os porquês das diferenças de cada grupo familiar.
Quando as histórias são contadas com dignidade e veracidade, ajuda-se muito a criança a saber fazer o seu próprio caminho. Sua auto-estima cresce e se fortalece ao saber de onde veio
e quem é.
Tudo é importante: o ritual do casamento dos pais, o seu nascimento, o hospital, o primeiro banho, a chegada em casa, a
primeira mamada, o batismo, a circuncisão, a apresentação ao
terreiro ou a ida ao berçário, à creche ou ao maternal. A primeira chupeta, os paninhos e os bichinhos, "amuletos" que algumas crianças carregam pela vida afora.
As doenças infantis, mesmo amenizadas com as vacinas, são
marcantes para as crianças, assim como a chegada de novos irmãos e até de primos. E o ritual da morte!? -episódio que faz
parte do ciclo vital, que é o nascer, o viver, o morrer como todo
ser vivo, e que hoje é tão negado, camuflado e escondido pelos
adultos, que não sabem contar aos filhos sobre enfermidades,
hospitais, cemitérios e enterros.
Mesmo com toda a modernidade do mundo atual, escutar
sua própria história continua sendo uma necessidade pertinente às crianças. Cabe ao adulto contá-la e recontá-la!
Não sei qual será a necessidade das novas crianças de proveta, de mães de aluguel, de clonagens. Só o tempo nos mostrará!
Mas, enquanto a longevidade nos favorecer, vamos nos empenhar em contar histórias e "causos"!
THEREZA SOARES PAGANI ("Therezita") é educadora e diretora da Tearte, escola de educação infantil; e-mail: tepagani@uol.com.br
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