São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004
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Entrevista

A vez dos pequenos

Pesquisadoras lançam livro sobre as causas e conseqüências psicológicas de ser "baixinho"

Rodrigo Gerhardt
da Reportagem Local

Nem só desnutrição ou herança genética são causas da baixa estatura em crianças. Problemas psicológicos surgidos desde a vida intra-uterina estão relacionados à interrupção ou retardamento do crescimento, algo que ainda passa despercebido por pais e pediatras. O assunto poderá ser melhor explorado com o lançamento do livro "Sofrimento Psicológico e Baixa Estatura na Infância" (Editora Casa do Psicólogo, R$ 31, 195 págs.) no próximo dia 27, resultado das pesquisas das psicólogas Vanda Mafra Falcone, 37, e Vânia Vieira Costa, 39, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Vanda estudou as causas psicológicas que interferiram no crescimento infantil em 342 crianças de escolas públicas da zona sul de São Paulo, em 2000. Vânia pesquisou as conseqüências. Leia trechos da entrevista abaixo.
 

Equilíbrio - Como fatores psicológicos agem no organismo para impedir o crescimento?
Vanda Mafra Falcone -
É uma resposta do corpo ao sofrimento psíquico que a criança não consegue expressar por palavras. Não crescer é uma defesa inconsciente. O sistema regulador fica perturbado, inibindo a liberação do hormônio de crescimento. Verificamos, por exemplo, que antes de algumas crianças nascerem, suas mães já passavam por situações de estresse emocional, como conflitos conjugais. Diversos estudos já identificaram que esses sentimentos produzem substâncias químicas no organismo da gestante que atravessam a placenta e causam prejuízos ao feto, tanto no seu crescimento físico como no desenvolvimento emocional.
Equilíbrio - Crianças que se sentem mais amadas crescem mais?
Vanda -
Sim. Já na vida intra-uterina o bebê possui aparelho psíquico capaz de registrar sensações de aceitação ou abandono afetivo materno.
Vânia Vieira Costa - No entanto, crianças superprotegidas tendem a perder a autonomia e demoram mais para crescer. Elas não têm liberdade para se vestir ou comer sozinhas. Como conseqüência, essas crianças em fase escolar apresentam comportamento infantilizado, recusando-se por exemplo, a largar a chupeta, a mamadeira ou o dedo na boca.
Equilíbrio - Em que fase do desenvolvimento da criança os fatores psicológicos afetam mais o crescimento?
Vanda -
Os períodos intra-uterino e principalmente o lactente determinam com maior intensidade o psiquismo e o crescimento da criança. Porém, os períodos pré-escolar e escolar podem potencializar esses aspectos. Geralmente, é nestas fases que a criança começa a manifestar reações como desajustamento social, imaturidade e dificuldades na escola.
Equilíbrio - Superado os conflitos psicológicos, a criança pode voltar a crescer normalmente?
Vânia -
Sim. Até por volta dos oito anos de idade, a criança pode recuperar a velocidade de crescimento.
Equilíbrio - Ser baixinho é um peso maior na escola, na família ou com os amigos?
Vânia -
Em todos os ambientes. A sociedade atribui à estatura valores de ascensão pessoal e profissional, como força, sucesso e prestígio. Uma das formas de expressão é no tratamento direcionado às tais crianças. Se o João é baixo, ele é chamado de Joãozinho. O mundo dele é o do diminutivo, o do "inho". A criança interioriza tais conceitos. Se não conseguir estruturar sua personalidade, acaba se tornando frágil, insegura. Ela precisa estar emocionalmente fortalecida para lutar contra um padrão social e culturalmente estabelecido.


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