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NEURO
SUZANA HERCULANO-HOUZEL - suzanahh@gmail.com
Que hora é hora de dormir?
Engana-se quem acha que pode mudar o horário de sono o tempo todo impunemente
VOCÊ JÁ DEVE TER NOTADO
que costuma sentir sono mais
ou menos no mesmo horário
todas as noites. Uma questão
de hábito, talvez?
Em parte, sim: adormecer
tem um componente de condicionamento, uma associação entre estímulos específicos e sempre um mesmo resultado, o sono.
Por isso as recomendações
de pediatras e neurologistas
quanto a bons hábitos de sono fazem sentido: ter uma rotina (aquele banho mais longo à noite, seguido pela roupa
especial de dormir e pelo apagar das luzes), dormir bem
alimentado (para não acordar com fome no meio da noite), só deitar na cama na hora
de dormir, não ficar brincando de joguinhos eletrônicos
excitantes na cama.
Sexo, claro, "pode": embora seja estimulante, a tendência para homens e mulheres é
relaxar física e mentalmente
a seguir, e adormecer logo.
Engana-se, contudo, quem
acredita que pode mudar impunemente o horário de sono
o tempo todo. Trocar o dia pela noite constantemente é
péssimo para o cérebro.
Não só se perdem várias
horas de sono no processo,
que cobram a conta depois
(com aquela sensação de
cansaço e falta de atenção),
como os ritmos internos do
corpo, temperatura, metabolismo e produção de hormônios ficam desencontrados
com o sono.
Para crianças, sobretudo,
vale o que as avós diziam: é
durante o sono que se cresce.
O pico de produção de hormônio do crescimento acontece no início da noite; se não
se está dormindo nessa hora,
perde-se a dose do dia.
Além disso, há um horário
interno mais propício ao sono
de cada um. Assim como variações genéticas determinam se você é louro ou moreno, claro ou escuro, outras
variações conhecidas podem
fazer com que você naturalmente tenda a adormecer cedo e acordar de madrugada
(esses são os matutinos), ou,
ao contrário, a adormecer especialmente tarde e só acordar lá pelas dez da manhã
(os vespertinos).
Para essas pessoas, acordar fora do horário "normal""
(no sentido estatístico) é quase doloroso. A diferença está
nos genes que regulam a hora
do dia em que nosso relógio
autônomo interno troca o
modo "dormir" pelo modo
"acordar". Funciona até na
mosquinha da banana: basta uma variação genética para transformá-las em madrugadeiras ou notívagas.
Se você é um desses casos
fora da norma, portanto, respeite-se. Mais difícil, contudo, é conseguir o respeito dos
outros...
SUZANA HERCULANO-HOUZEL,
neurocientista, é professora da UFRJ e
autora de "Pílulas de Neurociência para
uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog
www.suzanaherculanohouzel.com
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