São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2011
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CORRIDA

RODOLFO LUCENA rodolfo.lucena@grupofolha.com.br

Sobre a morte na maratona


Corrida de rua é extenuante e cobra um preço alto do nosso corpo


A CADA segunda-feira, recebo dezenas de despachos com informações sobre maratonas realizadas no mundo no fim de semana. Com frequência cada vez maior, é com tristeza que vejo notícias de mortes no asfalto.
Outro dia, um sujeito de 36 anos teve um ataque cardíaco ao cruzar a linha de chegada de uma meia maratona nos Estados Unidos.
"As mortes em provas longas vêm aumentando em uma taxa de 15% a 20% por ano", me diz o chefe da CardioEsporte do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Nabil Ghorayeb.
Há várias razões para isso, a começar pelo aumento do número de corredores e de corridas de rua.
Em 2009, houve mais de 1,1 milhão de concluintes em meias maratonas nos EUA, contra cerca de 900 mil no ano anterior. No ano passado, a Federação Paulista de Atletismo registrou 374 provas no Estado, expansão de 24% em relação a 2009. E aposto uma bolsa de soro como boa parte não oferecia condições para atendimento de urgência.
Há também a questão comportamental: quantos corredores fazem exame médico adequado? Não sei a resposta, mas garanto que são menos do que deveriam.
A maratona é uma atividade extenuante, que cobra um alto preço de nosso corpo. O desgaste físico dura dias e até semanas. Durante a prova, há riscos de perda excessiva de sódio, aumento demasiado da temperatura do corpo e desidratação, sem falar de lesões musculares e ameaças ao nosso pobre coração.
Por isso, aconselha Ghorayeb, o candidato a maratonista deve visitar um médico especializado em esporte e fazer exames de laboratório, eletrocardiograma, teste ergométrico até o limite de exaustão, com médico habilitado, e ecocardiograma.
Os médicos recomendam a atividade física moderada, praticada três a quatro vezes por semana. Quando, porém, essa atividade se transforma em esporte, e a gente busca competir ou melhorar o desempenho, passa a envolver riscos em penca.
Envolve também prazer, paixão, satisfação pessoal, alegria, prêmios que nenhum exame médico do mundo consegue contabilizar.
Cabe a cada um seguir na sua busca, sim, às vezes até exagerando, mas tendo consciência dos riscos e procurando se proteger, tomando medidas preventivas que tornem mais segura a corrida nossa de cada dia.
E lá vamos nós metendo perna no asfalto.

RODOLFO LUCENA , 53, é editor do caderno Tec e do blog +Corrida (maiscorrida.folha.com.br), ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (Record)


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