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Pai moderno exige ser mais do que provedor
Jorge Araújo/Folha Imagem
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Fabio Paranhos com a filha, Sofia, 8 |
Ele é sensível, mas firme como educador; participa da vida dos filhos sem seguir padrões e exerce a paternidade durante toda a vida
KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Elas foram atrás de igualdade de direitos, venceram boas batalhas e ainda
deixaram um presente especial para o sexo oposto: a chance de eles
exercerem a paternidade em pé de igualdade. E os que aproveitam essa deixa
vivenciam uma masculinidade diferenciada. O conceito da nova paternidade exclui comportamentos padronizados e ditatoriais, como ter de freqüentar todas as reuniões da escola ou de participar de todos os momentos importantes da vida da prole. Esse pai assumido é sensível e presente, mas também
sabe impor a autoridade, por exemplo.
A nova paternidade reforça a masculinidade e dá mais segurança ao homem.
Permite a ele que melhore sua relação
com o mundo. "Além de ajudar a quebrar defesas, o filho retira o homem da
introspeção", diz o psiquiatra Luiz
Cuschnir, que está formando, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
(SP), um grupo de discussão com pais e
mães a respeito dos respectivos papéis.
"Em todos os níveis sociais, os homens
mostram-se mais preocupados em chegar a uma via de acesso aos filhos."
Apesar de escassas, as pesquisas indicam que o desejo de ser pai e também de
exercer a paternidade de forma menos
convencional está cada vez mais evidente. Entrevistas feitas pela terapeuta familiar Sandra Fedullo Colombo, com 120
homens e mulheres, evidenciaram que a
maioria deles questionam o fato de não
passarem de meros provedores. "Eles
não querem perder a chance de exercer a
paternidade. Querem morar com os filhos, acompanhar o crescimento deles de
perto", diz Colombo, que, em junho, lança um livro sobre o assunto ("Ainda Existe a Cadeira do Papai?", ed. Vetor).
Reconhecendo que o assunto tem relevância, alguns governos e algumas empresas na Europa e nos Estados Unidos
dispõem de políticas que possibilitam
que os trabalhadores fiquem mais tempo
com os filhos.
Um estudo realizado em 2000 pelo instituto de pesquisa americano Harris
mostrou que 70% dos homens até abdicariam facilmente de um salário mais alto em troca de mais tempo com a prole
-entre as mulheres, essa resposta foi dada por 63%.
O gerente de recursos humanos Fabio
Paranhos, 40 anos, é um exemplo reforçado desse "novo" pai. Na falta de uma
companheira e futura mãe dos seus filhos, após vários relacionamentos, ele
partiu para a adoção. "Sempre tive vontade e, em 1999, inscrevi-me em um programa de adoção. Em outubro, conheci a
Sofia, na época com três anos. No começo foi difícil. Quando a peguei para sair
pela primeira vez, ela não parou de chorar até chegarmos em casa. Fiquei me
sentindo um monstro. Lembro que, em
um dos encontros, ela se encantou com a
minha mãe, logo passou a chamá-la de
vó. Mas não conseguia dizer pai."
Hoje a relação vai muito bem -tanto
que o nome de Paranhos já figura em
uma segunda lista de adoção. Ele quer
uma irmã para Sofia, agora com oito
anos. A realidade do pai solteiro surpreende e o obriga a deparar-se com perguntas tolas, como: "É você que a leva ao
cabeleireiro?" ou "Você sabe quanto ela
calça?", feitas pela vendedora da loja que
não encontra uma mulher ao lado do pai
e da filha.
"Isso aprendi a levar numa boa. Só fico
chateado, às vezes, por não ter com quem
dividir as decisões, como escolher um colégio bacana." No campo profissional, ele
negociou a redução da carga horária dentro da empresa em troca de levar trabalho
para casa.
O novo conceito de paternidade abrange, além de desejos e atitudes antes exclusivos de mães, as armadilhas enfrentadas
por elas. Não saber separar o papel de pai
do papel de homem e sofrer na hora de
encarar novos relacionamentos é uma
delas. "Eles acabam se escondendo atrás
da figura do pai, tornam-se reféns dos filhos e, quando se separam, têm dificuldade para se envolverem novamente", diz
Cushnir. O publicitário Milthon Cury,
por exemplo, esperava mais de um ano
para apresentar a namorada nova aos filhos, Natália e Gustavo. "Ficava com receio da reação deles. Além disso, precisava encontrar alguém que os aceitasse,
pois eram pequenos, a mais velha tinha
cinco anos." Afinal, há de se levar em
conta o variado gosto feminino.
Há aquelas que valorizam os homens
que assumem a responsabilidade paterna, mas há as que fogem de homens separados da mulher, mas não dos filhos.
Aliás, nesse quesito, pais e mães costumam fazer muita confusão. É difícil compreenderem que a separação do casal,
quando ocorre, é dentro do casamento, e
não na relação com os filhos.
Para o psicólogo Ailton Amélio, do Departamento de Psicologia Experimental
da USP, hoje se vive em um mundo de representações, no qual predomina a ditadura do afeto, ou seja, é preciso demonstrar o amor por meio de atos e práticas.
Por isso essa relação dos homens com os
filhos se complica um pouco. "Cada um
demonstra afeto de uma maneira, não é
preciso dar todas as mamadeiras e ficar
todos os dias ao lado dos filhos para amá-los. Estar presente e ligado é muito mais
do que realizar as tarefas domésticas."
Aliás, o desejo exacerbado de estar
sempre presente na vida do filho pode até
criar uma competição entre os progenitores. O casal Eliane e Roberto Kreisler
admitem, especialmente ele, que, durante um tempo, viveram essa competição
bem-intencionada. Ambos queriam participar de absolutamente tudo na vida do
casal de filhos. Das idas ao médico até o
transporte diário para a escola! Ele conta
que teve um pai superprotetor e acreditava que o bom pai era desse gênero: hiperparticipativo. Com o tempo, aprendeu a
relaxar e dividir as funções com a mulher.
São os mais jovens que melhor assimilam essa nova paternidade. Mas há vovôs
indo atrás do tempo perdido, como Walter Teister, 70. "No meu tempo, o pai era
aquele que trazia dinheiro para a comida
e para a escola dos filhos. Como eu trabalhava no interior, tinha pouco tempo para ficar com as quatro crianças. Ficava
amargurado por não ter dinheiro suficiente, hoje eu me arrependo de não ter
aproveitado a infância deles, então faço
isso com meu bisneto", diz o mecânico
aposentado, que troca fralda, dá comida,
conversa, brinca e chora com Vitor Hugo, 2. "Não preciso ser aquele homem
durão. No começo dá medo, mas todo
homem deve viver o gostinho da paternidade para ver como é bom."
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