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neurociência
As vantagens de lamber a cria
Que receber carinho
é bom todo mundo
sabe. Mas, nos últimos anos, a
neurociência descobriu por que: o cérebro tem
um sistema especializado em
detectar carícias -toques
que deslizam suavemente sobre a pele- e informar sua
ocorrência tanto a regiões
que cuidam da sensação de
bem-estar do corpo quanto a
outras que inibem respostas
variadas de estresse.
Claro que um sistema de
sensibilidade a carinhos tem
seus atrativos para os adultos, mas é nos recém-nascidos que sua importância se
faz mais evidente: ele funciona como um poderoso detector de mãe. Depois de nove
meses no aconchego do ventre, com casa, comida e calor,
o carinho freqüente é a melhor indicação de que há alguém por perto para alimentar, aquecer e proteger o bebê
-geralmente a mãe.
Não receber carinho, portanto, é sinal de não ter mãe
por perto -e a falta de ativação dos detectores de mãe
dispara o alarme com uma
resposta generalizada de estresse. Com os hormônios de
estresse, corpo e cérebro
saem do modo "desenvolvimento", entram no modo
"sobrevivência", armazenando reservas, e dele só saem
quando o cérebro detectar
carinhos que indiquem que
alguém começou a se ocupar
do bebê. Por isso, bebês prematuros deixados em incubadeiras, com cuidados médicos, alimento, oxigênio e calor, mas separados da mãe,
não crescem, têm vários problemas de saúde e demoram
a receber alta.
Mas os benefícios do carinho vão além de permitir o
desenvolvimento tranqüilo
do bebê. Um grupo da Universidade McGill, no Canadá, vem mostrando nos últimos dez anos que ratas devidamente lambidas por suas
mães durante a primeira semana de vida tornam-se
adultas mais tranqüilas e
menos ansiosas do que ratas
criadas por mães pouco carinhosas, têm respostas hormonais e comportamentais
de estresse mais saudáveis e
tornam-se mães carinhosas
com a própria prole. Experimentos com mães-ratas adotivas mostraram que o determinante é o comportamento
da mãe, biológica ou não: carinho gera carinho.
É um círculo vicioso altamente desejável, onde carinhos se autopropagam. Seja
bem tratado e acariciado na
infância e, além de gozar de
todos os benefícios de uma
resposta mais saudável ao estresse quando adulto, você
acariciará seus filhos também, oferecendo-lhes os
mesmos benefícios. Acaricie
seus filhos, portanto, e você
já estará cuidando do bem-estar dos seus netos.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de
"O Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira &
Lent) e de "O Cérebro em Transformação"
(ed. Objetiva)
@ - suzanahh@folhasp.com.br
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