São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006
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S.O.S. Família

Rosely Sayão

Amigos dos filhos adolescentes

A mãe de três adolescentes me escreveu contando como é a vida com os filhos nessa fase. Bastante conturbada, é claro, mas, para essa mãe dedicada e sensível, que tem uma profissão e exerce trabalho remunerado, isso não é problema. Entretanto, ela tem uma dúvida. Melhor dizendo, uma queixa. Ela diz que seus filhos se relacionam com a casa de dois modos alternados.
Ora se comportam como se morassem em uma pensão -vão e voltam apenas para comer, dormir e trocar de roupa, porque só pensam em sair-, ora tratam a casa como lugar de festa -trazem os amigos para lanches, jogos, reuniões barulhentas. Além da queixa, ela tem também uma dúvida: quer saber se é assim mesmo ou se é preciso segurar um pouco mais.
O estranhamento dessa mãe é compreensível, porque, segundo ela, quando pequenos, os filhos sempre gostaram da companhia dos pais, mas agora só se interessam pelos amigos. Ela tem muitos motivos para se alegrar, apesar de esse ser um momento difícil para os pais.
O que acontece na vida dessa família é o caminho natural a ser trilhado. Os filhos cresceram e precisam sentir que não são indispensáveis aos pais para que possam investir nos relacionamentos com os outros, em geral seus pares. Se, quando crianças, os filhos são educados com respeito e ensinados a valorizar o relacionamento com os familiares, na adolescência, têm mais chances de saber se comportar de modo a serem estimados por colegas e amigos. É isso que significa ser sociável. Na adolescência, freqüentar a casa dos amigos e recebê-los em casa são fatos de grande importância para o processo de socialização. Mas pode acontecer de os pais não gostarem de alguns amigos dos filhos.
Não se pode negar que os adultos podem julgar os outros com mais maturidade do que os jovens e perceber rapidamente alguns aspectos dos relacionamentos que os filhos, de tão envolvidos e interessados em tais vínculos, deixam passar. É assim mesmo, entretanto, que eles aprenderão a selecionar as amizades e a diferenciar amigos com os quais eles podem contar de colegas interessados apenas em compartilhar diversão. Isso leva tempo, e é preciso ter paciência.
Alguns pais acreditam que alguns desses relacionamentos podem ser prejudiciais aos filhos. Nesses casos, é imprescindível alertá-los, porque, conhecedores da opinião dos pais, os filhos podem avaliar melhor as pessoas com quem escolhem conviver. Aparentemente, eles recusam a opinião dos pais porque podem entender que isso nada mais é do que ciúme. E, para falar a verdade, algumas vezes eles têm razão. Mesmo assim, se aprenderam a ouvir e a respeitar o que os pais lhes dizem, uma hora ou outra terão a oportunidade de confirmar -ou não- o que ouviram de seus pais sobre os colegas que escolheram para conviver.
E quando as companhias do filho não respeitam a casa da família? Como os costumes são bem variados de família para família, isso pode acontecer.
Nesse caso, os pais precisam ser firmes: é preciso delegar ao filho a responsabilidade de fazer colegas e amigos se comportarem em sua casa de modo aceitável pela família e exigir que ele dê conta de seu dever.
Não são apenas colegas e amigos que podem influenciar negativamente os filhos adolescentes. Aliás, os jovens estão submetidos a muitas pressões, por isso precisam aprender a avaliar criticamente o que lhes é proposto e imposto.
É a educação que melhor responde a essa questão. Na adolescência, os filhos precisam muito mais da ação educativa e do acompanhamento discreto dos pais do que do controle exercido por eles.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
@ - roselysayao@folhasp.com.br


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