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SAÚDE
Exercícios para os olhos
Espécie de fisioterapia ocular, ortóptica reabilita visão com problemas ou após traumas
JULIANA CALDERARI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há três anos, a tradutora Danielle Macedo, 37, sofreu um
grave acidente de
carro. Entre as sequelas deixadas pelo episódio, teve parte de
seus músculos óticos afetados e
desenvolveu estrabismo. "A
sensação é a de que o músculo
ficou solto. Parecia que com cada olho eu via uma coisa", diz.
Como parte do tratamento
de reabilitação que realiza no
hospital Albert Einstein, em
São Paulo, Danielle faz sessões
semanais de ortóptica, uma espécie de fisioterapia ocular. "O
ortoptista usa aparelhagem e
técnicas específicas para ajudar
o paciente a empregar a visão
que ele tem da melhor maneira
possível", explica Celina Tamaki, ortoptista de Danielle e
membro do Conselho Brasileiro de Ortóptica.
Além de auxiliar em casos
pós-traumáticos, a ortóptica
pode ser usada para tratar pacientes que tiveram a visão afetada após um AVC (acidente
vascular cerebral) ou por doenças como diabetes, câncer e degeneração macular. Ajuda, ainda, a identificar e a tratar anomalias como estrabismos congênitos e visão subnormal. Em
situações que envolvem cirurgias oculares, é usada em avaliações pré e pós-cirúrgicas.
Exercícios
Nas sessões realizadas no
consultório, Tamaki estimula a
visão de Danielle trabalhando
com prismas. Como lição de casa, ela usa um tampão durante
parte do dia e faz exercícios focando seus olhos em dedos e lápis por cerca de dez minutos.
"Estou sentindo uma grande
melhora. Quando olho reto, à
minha frente, já vejo uma imagem só", conta a paciente.
O que pode parecer uma pequena mudança trouxe inúmeros benefícios a Danielle. Focar
os dois olhos na mesma direção
por um tempo permitiu a retomada do trabalho e a ajudou a
realizar algumas atividades básicas, já que, no seu caso, a visão
dupla afeta a percepção de profundidade. "Depois do tratamento, consigo me equilibrar
melhor e andar em linha reta.
Também tenho menos dificuldade para comer e reconheço o
rosto das pessoas. Antes, era só
pela voz", conta.
Embora seja acompanhada
por outros profissionais, Danielle acredita que, sem a ortóptica, não teria tido os mesmo resultados. "Claro que estou melhorando por causa de
todo o tratamento, mas as sessões foram fundamentais."
Em casa e na escola
Quando tinha dois anos,
Karine Alves passou a ter
dores de cabeça e dificuldades para ler.
"Sempre que ela
olhava para algum
lugar, o olho ia para cima, especialmente o esquerdo", conta sua
mãe, Andrea Alves, 31. O oftalmologista diagnosticou
estrabismo e receitou o uso de óculos e um tampão.
Para acompanhar o tratamento, Andrea procurou uma
ortoptista, que avalia regularmente as mudanças
nos olhos de Karine, hoje com sete anos.
"Cerca de 2% das pessoas no
mundo são afetadas pelo estrabismo", diz Tamaki. Segundo
Andrea, foi fácil diagnosticar o
problema porque já havia casos
na família e por sua filha ser
bastante comunicativa.
Muitas vezes, porém, os pais
não conhecem as anomalias
oculares e os filhos não sabem
explicar o que têm. A criança
passa a ter dificuldades na escola e pode receber diagnósticos equivocados, como o de déficit de atenção, ou ser culpada
por mal comportamento. "É
necessário que os pais e os professores sejam orientados a observar sintomas e sinais que
podem ajudar na detecção antecipada de problemas oculares", diz Maria Cecília Lapa, ortoptista da Unifesp e coordenadora do programa assistencial
"Pida Embú", que orienta pais e
professores a notar comportamentos nas crianças como
aproximar demais os objetos
do rosto, espremer os olhos e
coçá-los com frequência.
"É mais fácil reverter algumas situações nos primeiros
anos de vida. Um profissional
sem conhecimento pode achar
que o tampão está atrapalhando e pedir que o tire", exemplifica Lapa. A familiaridade com
o assunto também ajuda a impedir gozações entre as crianças. "Se algum colega da escola
tirar sarro, ela nunca mais vai
querer usar o tampão."
Também há exercícios da ortóptica para quem tem visão
considerada normal. Mesmo
sem uma anomalia aparente, a
convergência entre os olhos
pode não ser perfeita ou o esforço motor pode não estar sincronizado com a percepção visual. "Após realizar alguma atividade que exija muito da visão,
como ler, desenhar ou ficar na
frente do computador, pode
surgir algum desconforto",
afirma Lapa.
Segundo a ortoptista, esse incômodo geralmente surge
quando há mudança de hábitos.
"É comum acontecer com pessoas que vão prestar vestibular
ou algum concurso. Passam a
estudar e a ler muito, então
percebem que não conseguem
se adaptar", afirma.
A ortóptica existe há 60 anos
no Brasil. Segundo o Conselho
Brasileiro de Ortóptica, há cerca de 300 profissionais no país.
Atualmente, existe apenas um
curso superior que oferece a
formação de ortoptista, na universidade do Instituto Brasileiro de Medicina de Reabilitação,
no Rio de Janeiro. "O ortoptista
não é médico nem fisioterapeuta", diz Tamaki.
O trabalho é feito em parceria com o oftalmologista. "Ele
não prescreve medicação nem
faz cirurgias", reforça Lapa.
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