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BEM-ESTAR
No trabalho de parto
Exercitar-se na hora do parto reduz índice de cesáreas, dor e tempo do nascimento
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Praticar exercícios fisioterápicos durante o parto aumenta
a tolerância à dor, reduz o uso
de fármacos e diminui o tempo
até o nascimento do bebê, conclui um estudo feito no Hospital Universitário da USP. Entre
as grávidas que fizeram as atividades, o índice de cesarianas ficou em 11%. A média, na instituição, é de 20%.
No SUS, a taxa de cesáreas é
de 28% e na rede privada e suplementar chega a 90%. A OMS
(Organização Mundial da Saúde) recomenda que o índice seja de, no máximo, 15%.
Na pesquisa, foram avaliadas
132 gestantes do primeiro filho,
com gravidez a termo: 70 foram
acompanhadas por fisioterapeuta e fizeram os exercícios
preconizados no trabalho de
parto e outras 62 tiveram
acompanhamento obstétrico
normal, sem os exercícios. As
gestantes do estudo foram
orientadas a ficar em várias posições, fazer movimentos articulares e pélvicos, relaxamento
do períneo e coordenação do
diafragma.
A fisioterapeuta Eliane Bio,
autora do estudo, diz que, além
da redução do número de cesáreas, os exercícios diminuíram
a dor e a duração do trabalho de
parto -de 11 para 5 horas. "Nenhuma parturiente do nosso
grupo precisou de analgésico."
No grupo controle, 62% usaram drogas de analgesia.
No Brasil, exercícios no trabalho de parto estão restritos
aos poucos centros médicos
que incentivam o parto normal,
mas, em países como a Inglaterra e a Alemanha, vigoram há
mais de 40 anos. Na França, toda grávida é orientada a fazer
ao menos 12 consultas com o fisioterapeuta no pré-natal.
Segundo Bio, os exercícios
remetem à livre movimentação
que, no passado, a mulher tinha
em casa durante o parto. "Temos que estimular as habilidades do corpo da mulher para o
parto, prevenindo traumas no
períneo, levando a uma vivência menos dolorosa, resgatando
a poesia do nascimento."
Segundo ela, os procedimentos fisioterápicos preconizam a
participação da mulher em todo o processo de parto, com a livre escolha de posições durante
as contrações.
O obstetra Artur Dzik, diretor da Sociedade Brasileira de
Reprodução Humana, diz que o
estudo é benfeito (prospectivo,
randomizado e com um número significativo de voluntárias).
"Tudo o que estimula responsavelmente o parto normal é
bem-vindo num país com altíssima incidência de cesárea."
Para ele, o ponto principal do
trabalho foi ter mostrado que o
acompanhamento fisioterápico retarda a necessidade de
analgesia, diminuindo o tempo
do trabalho de parto.
Na opinião de Renato Kalil,
ginecologista e obstetra da Maternidade São Luiz, o mérito do
trabalho de Bio é ter "colocado
no papel" a eficácia dos exercícios. "Minhas pacientes fazem
isso há 22 anos, mas ainda são
exceções. Na maioria dos hospitais, a grávida fica deitada esperando a hora da cesárea."
Ele pondera que o trabalho
não consegue demonstrar de
que forma ocorre o relaxamento provocado pelos exercícios.
"Um médico adepto da cesárea
diria que seria preciso medir os
impulsos elétricos do músculo
para comprovar o relaxamento.
Mas, na prática, sabemos que a
movimentação funciona."
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