São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002
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S.O.S. família

rosely sayão

O Dia das Mães e a festinha na escola

A pesar de o Dia das Mães já ter ocorrido há algum tempo, vou tratar do assunto porque recebi a mensagem de uma mãe reclamando, ou melhor, lamentando um fato ocorrido na escola da filha, que tem menos de seis anos. Todo mundo sabe que essas datas comemorativas são sempre lembradas nas escolas, principalmente nas que trabalham com a educação infantil e com o início do ensino fundamental. Dia das Mães, então, nem se fala, já que, para as crianças menores, essa figura é de grande importância.
Boa parte das escolas explora muito o tema, mas nem sempre do modo mais adequado para as crianças. Muitas delas gastam esforço, tempo e dinheiro preparando apresentações e mimos -que não são feitos pelas crianças- para o aluno presentear a mãe. Apesar do efeito vistoso, não é bom sinal: significa que os profissionais da escola gastam seu tempo, precioso para as crianças, em atividades que excluem suas necessidades educativas.
Bem: a escola que a filha de nossa leitora frequenta avisou, pela agenda, que em um dia próximo ao domingo haveria uma comemoração das crianças, com a presença das mães, às 17h. Acontece que, como a maioria das mulheres, nossa leitora trabalha fora de casa e, nesse horário, estava impedida de sair da empresa. O que aconteceu? A mãe da garota foi chamada às pressas e com urgência pela escola porque a filha estava em prantos por ter ficado sem ela na festinha. Todo mundo pode imaginar os sentimentos que a criança e essa mãe tiveram após o episódio. Depois de conversar com a filha, explicar sua ausência e desculpar-se, a mãe pensou em conversar com a direção da escola para pedir que considerasse os horários de expediente de trabalho das pessoas antes de agendar comemorações e para perguntar se essa é uma medida acertada.
Gostaria de refletir um pouco sobre essas comemorações promovidas por algumas escolas. Muitos pais elogiam essas iniciativas, mas é bom lembrar que nem sempre o objetivo delas visa a criança e a sua educação. Claro que sempre há uma boa intenção por parte dos professores e das escolas, mas há um equívoco muito comum nessa história, que é o de querer agradar os pais dos alunos.
Acontece que essa não é a função primordial da escola. Infelizmente, hoje muitas escolas se enganam em diversas decisões e iniciativas que tomam justamente porque esquecem que seu alvo é o aluno e sua formação e consideram mais importante o que os pais querem e almejam para a vida escolar do filho. E nisso entram desde preocupações com conteúdos do conhecimento e metodologias de aula até formas de conviver e de se relacionar com questões exclusivamente da alçada da escola. É uma pena que isso aconteça, pois quem mais perde com esse tipo de relação entre escola e família é justamente a criança.
Muitas escolas aceitam -de bom grado- a interferência dos pais, acolhem suas expectativas e se organizam em função delas. Muitos pais reclamam quando a escola não os ouve em questões que consideram importantes opinar. Mas o problema é que, dando esse tipo de satisfação aos pais, muitas escolas vão perdendo o eixo principal de seu projeto pedagógico apenas para evitar conflitos com os pais de seus alunos, e acabam transformando-se em uma continuação da família.
Conheço uma escola de educação infantil, em uma cidade do interior de São Paulo, que decidiu não colocar em sua programação algumas comemorações, tais como Dia das Mães, dos Pais etc. Eles têm uma boa argumentação pedagógica para tanto. E todo santo ano a direção da escola recebe uma quantidade considerável de mães e pais que reclamam dessa atitude, que ameaçam tirar o filho da escola para colocá-lo em outra que o faça, que se propõem a ajudar a escola a realizar festas etc. A escola precisa ter muita firmeza e convicção para sustentar sua decisão. Mas nem todas as têm.
Por isso nossa leitora pode questionar a atitude que a escola tomou em relação ao Dia das Mães -e não apenas em relação ao horário da comemoração mas também ao objetivo dela.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br


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