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COMPORTAMENTO
Exercício com modos
Especialistas comentam 13 atitudes que podem tornar desagradável a convivência na academia
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Já não é fácil ir à academia com a periodicidade desejável. Quando os
outros frequentadores
não colaboram, então, a convivência no local pode se tornar
um tormento.
Para o bem de todos, não custa limpar o aparelho depois de
suar nele, guardar os pesos
após o uso e não importunar
quem não está a fim de conversa -comportamentos que parecem básicos, mas nem sempre são colocadas em prática, a
julgar pelas reclamações de frequentadores que conversaram
com a Folha.
"A academia precisa ser um
lugar harmonioso. Depois do
emprego, é nossa terceira casa,
pois a maioria das pessoas treina quase todo dia", diz a empresária Trika Lopes, 28, que
malha há 14 anos.
Para a consultora de etiqueta
Lígia Marques, é possível estabelecer regras de conduta nesse ambiente, e os profissionais
das academias devem intervir,
"com jeito e educação", quando
alguém as desrespeita. "As academias recebem pessoas com
todos os perfis. Quem não aceitar as regras deve ser excluído
do quadro de sócios, para o
bem da imagem da academia e
para o conforto dos outros."
Na academia 4Fit, em São
Paulo, há um regulamento impresso, entregue no primeiro
dia. "Depois de um tempo, as
atitudes se tornam automáticas", diz Dênis di Loreto, coordenador de musculação.
Nas academias Reebok, a
orientação é dada oralmente
ou através de placas -"sempre
de forma sutil", diz Cristiane
Alexandre, gerente técnica. "Os
professores trabalham de forma educativa, para que o aluno
não se sinta repreendido."
Assim, recorre-se aos dizeres
"Reserve esta hora do dia só para você: desligue o celular" em
vez de proibir o aparelho. Para
evitar demora no chuveiro, pede-se que se pense no meio ambiente antes de desperdiçar
água e assim por diante.
Dudu Neto, diretor técnico
da rede de academias Fórmula/A!Body Tech, lembra que,
quando o aluno não ajuda, sobra para o professor ou para a
equipe de limpeza. "Acabamos
tendo que botar mais gente para trabalhar, pois tem que ficar
alguém de cinco em cinco minutos ajudando na manutenção do aparelho, por exemplo."
Foi por essas e outras que o
estudante Guilherme Gonçalves, 22, desistiu de frequentar a
academia após um ano. "Não
gostei da atmosfera. Eu estava
começando, era magro, as pessoas ficavam competindo entre
si, reparando nos outros." Hoje, ele faz exercícios em casa.
Para Trika Lopes, algumas
coisas devem ser relevadas. "A
maioria das situações eu vou
levando, porque, se for levar
tudo a sério, fica difícil treinar
diariamente."
Deixar pesos e colchonetes espalhados
A atitude deixa o ambiente
desorganizado e pode fazer
com que um frequentador
precise percorrer toda a academia até encontrar um peso que usa. A auxiliar administrativa Andrea Queiroz,
22, que malha há cinco anos
"praticamente sete dias na
semana", diz que já reclamou do problema com o proprietário da academia que
frequenta. "Mostra muita
falta de educação."
Mas há situações em que
esse descaso atrapalha ainda
mais: nos aparelhos que exigem a colocação de anilhas
de pesos variados, não recolhê-las após se exercitar pode obrigar a próxima pessoa,
que nem sempre tem a mesma estrutura física, a levantar um peso desnecessário.
"A pessoa pode ter que fazer
um grande esforço para retirar as anilhas, o que a deixa
mais susceptível a se machucar", diz Cristiane Alexandre, da Reebok.
Usar perfume forte
Não ache que exagerar
no perfume vai disfarçar o
cheiro do suor. Você acabará criando outro problema para os demais frequentadores.
Se em qualquer lugar já
é desagradável sentir um
perfume muito forte, na
academia pode ser ainda
pior, pois o cheiro acaba se
misturando ao da transpiração. "Perfume, assim como maquiagem, é totalmente inadequado na academia", diz Lígia Marques.
Além do perfume, hidratantes com cheiro muito proeminente também
incomodam Trika Lopes.
"Tenho rinite. Em outro
ambiente, saio de perto da
pessoa. Na academia não
tem jeito. O cheiro invade
o espaço do outro."
Andrea Queiroz diz que
o proprietário da academia que frequenta falou
sobre o tema numa palestra sobre dicas de comportamento. "Algumas pessoas tinham passado mal
por causa da mistura de
suor, calor e perfume."
Monopolizar o equipamento
Esse é um item polêmico.
Para os representantes de
academias, o ideal é revezar
nos horários de pico -deixar que outra pessoa use o
aparelho enquanto você
descansa entre as séries.
Mas muitos alunos não
gostam disso -seja porque
precisarão mudar a carga do
aparelho, seja porque deixarão de cumprir o tempo de
descanso cronometrado.
Andrea Queiroz, por exemplo, para por até 60 segundos. "Nesse ponto sou egoísta. Não gosto de revezar."
Dudu Neto vê diferenças entre as academias de diferentes cidades. "No Rio, é muito
comum revezar. Em São
Paulo, as pessoas não têm
esse hábito."
Na 4Fit e na Reebok, a recomendação é revezar.
"Tem gente que faz cara feia,
mas tentamos orientar", diz
Dênis di Loreto.
E atenção: cuidado para
não ficar no aparelho mais
tempo do que o necessário,
falando ao celular ou conversando, por exemplo.
Monopolizar o espelho
O espelho está lá para
que as pessoas se olhem,
mas cuidado para não exagerar e esquecer que está
em um lugar público. Admirar detalhadamente os
bíceps trabalhados ou os
glúteos torneados pode
até não incomodar, mas
pode fazer com que você
se torne alvo de chacota.
"Esse é o frequentador
narcisista. Mais que mal
educado, ele acaba virando
piada", afirma Lígia Marques. A dica? "Deixe para
se autoadmirar em casa."
A técnica de enfermagem Selene Costa, 27, que
faz exercícios há dois anos,
afirma se tratar de uma
atitude principalmente
masculina. "Dizem que a
mulher adora um espelho.
Mas, na academia, são os
caras que adoram. Eles
acabam de treinar e já
olham se o músculo deu
uma inchadinha", afirma.
Para Dudu Neto, é importante não monopolizar
o espelho nas aulas de ginástica. "Já vi gente sair
no tapa por causa disso."
Suar no espelho e não limpá-lo
Esse foi um dos campeões
de reclamações. Levar uma
toalha para se secar ajuda a
evitar que as gotas de suor
caiam no aparelho. Mas, se
isso acontecer, não deixe de
limpar. Hoje, muitas academias oferecem papel-toalha
e álcool em gel para esse fim.
"Não limpar é uma falta de
consideração com as outras
pessoas. Se estamos distraídos, acabamos mergulhando
no suor alheio, o que é péssimo. Não custa levar uma toalhinha", diz Trika Lopes.
Para Guilherme Gonçalves, o pior é quando se trata
de um banco em que é preciso deitar. "Deitar num estofado molhado é nojento."
Segundo Dudu Neto, em
outros países, como nos
EUA, a toalha é obrigatória.
"No Brasil não existe essa
cultura, por mais que a gente
fale. Em cidades quentes, como o Rio, seria fundamental.
Já tentamos dar toalhas, mas
o aluno leva só uma vez."
Dar palpite no treino alheio
Mesmo que você seja formado em educação física,
contenha-se e lembre-se de
que seu papel não é ser professor dos colegas de academia. "É como acontece com
o técnico de futebol. Todo
mundo quer dar palpite, especialmente os alunos mais
antigos", diz Dudu Neto.
Andrea Queiroz já passou
por isso várias vezes, a última delas no início do mês.
Uma mulher a "torturou"
por uma hora, tentando convencê-la a não colocar muito
peso no exercício de ombro.
"Ela grudou em mim. Dizia que eu poderia ficar igual
ao Alexandre Frota, que eu
era feminina, ficaria feia com
os braços definidos", conta.
Cristiane Alexandre, da
Reebok, diz que, se os instrutores perceberem algo do tipo, devem sempre interferir.
"Dentro da academia, a pessoa está sob a nossa supervisão. Se fizer alguma coisa errada, pode se machucar."
Exagerar na paquera
"Quando a gente vai
suar juntos?" Foi o que Selene Costa teve que ouvir
de um frequentador da
academia onde se exercitava. "Fiquei sem graça,
porque sou tímida, mas saí
de perto rindo", lembra.
Assim como há muita
gente que faça amizades
na academia, há quem inclusive encontre um parceiro nesse ambiente. Mas
cuidado com olhares exagerados ou abordagens inconvenientes.
Cristiane Alexandre, da
Reebok, conta que o maior
problema acontece quando um casal malha junto e
um dos cônjuges percebe
que o parceiro está sendo
paquerado por alguém.
Ela, inclusive, já recebeu
uma reclamação desse tipo. "Quando a pessoa está
sozinha, já sabe que academia tem dessas coisas e
acaba tirando de letra.
Mas, quando o parceiro está lá, é mais complicado."
Insistir conversar com quem não está a fim
Há quem encare a academia como um espaço privilegiado de socialização
-muitos se concentram
mais nisso do que no treino.
"Tem gente que vem mais
interessado no blablablá,
em conhecer gente nova,
passar o tempo", diz Dênis
di Loreto.
Mas há, também, quem
queira apenas se concentrar
no exercício. "Já tenho o
tempo contado para a academia. Se ficar conversando, acabo não treinando",
conta Andrea Queiroz.
A solução encontrada por
ela para não ser incomodada
é muito comum, segundo os
profissionais de academias:
malhar com o tocador de
MP3. "Às vezes eu nem estou ouvindo nada, mas fico
com o fone", confessa.
Guilherme Gonçalves diz
que o pior é ser interrompido no meio do exercício. "A
pessoa começa a conversar e
você, que está contando o
exercício, perde o número e
o fôlego. E tem que disfarçar
para não ser mal educado."
Falar muito alto ao celular
Errado na academia e
em qualquer local. "Ninguém precisa saber de
seus assuntos particulares. Tocou, interrompa o
exercício e vá falar em algum canto reservado", diz
Lígia Marques.
Além de tirar a concentração de outras pessoas, a
atitude pode até atrapalhar o exercício. "Tem aluno que se distrai mandando mensagem o tempo todo, o que pode atrapalhar
o treino. Até a pausa entre
os exercícios muitas vezes
tem um tempo determinado", afirma Dênis di Loreto, da 4Fit.
Cristiane Alexandre, da
Reebok, afirma que quem
se concentra no exercício
obtém mais resultados.
Nas aulas de ginástica
em grupo, a interrupção
gera reclamações não só
por parte dos alunos como
do professor, diz Dudu Neto, da Fórmula/A!Body
Tech. "Atrapalha o andamento das aulas, que são
coletivas", afirma.
Entrar na piscina sem tomar ducha
Mais do que uma questão
de etiqueta, trata-se de uma
atitude básica para manter a
higiene. Apesar de as piscinas terem tratamento para
evitar contaminação, cada
um tem que fazer sua parte.
Para a consultora Lígia
Marques, a atitude é pior do
que deixar os aparelhos sujos de suor. "Imagine a quantidade de bactérias numa
água dessas se ninguém tiver
o bom senso de tomar uma
ducha antes?"
Na 4Fit, a recomendação
está no regulamento. "Cada
um tem uma vida fora da
academia. Há quem chegue
direto do trabalho, suado, ou
mulheres que chegam cheias
de creme hidratante. Precisa
passar na ducha antes", diz
Dênis di Loreto.
Segundo Cristiane Alexandre, a Reebok vem apertando o cerco nesse quesito,
pois vários alunos não seguem a orientação. "Mudamos o chuveiro de lugar para
não ter desculpa de que ficava longe da piscina."
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