São Paulo, quinta-feira, 23 de julho de 2009
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMPORTAMENTO

Exercício com modos

Especialistas comentam 13 atitudes que podem tornar desagradável a convivência na academia

FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO

Já não é fácil ir à academia com a periodicidade desejável. Quando os outros frequentadores não colaboram, então, a convivência no local pode se tornar um tormento.
Para o bem de todos, não custa limpar o aparelho depois de suar nele, guardar os pesos após o uso e não importunar quem não está a fim de conversa -comportamentos que parecem básicos, mas nem sempre são colocadas em prática, a julgar pelas reclamações de frequentadores que conversaram com a Folha.
"A academia precisa ser um lugar harmonioso. Depois do emprego, é nossa terceira casa, pois a maioria das pessoas treina quase todo dia", diz a empresária Trika Lopes, 28, que malha há 14 anos.
Para a consultora de etiqueta Lígia Marques, é possível estabelecer regras de conduta nesse ambiente, e os profissionais das academias devem intervir, "com jeito e educação", quando alguém as desrespeita. "As academias recebem pessoas com todos os perfis. Quem não aceitar as regras deve ser excluído do quadro de sócios, para o bem da imagem da academia e para o conforto dos outros."
Na academia 4Fit, em São Paulo, há um regulamento impresso, entregue no primeiro dia. "Depois de um tempo, as atitudes se tornam automáticas", diz Dênis di Loreto, coordenador de musculação.
Nas academias Reebok, a orientação é dada oralmente ou através de placas -"sempre de forma sutil", diz Cristiane Alexandre, gerente técnica. "Os professores trabalham de forma educativa, para que o aluno não se sinta repreendido."
Assim, recorre-se aos dizeres "Reserve esta hora do dia só para você: desligue o celular" em vez de proibir o aparelho. Para evitar demora no chuveiro, pede-se que se pense no meio ambiente antes de desperdiçar água e assim por diante.
Dudu Neto, diretor técnico da rede de academias Fórmula/A!Body Tech, lembra que, quando o aluno não ajuda, sobra para o professor ou para a equipe de limpeza. "Acabamos tendo que botar mais gente para trabalhar, pois tem que ficar alguém de cinco em cinco minutos ajudando na manutenção do aparelho, por exemplo."
Foi por essas e outras que o estudante Guilherme Gonçalves, 22, desistiu de frequentar a academia após um ano. "Não gostei da atmosfera. Eu estava começando, era magro, as pessoas ficavam competindo entre si, reparando nos outros." Hoje, ele faz exercícios em casa.
Para Trika Lopes, algumas coisas devem ser relevadas. "A maioria das situações eu vou levando, porque, se for levar tudo a sério, fica difícil treinar diariamente."

Deixar pesos e colchonetes espalhados

A atitude deixa o ambiente desorganizado e pode fazer com que um frequentador precise percorrer toda a academia até encontrar um peso que usa. A auxiliar administrativa Andrea Queiroz, 22, que malha há cinco anos "praticamente sete dias na semana", diz que já reclamou do problema com o proprietário da academia que frequenta. "Mostra muita falta de educação."
Mas há situações em que esse descaso atrapalha ainda mais: nos aparelhos que exigem a colocação de anilhas de pesos variados, não recolhê-las após se exercitar pode obrigar a próxima pessoa, que nem sempre tem a mesma estrutura física, a levantar um peso desnecessário. "A pessoa pode ter que fazer um grande esforço para retirar as anilhas, o que a deixa mais susceptível a se machucar", diz Cristiane Alexandre, da Reebok.

Usar perfume forte

Não ache que exagerar no perfume vai disfarçar o cheiro do suor. Você acabará criando outro problema para os demais frequentadores.
Se em qualquer lugar já é desagradável sentir um perfume muito forte, na academia pode ser ainda pior, pois o cheiro acaba se misturando ao da transpiração. "Perfume, assim como maquiagem, é totalmente inadequado na academia", diz Lígia Marques.
Além do perfume, hidratantes com cheiro muito proeminente também incomodam Trika Lopes. "Tenho rinite. Em outro ambiente, saio de perto da pessoa. Na academia não tem jeito. O cheiro invade o espaço do outro."
Andrea Queiroz diz que o proprietário da academia que frequenta falou sobre o tema numa palestra sobre dicas de comportamento. "Algumas pessoas tinham passado mal por causa da mistura de suor, calor e perfume."

Monopolizar o equipamento

Esse é um item polêmico. Para os representantes de academias, o ideal é revezar nos horários de pico -deixar que outra pessoa use o aparelho enquanto você descansa entre as séries.
Mas muitos alunos não gostam disso -seja porque precisarão mudar a carga do aparelho, seja porque deixarão de cumprir o tempo de descanso cronometrado. Andrea Queiroz, por exemplo, para por até 60 segundos. "Nesse ponto sou egoísta. Não gosto de revezar." Dudu Neto vê diferenças entre as academias de diferentes cidades. "No Rio, é muito comum revezar. Em São Paulo, as pessoas não têm esse hábito."
Na 4Fit e na Reebok, a recomendação é revezar. "Tem gente que faz cara feia, mas tentamos orientar", diz Dênis di Loreto.
E atenção: cuidado para não ficar no aparelho mais tempo do que o necessário, falando ao celular ou conversando, por exemplo.

Monopolizar o espelho

O espelho está lá para que as pessoas se olhem, mas cuidado para não exagerar e esquecer que está em um lugar público. Admirar detalhadamente os bíceps trabalhados ou os glúteos torneados pode até não incomodar, mas pode fazer com que você se torne alvo de chacota.
"Esse é o frequentador narcisista. Mais que mal educado, ele acaba virando piada", afirma Lígia Marques. A dica? "Deixe para se autoadmirar em casa."
A técnica de enfermagem Selene Costa, 27, que faz exercícios há dois anos, afirma se tratar de uma atitude principalmente masculina. "Dizem que a mulher adora um espelho. Mas, na academia, são os caras que adoram. Eles acabam de treinar e já olham se o músculo deu uma inchadinha", afirma.
Para Dudu Neto, é importante não monopolizar o espelho nas aulas de ginástica. "Já vi gente sair no tapa por causa disso."

Suar no espelho e não limpá-lo

Esse foi um dos campeões de reclamações. Levar uma toalha para se secar ajuda a evitar que as gotas de suor caiam no aparelho. Mas, se isso acontecer, não deixe de limpar. Hoje, muitas academias oferecem papel-toalha e álcool em gel para esse fim.
"Não limpar é uma falta de consideração com as outras pessoas. Se estamos distraídos, acabamos mergulhando no suor alheio, o que é péssimo. Não custa levar uma toalhinha", diz Trika Lopes.
Para Guilherme Gonçalves, o pior é quando se trata de um banco em que é preciso deitar. "Deitar num estofado molhado é nojento."
Segundo Dudu Neto, em outros países, como nos EUA, a toalha é obrigatória. "No Brasil não existe essa cultura, por mais que a gente fale. Em cidades quentes, como o Rio, seria fundamental. Já tentamos dar toalhas, mas o aluno leva só uma vez."

Dar palpite no treino alheio

Mesmo que você seja formado em educação física, contenha-se e lembre-se de que seu papel não é ser professor dos colegas de academia. "É como acontece com o técnico de futebol. Todo mundo quer dar palpite, especialmente os alunos mais antigos", diz Dudu Neto.
Andrea Queiroz já passou por isso várias vezes, a última delas no início do mês. Uma mulher a "torturou" por uma hora, tentando convencê-la a não colocar muito peso no exercício de ombro.
"Ela grudou em mim. Dizia que eu poderia ficar igual ao Alexandre Frota, que eu era feminina, ficaria feia com os braços definidos", conta.
Cristiane Alexandre, da Reebok, diz que, se os instrutores perceberem algo do tipo, devem sempre interferir. "Dentro da academia, a pessoa está sob a nossa supervisão. Se fizer alguma coisa errada, pode se machucar."

Exagerar na paquera

"Quando a gente vai suar juntos?" Foi o que Selene Costa teve que ouvir de um frequentador da academia onde se exercitava. "Fiquei sem graça, porque sou tímida, mas saí de perto rindo", lembra.
Assim como há muita gente que faça amizades na academia, há quem inclusive encontre um parceiro nesse ambiente. Mas cuidado com olhares exagerados ou abordagens inconvenientes.
Cristiane Alexandre, da Reebok, conta que o maior problema acontece quando um casal malha junto e um dos cônjuges percebe que o parceiro está sendo paquerado por alguém.
Ela, inclusive, já recebeu uma reclamação desse tipo. "Quando a pessoa está sozinha, já sabe que academia tem dessas coisas e acaba tirando de letra. Mas, quando o parceiro está lá, é mais complicado."

Insistir conversar com quem não está a fim

Há quem encare a academia como um espaço privilegiado de socialização -muitos se concentram mais nisso do que no treino. "Tem gente que vem mais interessado no blablablá, em conhecer gente nova, passar o tempo", diz Dênis di Loreto.
Mas há, também, quem queira apenas se concentrar no exercício. "Já tenho o tempo contado para a academia. Se ficar conversando, acabo não treinando", conta Andrea Queiroz.
A solução encontrada por ela para não ser incomodada é muito comum, segundo os profissionais de academias: malhar com o tocador de MP3. "Às vezes eu nem estou ouvindo nada, mas fico com o fone", confessa.
Guilherme Gonçalves diz que o pior é ser interrompido no meio do exercício. "A pessoa começa a conversar e você, que está contando o exercício, perde o número e o fôlego. E tem que disfarçar para não ser mal educado."

Falar muito alto ao celular

Errado na academia e em qualquer local. "Ninguém precisa saber de seus assuntos particulares. Tocou, interrompa o exercício e vá falar em algum canto reservado", diz Lígia Marques.
Além de tirar a concentração de outras pessoas, a atitude pode até atrapalhar o exercício. "Tem aluno que se distrai mandando mensagem o tempo todo, o que pode atrapalhar o treino. Até a pausa entre os exercícios muitas vezes tem um tempo determinado", afirma Dênis di Loreto, da 4Fit.
Cristiane Alexandre, da Reebok, afirma que quem se concentra no exercício obtém mais resultados.
Nas aulas de ginástica em grupo, a interrupção gera reclamações não só por parte dos alunos como do professor, diz Dudu Neto, da Fórmula/A!Body Tech. "Atrapalha o andamento das aulas, que são coletivas", afirma.

Entrar na piscina sem tomar ducha

Mais do que uma questão de etiqueta, trata-se de uma atitude básica para manter a higiene. Apesar de as piscinas terem tratamento para evitar contaminação, cada um tem que fazer sua parte.
Para a consultora Lígia Marques, a atitude é pior do que deixar os aparelhos sujos de suor. "Imagine a quantidade de bactérias numa água dessas se ninguém tiver o bom senso de tomar uma ducha antes?"
Na 4Fit, a recomendação está no regulamento. "Cada um tem uma vida fora da academia. Há quem chegue direto do trabalho, suado, ou mulheres que chegam cheias de creme hidratante. Precisa passar na ducha antes", diz Dênis di Loreto.
Segundo Cristiane Alexandre, a Reebok vem apertando o cerco nesse quesito, pois vários alunos não seguem a orientação. "Mudamos o chuveiro de lugar para não ter desculpa de que ficava longe da piscina."



Texto Anterior: Relação sexual favorece cistite entre mulheres
Próximo Texto: Os 3 pecados do vestiário
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.