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s.o.s. família
rosely sayão
As tarefas que a escola não cumpre
A relação entre a escola e os pais de seus alunos anda, de um modo geral, bastante
tensa. Professores, de um lado, reclamam das atitudes dos pais e estes, por sua vez,
se sentem muito descontentes com a atuação das escolas diante das dificuldades que os
filhos apresentam no espaço escolar.
Por diversas vezes nestas nossas conversas, já afirmei que, para que a escola possa
cumprir bem e com competência seu papel educativo com os alunos, é preciso que os
pais deleguem a ela a educação de seus filhos. OK, delegar é preciso, e os pais têm tentado -não sem alguma relutância e um certo sofrimento- não interferir nas responsabilidades que cabe aos profissionais da escola
desempenhar. Mas, quando os pais percebem
que a escola não está cumprindo a contento seu
papel, é chegada a hora de rodar a baiana.
Muitos pais têm relatado, pessoalmente ou
por correspondência, fatos bem desagradáveis
que têm enfrentado na relação com a escola
-particular, é bom frisar- dos filhos; além
disso, estranham também o comportamento
que alguns professores adotam diante aos alunos. O pior é que os pais ficam sem saída, pois
percebem que se trata de prática comum quase
à maioria das escolas e não sabem como enfrentar essas situações. Veja alguns exemplos.
Os pais de um garoto de cinco anos foram, por
diversas vezes, convocados pela escola que o filho freqüenta a comparecer à reunião com a
professora e a orientadora. Da última vez, ele
desabafou: "Toda vez é a mesma coisa: elas dizem que meu filho não se concentra, que não faz
a lição de casa e que nós precisamos colaborar
para que ele seja um bom aluno. Cansei minha
beleza com essa lengalenga. Até parece que a escola não sabe o que fazer com os alunos e, por isso, chama os pais".
Devo concordar com esse pai. Quando não dá
conta do que é da sua competência e chama os
pais procurando responsabilizá-los, a escola
mostra toda a sua fragilidade na prática do seu
ofício. Lição de casa e aluno desatento em sala
de aula são problemas para a escola resolver. Se
considerarmos que só os alunos que são acompanhados pelos pais em suas tarefas escolares
em casa terão bom aproveitamento no aprendizado, estaremos destinando a escola a poucos,
não é verdade? Outro exemplo incrível da incompetência escolar: os pais de um garoto de
quatro anos receberam o convite para transferir
o filho para outra escola. Motivo alegado pela
escola: o garoto é um aluno que não se adapta a
regras. Ora, ora, ora! Uma escola que espera que
uma criança de quatro anos aprenda as regras
de convivência na escola e simplesmente as
cumpra não sabe o que faz nem tem a mínima
idéia do comportamento infantil.
Um último exemplo: um professor de língua
portuguesa da sexta série -alunos por volta dos
11 ou 12 anos- deu como tarefa aos alunos a
conjugação de alguns verbos. Quais? Cito alguns
deles: amar, beijar, ficar, chupar, trepar. Não é
preciso comentar mais nada, concordam?
Em todos esses exemplos, os pais deveriam rodar a baiana em alto estilo com a escola. Mas há
um problema: nessa relação escola-pais, os últimos saem perdendo. Trata-se de uma relação de
poder desigual, já que a escola é uma instituição
estruturada e os pais são uma multidão desgovernada que acaba focando as questões em cada
filho.
Talvez os pais devam pensar em formar associações para que possam, de modo mais organizado, contestar, questionar e cobrar da escola
que ela faça o que deveria saber fazer com maestria. Desse modo, a escola poderia ser mais bem
interpelada e, assim -quem sabe?- corrigir
seus rumos e refletir um pouco mais sobre as
ações que pratica.
Esse pode ser um caminho novo e interessante
nessa relação tão tumultuada e problemática
que é a relação dos pais com a escola e pode render bons frutos a quem mais interessa: os alunos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu
Filho?" (Publifolha); e-mail: roselys@uol.com.br
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